HHS, Robert F. Kennedy Jr.

FDA Anuncia Eliminação Gradual de Corantes Sintéticos à Base de Petróleo nos Alimentos dos EUA

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS) e a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) anunciaram em 22 de abril de 2025 uma série de medidas para eliminar gradualmente todos os corantes sintéticos à base de petróleo do suprimento alimentar do país. Esta iniciativa representa um marco significativo na agenda “Make America Healthy Again” (Tornando a América Saudável Novamente) promovida pelo Secretário do HHS, Robert F. Kennedy Jr.

Plano de Transição para Alternativas Naturais

A FDA estabeleceu uma estratégia abrangente que inclui o estabelecimento de um padrão nacional e um cronograma para a indústria alimentícia fazer a transição de corantes à base de petroquímicos para alternativas naturais. O processo começará com a revogação da autorização de dois corantes alimentares sintéticos – Citrus Red No. 2 e Orange B – nos próximos meses.

A agência trabalhará em colaboração com a indústria para eliminar seis corantes sintéticos adicionais amplamente utilizados: FD&C Green No. 3, FD&C Red No. 40, FD&C Yellow No. 5, FD&C Yellow No. 6, FD&C Blue No. 1 e FD&C Blue No. 2. A meta é completar esta transição até o final de 2026. Adicionalmente, a FDA solicitou que as empresas de alimentos removam o FD&C Red No. 3 mais rapidamente do que o prazo de 2027-2028 anteriormente estabelecido.

“Para os últimos 50 anos, as crianças americanas têm vivido em uma ‘sopa tóxica’ de produtos químicos sintéticos”, afirmou o Comissário da FDA, Dr. Marty Makary, observando que outros países ao redor do mundo não são tão permissivos com os ingredientes permitidos em seus alimentos como os EUA.

Justificativas Científicas e Preocupações com a Saúde

Durante a coletiva de imprensa, Makary citou estudos científicos que levantam preocupações sobre a correlação entre corantes sintéticos à base de petróleo e diversas condições de saúde. “A comunidade científica conduziu vários estudos levantando preocupações sobre a correlação entre corantes sintéticos à base de petróleo e várias condições de saúde, incluindo transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), obesidade, diabetes, resistência à insulina, câncer, disrupção genômica, problemas gastrointestinais e reações alérgicas… Então, por que estamos arriscando?”.

O Dr. Makary fez referência a um estudo publicado em 2007 na renomada revista médica europeia The Lancet, que estabeleceu uma conexão entre corantes alimentares e hiperatividade. Outras pesquisas, como uma revisão publicada em 2012, vincularam o corante vermelho 40 a múltiplos tipos de câncer, enquanto testes da FDA realizados no início da década de 1990 concluíram que alguns lotes dos corantes amarelo 5 e amarelo 6 foram contaminados com carcinógenos como a benzidina.

Estudos adicionais mencionados pelo comissário incluem evidências de que o corante vermelho 40 interrompeu o metabolismo da glicose em ratos, o amarelo 5 causou perturbações no DNA em células sanguíneas humanas, e o vermelho 40 provocou colite em camundongos.

Acelerar a Disponibilidade de Alternativas Naturais

Para facilitar esta transição, a FDA está acelerando a aprovação de aditivos de cores naturais. A agência planeja autorizar quatro novos aditivos de cores naturais nas próximas semanas e está agilizando a revisão e aprovação de outros, incluindo fosfato de cálcio, extrato azul de Galdieria, azul de gardênia e extrato de flor de ervilha borboleta.

Adicionalmente, a FDA estabelecerá uma parceria com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) para conduzir pesquisas abrangentes sobre como os aditivos alimentares impactam a saúde e o desenvolvimento das crianças. Esta colaboração visa fortalecer a capacidade da FDA de desenvolver políticas alimentares baseadas em evidências e apoiar uma América mais saudável.

Harmonização Regulatória e Desafios da Implementação

Esta iniciativa federal surge em um momento em que vários estados americanos já começaram a implementar suas próprias proibições de corantes alimentares sintéticos. No início de 2025, a Virgínia Ocidental tornou-se o primeiro estado a proibir a maioria dos corantes alimentares sintéticos, citando riscos à saúde neurodegenerativa das crianças. Mais de 24 outros estados estão considerando legislação semelhante.

Imagem lado a lado do Secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. e do Comissário da Administração de Alimentos e Medicamentos Marty Makary. (Getty Images

“Passamos a lei na Virgínia Ocidental porque pensamos que nossas crianças e nossos cidadãos merecem algo melhor … Eles merecem comida real, não atalhos químicos projetados para enganar o olho, mas prejudicar o corpo”

Governador Patrick Morrisey durante a coletiva de imprensa da FDA

Entretanto, a abordagem voluntária da FDA gerou críticas de alguns grupos de consumidores. Peter Lurie, presidente do Centro para Ciência no Interesse Público, expressou ceticismo: “A história nos diz que confiar no cumprimento voluntário da indústria alimentícia muitas vezes provou ser uma missão tola”.

Impactos na Indústria e Desafios Técnicos

A transição de corantes sintéticos para alternativas naturais apresenta desafios significativos para a indústria alimentícia. A National Confectioners Association, representando os fabricantes de doces, afirmou que os corantes alimentares à base de petróleo são seguros e que, em muitos casos, substituições não estão imediatamente disponíveis.

Um aspecto particularmente desafiador é a formulação de corantes azuis naturais estáveis. Comentários em fóruns de discussão destacam a dificuldade que empresas como a Mars enfrentaram ao tentar criar M&Ms azuis usando corantes naturais.

Para ser eficaz, os substitutos naturais devem ser estáveis sob calor e diferentes níveis de pH, possuir uma vida útil razoável, e estar disponíveis em quantidade suficiente para atender às demandas dos fabricantes. Além disso, é importante que essas cores naturais não carreguem o sabor de sua fonte, como spirulina, beterraba ou cenoura.

Corantes Sintéticos versus Alternativas Naturais

O debate sobre corantes alimentares sintéticos versus naturais ocorre paralelamente a discussões mais amplas sobre materiais à base de petróleo versus biopolímeros em embalagens de alimentos. Pesquisas recentes têm explorado o uso de biopolímeros e materiais biodegradáveis como alternativas às embalagens tradicionais à base de petróleo, motivadas por preocupações ambientais e de saúde.

Um estudo publicado em 2021 destacou que o objetivo final das novas tecnologias de embalagem de alimentos, além de manter a qualidade e segurança dos alimentos para o consumidor, é considerar as preocupações ambientais e reduzir seus impactos. Outro estudo de 2022 investigou o uso de bioensaios in vitro para orientar o desenvolvimento de polímeros de base biológica mais seguros para uso em embalagens de alimentos.

A iniciativa da FDA para eliminar gradualmente os corantes sintéticos à base de petróleo do suprimento alimentar americano representa uma mudança significativa na regulamentação alimentar dos EUA. Embora a motivação primária seja a proteção da saúde, especialmente das crianças, a iniciativa também reflete tendências globais mais amplas em direção a ingredientes mais naturais e práticas sustentáveis.

O sucesso desta iniciativa dependerá da capacidade da indústria alimentícia de desenvolver e implementar alternativas viáveis, da eficácia do apoio regulatório da FDA e do engajamento contínuo dos consumidores e grupos de defesa. À medida que esta transição avança, será essencial monitorar tanto os benefícios à saúde quanto os possíveis custos e desafios técnicos envolvidos na substituição destes corantes amplamente utilizados.

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Referências

  1. EUA planejam eliminar corantes artificiais de alimentos até 2026 – Poder360
  2. EUA vão eliminar corantes utilizados em salgadinhos e balas – InfoMoney
  3. FDA vai eliminar corantes sintéticos do suprimento alimentar dos EUA – Investing.com
  4. EUA proibirá corantes alimentícios artificiais antes do fim de 2026 – UOL
  5. EUA proibirão corantes alimentícios artificiais antes do fim de 2026 – O Globo
  6. Proibições de corantes alimentares artificiais nos EUA e em outros países – Food Safety Brazil
Revisão da Regulamentação da ANVISA sobre Rotulagem de Alimentos Alergênicos: Análise das Propostas para 2025

Revisão da Regulamentação da ANVISA sobre Rotulagem de Alimentos Alergênicos: Análise das Propostas para 2025

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está conduzindo uma revisão abrangente da regulamentação sobre rotulagem de alimentos alergênicos no Brasil, com o objetivo de atualizar as normas de acordo com os recentes avanços do Codex Alimentarius e aprimorar a proteção à saúde das pessoas com alergias alimentares. Este processo é parte do tema 3.23 da Agenda Regulatória 2024/2025 e visa aperfeiçoar aspectos como a lista de alimentos alergênicos, os critérios para isenção de derivados, e os requisitos de legibilidade das advertências.

Histórico da Regulamentação de Alimentos Alergênicos no Brasil

As ações da ANVISA para regulamentar a rotulagem de alimentos alergênicos começaram em 2011, quando o Brasil submeteu uma proposta ao Mercosul para revisão do Regulamento Técnico sobre rotulagem geral de alimentos embalados. Diante do avanço limitado nas negociações e do crescimento da demanda por regras claras no país, a agência optou por desenvolver uma regulamentação nacional.

Após consultas públicas e audiências realizadas em 2014 e 2015, foi publicada a RDC nº 26/2015, que estabeleceu os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos causadores de alergias. Posteriormente, essa norma foi revisada e consolidada com outros atos de rotulagem, resultando na atual RDC nº 727/2022, sem alterações significativas de mérito.

A elaboração da lista de alimentos alergênicos foi baseada nas recomendações do Codex Alimentarius, considerando também referências de outros países para detalhar as oleaginosas alergênicas. Além disso, o látex natural foi incluído na lista devido à Lei nº 12.849/2013, que determina a advertência sobre sua presença em embalagens.

A Regulamentação Atual e seus Principais Aspectos

A RDC nº 727/2022 estabelece três tipos de informações sobre alergênicos na rotulagem: advertências sobre presença intencional, advertências sobre possibilidade de contaminação cruzada, e informações sobre ausência de alergênicos. Esta última é restrita aos casos em que há critérios estabelecidos em regulamentos específicos, visando proteger a saúde de consumidores mais sensíveis.

A lista atual de alimentos considerados alergênicos inclui trigo, centeio, cevada, aveia e suas estirpes hibridizadas; crustáceos; ovos; peixes; amendoim; soja; leites de todas as espécies de animais mamíferos; e diversas oleaginosas como amêndoa, avelãs, castanha-de-caju, castanha-do-brasil, macadâmias, nozes, pecãs, pistaches e pinoli.

As advertências devem iniciar com o termo “ALÉRGICOS” e especificar os nomes comuns dos alimentos, facilitando o reconhecimento pelos consumidores sensíveis. Quanto à legibilidade, as advertências devem estar agrupadas imediatamente após ou abaixo da lista de ingredientes, em caixa alta, negrito, com cor contrastante com o fundo do rótulo e altura mínima de 2 milímetros.

Avanços do Codex Alimentarius e a Necessidade de Revisão

Em 2024, o Codex Alimentarius aprovou a revisão das provisões sobre rotulagem de alimentos alergênicos, atualizando terminologias, definições, lista de alimentos e critérios para isenção de derivados. Essas mudanças foram incorporadas ao Padrão Geral para Rotulagem de Alimentos Pré-embalados (CXS 1-1985).

A revisão incluiu a atualização da lista de alimentos alergênicos, com a inclusão do gergelim na lista de relevância global. Houve também a transferência da soja, aveia, castanha-do-pará, macadâmia e pinoli para a lista de alimentos de relevância regional, e a inclusão do trigo sarraceno, aipo, tremoço e mostarda também como alergênicos regionais.

O Codex estabeleceu que as autoridades nacionais podem isentar derivados de alimentos alergênicos da declaração obrigatória, desde que submetidos a uma avaliação de risco que comprove sua segurança. Também foram aprimoradas as disposições sobre a apresentação e a legibilidade das declarações, com recomendações mais detalhadas sobre como essas informações devem ser dispostas nos rótulos.

Propostas de Aperfeiçoamento para a Regulamentação Brasileira

Critérios para Isenção de Derivados Alergênicos

Um dos principais pontos a serem aprimorados é a definição de critérios mais claros para isenção de derivados alergênicos da advertência de rotulagem. A regulamentação atual não diferencia claramente o tratamento a ser dado aos diferentes tipos de derivados, que podem incluir destilados alcoólicos de cereais, onde normalmente não há alérgenos remanescentes, óleo de soja refinado, onde pode haver traços, ou outros produtos sem padronização de processo produtivo.

Os avanços recentes do Codex Alimentarius e o documento do Comitê Conjunto de Especialistas da FAO/OMS sobre Avaliação de Risco de Alérgenos Alimentares podem fornecer orientações valiosas para esse aperfeiçoamento. A adoção de critérios internacionalmente reconhecidos contribuiria para maior transparência na avaliação de risco e nos requisitos de identidade, pureza e composição de derivados excetuados da rotulagem.

Exclusão de Alimentos de Ingrediente Único

Outra proposta é excetuar os alimentos de ingrediente único da advertência, considerando que, em muitos casos, a menção ao alimento alergênico já integra a denominação de venda do produto. O Codex Alimentarius já reconhece que, para alimentos de ingrediente único, a advertência não é necessária quando o nome do alergênico consta na denominação de venda.

Esta proposta é vista como uma opção proporcional e mais coerente com as demais informações obrigatórias declaradas nos rótulos. Os avanços obtidos nas negociações do Mercosul para o aprimoramento dos critérios de legibilidade da denominação de venda respaldam essa exceção sem comprometer o acesso dos consumidores a informações qualificadas.

Atualização da Lista de Alimentos Alergênicos

A ANVISA também considera atualizar a lista de alimentos alergênicos de acordo com as recomendações do Codex. Isso poderia incluir a adição do gergelim como alergênico de relevância global e a reclassificação de certos alimentos como alergênicos de relevância regional, conforme as novas diretrizes internacionais.

A metodologia estabelecida pelo Comitê Conjunto de Especialistas da FAO/OMS para revisão e validação da lista de alérgenos prioritários pode ser usada como base para a definição de critérios para incorporação de alergênicos de relevância nacional, bem como para orientar a condução de pesquisas no Brasil sobre o tema.

Aprimoramento das Informações sobre Alergênicos

As novas disposições do Codex Alimentarius permitem que as autoridades nacionais exijam a identificação dos alergênicos tanto na lista de ingredientes quanto em uma advertência separada. Essa abordagem combinada pode ser mais eficaz do que utilizar apenas uma dessas formas, proporcionando maior clareza para os consumidores com alergias alimentares.

Existe também a possibilidade de aprimorar a apresentação visual das advertências, tornando-as mais concisas e padronizadas. Entre as possibilidades estão a substituição do termo “ALÉRGICOS” por “ATENÇÃO”, a padronização dos nomes dos alimentos alergênicos a serem declarados com a exclusão do uso do termo “DERIVADOS”, e a adoção de critérios de legibilidade semelhantes aos já existentes para a tabela nutricional.

Plano de Implementação e Próximos Passos

A ANVISA planeja iniciar o processo de revisão com um Diálogo Setorial Virtual sobre Rotulagem de Alimentos Alergênicos, agendado para abril de 2025. Após esse diálogo, a agência pretende submeter à Diretoria Colegiada uma proposta de revisão das condições processuais aprovadas, possivelmente com dispensa de Análise de Impacto Regulatório para manter a convergência internacional, e realização de Consulta Pública.

Durante o segundo e terceiro trimestre de 2025, serão conduzidas atividades para elaboração da proposta de incorporação das recomendações do Codex Alimentarius ao ordenamento jurídico nacional, com a participação dos agentes afetados por meio de diálogos setoriais e outros mecanismos de participação social.

A agência planeja concluir a Consulta Pública até o quarto trimestre de 2025, possivelmente de forma simultânea ou próxima às consultas sobre as propostas de revisão da rotulagem geral e nutricional de alimentos, atualmente em discussão no Mercosul. Esta sincronização visa proporcionar aos agentes afetados uma visão integrada das propostas de aperfeiçoamento dos requisitos de rotulagem.

Considerações Finais

A revisão da regulamentação sobre rotulagem de alimentos alergênicos representa um importante avanço para a proteção da saúde das pessoas com alergias alimentares no Brasil, alinhando as normas nacionais com as melhores práticas internacionais. Esta atualização é especialmente relevante considerando que, segundo estimativas, cerca de 6% das crianças e 3,5% dos adultos brasileiros têm alergias alimentares.

Ao atualizar e aprimorar os requisitos de rotulagem, a ANVISA busca não apenas melhorar a segurança de alimentos para os consumidores, mas também promover a convergência regulatória e facilitar o comércio internacional, reduzindo barreiras técnicas e proporcionando um mercado mais equitativo para produtores e importadores de alimentos.

O processo de revisão, com ampla participação dos setores envolvidos, deverá resultar em uma regulamentação mais clara, eficaz e proporcional, beneficiando tanto os consumidores quanto a indústria alimentícia brasileira, garantindo maior segurança alimentar e acesso a informações mais precisas sobre a composição dos alimentos.

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Referências

  1. Documentodebasesobrerotulagemdealergnicos.pdf

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Secretário Geral do SMIIC Visita Autoridade Paquistanesa para Fortalecer Implementação de Normas Halal

Em movimento significativo para fortalecer a cooperação em padronização e acreditação entre países islâmicos, o Secretário Geral do Instituto de Normas e Metrologia para os Países Islâmicos (SMIIC), Ihsan Ovut, realizou uma visita oficial ao Conselho Nacional de Acreditação do Paquistão (PNAC), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Esta visita, ocorrida em 23 de abril de 2025, marca um passo importante na harmonização de normas Halal e no fortalecimento da infraestrutura de qualidade no mundo islâmico, com potencial impacto positivo para o comércio internacional de produtos Halal.

A Busca pela Harmonização de Normas Halal

A reunião entre Ihsan Ovut e o Diretor Geral do PNAC, Ateeq ur Rehman Memon, centrou-se na implementação das normas Halal do SMIIC no Paquistão, com ênfase especial nas normas OIC/SMIIC 2 e OIC/SMIIC 3. Estas normas são fundamentais para estabelecer requisitos consistentes para organismos que fornecem certificação Halal e para entidades de acreditação que supervisionam esses organismos certificadores, respectivamente.

O Paquistão tem demonstrado comprometimento com a adoção de normas harmonizadas, tendo já incorporado nove normas SMIIC em seu sistema nacional. Este processo de adoção, iniciado em 2022, representa um avanço significativo para garantir a credibilidade e aceitação global das certificações Halal emitidas no país. A implementação dessas normas visa remover barreiras comerciais e facilitar o comércio internacional de produtos Halal.

O Papel Crucial dos Acordos de Reconhecimento Mútuo

Durante o encontro, ambos os líderes destacaram a importância de fomentar acordos de reconhecimento multilateral (MRAs) entre os estados membros da Organização para Cooperação Islâmica (OIC). Estes acordos são instrumentos essenciais para estabelecer confiança mútua e facilitar o comércio entre nações islâmicas, eliminando a necessidade de múltiplas certificações para um mesmo produto.

Memon enfatizou a necessidade de maior aceitação do logotipo do SMIIC em todos os países islâmicos, o que contribuiria significativamente para a harmonização das práticas Halal e impulsionaria o comércio intra-OIC. A adoção universal deste símbolo representaria um passo importante para consumidores e produtores, simplificando a identificação de produtos genuinamente Halal em mercados globais.

Desafios da Multiplicidade de Normas Halal

Um dos maiores obstáculos para o crescimento da indústria Halal global é a multiplicidade de normas existentes. Atualmente, diversos países islâmicos possuem suas próprias normas Halal, incluindo Malásia, Indonésia, Brunei, Emirados Árabes Unidos e Paquistão. Esta diversidade, embora reflita particularidades culturais e interpretações religiosas locais, cria confusão e dificuldades para produtores, especialmente aqueles em países ocidentais que desejam exportar para mercados islâmicos.

A harmonização dessas normas tem sido um objetivo persistente do SMIIC, que trabalha para estabelecer uma infraestrutura de qualidade Halal global (OHAQ – OIC Global Halal Quality Infrastructure). Esta estrutura visa garantir a rastreabilidade dos produtos, aumentar a confiança dos consumidores, promover o reconhecimento mútuo entre certificações e diminuir barreiras técnicas ao comércio.

Evolução das Normas SMIIC

Desde sua criação, o SMIIC tem desenvolvido e atualizado continuamente suas normas para atender às necessidades do mercado Halal em expansão. As primeiras três normas OIC/SMIIC entraram em vigor em 17 de maio de 2011, estabelecendo diretrizes gerais para alimentos Halal, requisitos para organismos de certificação e diretrizes para entidades de acreditação.

Recentemente, o SMIIC anunciou a publicação de novas normas que abordam diferentes aspectos da inspeção Halal, produtos farmacêuticos e alimentação animal. Estas incluem a OIC/SMIIC 57:2022, que estabelece requisitos para organismos de inspeção Halal; a OIC/SMIIC 50-1:2022, que cobre a fabricação e transporte de produtos farmacêuticos Halal; e a OIC/SMIIC 23:2022, que delineia requisitos para preparação e produção de alimentos destinados a animais Halal.

Impacto para o Comércio Internacional de Produtos Halal

A visita do Secretário Geral do SMIIC ao PNAC reafirma a visão compartilhada de promover integração regional através de práticas padronizadas, marcando um passo positivo para maior colaboração em garantia de qualidade e avaliação de conformidade no mundo islâmico. Esta colaboração é particularmente importante em um contexto onde o mercado Halal global está em rápido crescimento, com um valor estimado de mercado de US$ 2,2 trilhões em 2018.

Para o Paquistão, a implementação efetiva das normas SMIIC representa uma oportunidade de fortalecer sua posição no mercado Halal internacional, garantindo que seus produtos sejam reconhecidos e aceitos globalmente. O Conselho Nacional de Acreditação do Paquistão lançou o Esquema de Acreditação Halal para estabelecer uma estrutura robusta para acreditação de organismos de certificação Halal no país, assegurando que produtos e serviços Halal originários do Paquistão atendam a normas internacionalmente reconhecidas.

Perspectivas Futuras para Harmonização Global

O futuro da harmonização das normas Halal depende da colaboração próxima entre as autoridades de todos os países envolvidos na emissão de certificações Halal. Apenas através dessa cooperação será possível alcançar um quadro regulatório homogêneo com procedimentos de certificação e acreditação unificados, cada vez mais necessários em um mercado globalizado.

O SMIIC, com seu Plano Estratégico 2021-2030, está comprometido em desenvolver normas de alta qualidade que sejam utilizadas mundialmente, apoiar as necessidades de seus membros e garantir o engajamento efetivo de suas partes interessadas, além de apoiar o aprimoramento da infraestrutura de qualidade e a interconectividade de seus membros.

Conclusão

A visita do Secretário Geral do SMIIC ao chefe do PNAC representa um marco importante no esforço contínuo para harmonizar normas Halal e fortalecer a infraestrutura de qualidade no mundo islâmico. Este encontro não apenas destaca o compromisso do Paquistão com a implementação de normas Halal internacionalmente reconhecidas, mas também reforça a importância da colaboração entre países islâmicos para enfrentar os desafios da indústria Halal global.

À medida que o mercado Halal continua a crescer, a harmonização de normas torna-se cada vez mais crucial para facilitar o comércio internacional e garantir a confiança dos consumidores. O trabalho do SMIIC e do PNAC exemplifica como a cooperação internacional pode contribuir para o desenvolvimento de um sistema Halal global que beneficie produtores, certificadores e, principalmente, consumidores muçulmanos em todo o mundo.

Referências

  1. UrduPoint. SMIIC Secretary General Calls On PNAC Chief To Bolster Halal Standards Implementation In Pakistan. https://www.urdupoint.com/en/pakistan/smiic-secretary-general-calls-on-pnac-chief-t-1968378.html
  2. Halalfocus. Pakistan has adopted and released 9 SMIIC Standards. https://halalfocus.com/pakistan-has-adopted-and-released-9-smiic-standards/
  3. SMIIC. New Halal Standards – SMIIC – News & Events. https://www.smiic.org/en/content/731
  4. SMIIC. New editions of OIC/SMIIC Halal Standards. https://www.smiic.org/en/content/573
  5. PNAC Islamabad. Halal Certification Bodies Accreditation (PS 4992). https://pnac.gov.pk/Services/Halal-Certification-Bodies
  6. ICDT-CIDC. OIC/SMIIC Standards on Halal Issues and Halal Quality Infrastructure. https://icdt-cidc.org/wp-content/uploads/SMIIC-and-halal-ICDT-070721.pdf

A Nova Regulamentação do Leite UAT (UHT): Um Marco Regulatório para o Mercosul em 2025

A Nova Regulamentação do Leite UAT (UHT): Um Marco Regulatório para o Mercosul em 2025

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicou na data de hoje, 17 de abril de 2025, a Portaria 783/2025, que incorpora ao ordenamento jurídico brasileiro o Regulamento Técnico Mercosul de Identidade e Qualidade do Leite UAT (UHT). Esta norma, já em vigor, revoga dispositivos anteriores como a Portaria 370/1997 e o Anexo XII da Portaria 146/1996, representando uma importante atualização nas especificações técnicas do leite longa vida comercializado no Brasil e nos demais países do bloco econômico.

Definições e Inovações do Novo Regulamento

O documento define o Leite UAT (Ultra Alta Temperatura) como aquele submetido a um processo térmico de fluxo contínuo com temperatura entre 135°C durante 10 segundos até 150°C durante 2 segundos, ou combinações equivalentes. Este tratamento, seguido por homogeneização e envase asséptico, garante a ausência de bactérias capazes de proliferar durante o prazo de validade do produto em condições normais de armazenamento e distribuição.

A nova regulamentação mantém a classificação tradicional do leite UAT em três categorias de acordo com o teor de gordura: integral (mínimo de 3,0% de gordura), semidesnatado ou parcialmente desnatado (entre 0,5% e 3,0% de gordura) e desnatado (máximo de 0,5% de gordura). Cada categoria deve atender a requisitos específicos de acidez e extrato seco desengordurado, sendo que este último apresenta valores mínimos que variam de 8,2% para o leite integral a 8,4% para o leite desnatado.

Parâmetros de Qualidade e Estabilidade

Um dos aspectos fundamentais do novo regulamento técnico refere-se aos testes de estabilidade. Após incubação em recipiente fechado entre 35-37°C durante sete dias, o produto não deve apresentar modificações que alterem a embalagem, a acidez não deve aumentar mais de 0,02 g de ácido lático/100 ml em relação à amostra original, e as características sensoriais devem permanecer praticamente inalteradas.

Quanto aos aditivos permitidos, o documento autoriza o uso de estabilizantes como fosfatos de sódio (mono, di e tri) em quantidade máxima de 0,1 g/100 ml expressos em P2O5, além do citrato de sódio em quantidade quantum satis. Esses estabilizantes desempenham função importante no processamento do leite, pois ajudam a manter a estabilidade das proteínas durante o tratamento térmico, preservando as características sensoriais e nutricionais do produto.

Contexto Atual do Mercado Lácteo

A publicação desta norma ocorre em um momento significativo para o setor leiteiro brasileiro. Dados recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) apontam que o preço do leite pago ao produtor voltou a subir no início de 2025, interrompendo três meses consecutivos de queda. A média nacional do litro captado em janeiro foi de R$ 2,6492, um aumento de 2,5% em relação a dezembro e de 18,7% na comparação com janeiro de 2024.

Este aumento também impactou o mercado de laticínios, com o leite UHT registrando elevação de 1,93% em fevereiro, alcançando R$ 4,35 por litro. Os especialistas atribuem essa alta ao crescimento da demanda e ao aumento no custo da matéria-prima, em um cenário onde as importações seguem em alta enquanto as exportações recuaram.

Segurança Alimentar e Aspectos Nutricionais

O processamento UHT é fundamental para garantir a segurança de alimentos, eliminando microrganismos patogênicos e deteriorantes sem a necessidade de aditivos conservantes. Contrariando desinformações que ocasionalmente circulam, o leite UHT não recebe substâncias tóxicas como soda cáustica, água oxigenada ou formol para sua conservação. A estabilidade do produto na prateleira deve-se exclusivamente ao tratamento térmico adequado e às condições assépticas de envase em embalagens hermeticamente fechadas.

Do ponto de vista nutricional, o leite permanece como fonte importante de cálcio, proteínas de alto valor biológico, vitaminas e minerais, com benefícios associados à saúde óssea, controle da pressão arterial, prevenção de doenças crônicas e manutenção da massa magra, entre outros aspectos relevantes para a saúde humana.

Harmonização Regulatória no Mercosul

A incorporação do Regulamento Técnico Mercosul representa um passo importante para a harmonização das normas entre os países do bloco. Conforme explicitado na Resolução MERCOSUL/GMC/RES. Nº 13/23, essa padronização visa facilitar o comércio regional, estabelecendo critérios uniformes de identidade e qualidade que devem ser respeitados tanto no mercado interno quanto nas importações de países de fora do bloco.

Para cooperativas e indústrias do setor leiteiro, a harmonização das normas técnicas cria condições mais equilibradas de concorrência no mercado regional. Vale destacar que programas de incentivo como o Mais Leite Saudável, recentemente modernizado pelo governo federal com um novo sistema para habilitação de laticínios e cooperativas, complementam este cenário regulatório, estimulando investimentos na qualidade e produtividade do setor.

Implicações para o Consumidor

Para o consumidor final, a nova regulamentação reforça a segurança e qualidade do produto. O leite UAT continuará sendo rotulado conforme sua classificação (integral, semidesnatado ou desnatado), podendo utilizar as expressões “Longa Vida” e “Homogeneizado”. No caso do leite semidesnatado ou parcialmente desnatado, o rótulo deverá indicar a porcentagem de gordura correspondente.

Os métodos de análise referenciados no regulamento técnico garantem a verificação objetiva dos parâmetros estabelecidos, permitindo o controle efetivo da qualidade do produto pelo serviço de inspeção. Além disso, as regras de amostragem seguem procedimentos internacionalmente reconhecidos, assegurando a representatividade das análises realizadas.

Conclusão

A Portaria 783/2025 representa um importante avanço na modernização do marco regulatório do leite UAT no Brasil e no Mercosul. A atualização das normas técnicas, alinhada com diretrizes internacionais e respaldada por conhecimentos científicos atualizados, contribui para o fortalecimento da cadeia produtiva do leite, oferecendo maior segurança jurídica para produtores e indústrias, além de assegurar ao consumidor um produto com qualidade e segurança ampliadas.

Em um cenário de crescentes desafios econômicos e comerciais, a harmonização das normas técnicas entre os países do Mercosul pode favorecer o desenvolvimento do setor leiteiro brasileiro, potencializando sua competitividade e estimulando a adoção de práticas que conjuguem eficiência produtiva com elevados padrões de qualidade e segurança alimentar.

Referências

  1. Portaria MAPA Nº 783, de 4 de abril de 2025 – Diário Oficial da União (DOU)
  2. Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Produtos de Origem Animal – Ministério da Agricultura e Pecuária
  3. Regulamento Técnico – Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV)
  4. Programa Mais Leite Saudável – Sistema OCB/ES

OIC Realiza a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais

OIC Realiza a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais

A Organização para Cooperação Islâmica (OIC) está realizando a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais na sede da OIC em Jeddah, Reino da Arábia Saudita. O evento, que teve início em 15 de abril de 2025, prosseguirá até 17 de abril de 2025, reunindo representantes dos estados membros para discutir e avaliar iniciativas estratégicas em diversas áreas de cooperação. Esta importante reunião estabelece diretrizes para as atividades futuras da organização e prepara resoluções que serão submetidas ao próximo Conselho de Ministros das Relações Exteriores.

A Organização para Cooperação Islâmica e a Importância da Comissão

A Organização para Cooperação Islâmica representa uma das mais influentes entidades intergovernamentais do mundo islâmico, dedicada a fortalecer laços entre os estados membros e promover seu desenvolvimento conjunto. A Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais constitui um órgão fundamental dentro da estrutura da OIC, responsável por avaliar e formular políticas nas áreas de cooperação econômica, ciência e tecnologia, cultura, assuntos sociais e familiares, juventude e esportes.

Esta 47ª sessão da Comissão ocupa posição estratégica no calendário da organização, pois seus resultados serão encaminhados ao 51º Conselho de Ministros das Relações Exteriores (CFM), programado para acontecer em Istambul, República da Turquia, em junho de 2025. O trabalho desenvolvido pela Comissão estabelece os fundamentos para decisões importantes que afetarão a cooperação entre nações islâmicas nos próximos anos.

Durante a Sessão de Abertura, o Secretário-Geral da OIC, Sr. Hissein Brahim Taha, ressaltou que o sucesso das atividades da organização para o próximo ano dependerá diretamente da orientação e suporte fornecidos por esta reunião. Ele destacou que, desde a última 50ª Sessão do CFM realizada em Yaoundé, República de Camarões, em 29-30 de agosto de 2024, a OIC continuou priorizando a execução de suas resoluções em domínios como econômico, ciência e tecnologia, assuntos culturais, sociais e familiares, juventude e esportes.

Avanços na Cooperação Econômica e Segurança Alimentar

Na área de cooperação econômica, o Secretário-Geral expressou satisfação ao relatar que a participação do comércio intra-OIC no comércio exterior global dos Estados Membros aumentou de 19,16% em 2023 para 20,36% em 2024. Como resultado desse crescimento, 30 Estados Membros da OIC já atingiram a meta de 25% de comércio intra-OIC, representando um avanço significativo na integração econômica entre as nações islâmicas.

O Secretário-Geral enfatizou que os esforços de cooperação entre os Estados Membros da OIC no domínio da agricultura e segurança alimentar receberam impulso adequado através do desenvolvimento do Projeto de Plano Estratégico para Segurança Alimentar nos Estados Membros da OIC. Esta iniciativa visa contribuir mais efetivamente para o aumento da produtividade agrícola, desenvolvimento rural e segurança alimentar nos países da OIC, além de fortalecer a cooperação intra-OIC neste domínio.

Este desenvolvimento é particularmente relevante considerando dados recentes que indicam um crescimento modesto no comércio intra-OIC, que subiu de 873 bilhões de dólares em 2022 para 884 bilhões de dólares em 2023, refletindo um aumento de aproximadamente 1,23% apesar das dificuldades econômicas globais. Este crescimento é atribuído a fatores como aumento dos preços de commodities, flutuações nas taxas de câmbio do dólar e euro, e implementação de acordos bilaterais e regionais de comércio e investimento.

Ciência, Tecnologia e Saúde: Prioridades Estratégicas

O Sr. Hissein Taha confirmou a importância do avanço da ciência e tecnologia, educação superior, saúde, meio ambiente e recursos hídricos nos Estados Membros da OIC. Neste sentido, ele destacou que o Secretariado Geral da OIC, em colaboração com o COMSTECH (Comitê Permanente para Cooperação Científica e Tecnológica da OIC), está desenvolvendo a Visão de Inteligência Artificial da OIC, que fornecerá uma estrutura estratégica para os Estados Membros na formulação de políticas nacionais de IA.

Esta iniciativa alinha-se com esforços mais amplos do COMSTECH, que recentemente lançou um “serviço especializado” para fomentar a cooperação tecnológica entre os estados membros da OIC. O serviço foi inaugurado durante a visita do Secretário-Geral da OIC, Hissein Ibrahim Taha, ao Secretariado do COMSTECH em Islamabad, junto com o Ministro de Ciência e Tecnologia do Paquistão, Khalid Maqbool Siddiqui. Esta iniciativa estratégica visa aprimorar a autossuficiência tecnológica, promover o desenvolvimento sustentável e mitigar a fuga de cérebros nos estados membros da OIC.

Na área da saúde, o Secretário-Geral apontou que o Secretariado Geral da OIC tem buscado ativamente várias iniciativas destinadas a prevenir e combater doenças, com foco particular em câncer, poliomielite e promoção da autossuficiência na produção de vacinas. Estas medidas representam um compromisso contínuo com o fortalecimento dos sistemas de saúde nas nações islâmicas.

Iniciativas Culturais e Desenvolvimento Social

No domínio cultural, o Secretário-Geral da OIC mencionou que o Secretariado Geral está trabalhando em estreita colaboração com os Estados Membros e instituições da OIC para organizar eventos culturais conjuntos. Adicionalmente, a organização acompanha a implementação da Resolução relativa ao estabelecimento da Plataforma para Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural no Mundo Muçulmano, em coordenação com as instituições envolvidas.

Com relação à cooperação intra-OIC no domínio social, o Secretário-Geral expressou satisfação ao relatar que o Secretariado Geral continua seus esforços para acompanhar a implementação das recomendações, incluindo o Documento de Jeddah sobre os Direitos das Mulheres no Islã, originadas da Conferência Internacional sobre Mulheres no Islã realizada em Jeddah, Arábia Saudita, em novembro de 2023. Este trabalho demonstra o compromisso da organização com o avanço dos direitos das mulheres e questões familiares dentro do contexto das tradições islâmicas.

Perspectivas Futuras e Resultados Esperados

Durante os três dias da Sessão da Comissão Islâmica, os representantes dos Estados Membros da OIC revisarão os projetos de resoluções nas áreas econômica, científica e tecnológica, cultural, social e familiar, juventude e esportes, recebidos dos Estados Membros. O resultado deste trabalho será submetido ao 51º Conselho de Ministros das Relações Exteriores (CFM), a ser realizado em Istambul, República da Turquia, em junho de 2025, para aprovação final.

Esta sessão representa um passo importante na contínua evolução da OIC como organização voltada para o desenvolvimento e cooperação, especialmente em um momento em que desafios globais como insegurança alimentar, mudanças climáticas e instabilidade econômica exigem respostas coordenadas. A capacidade da OIC de adaptar suas estratégias e reforçar a cooperação entre seus membros será fundamental para o sucesso de suas iniciativas futuras.

Conclusão

A 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais representa um momento crucial para a Organização para Cooperação Islâmica, oferecendo uma plataforma para avaliar o progresso alcançado e delinear estratégias futuras. Os avanços relatados em comércio intra-OIC, desenvolvimento agrícola, inovação tecnológica e questões sociais demonstram o compromisso contínuo da organização com o desenvolvimento holístico de seus Estados Membros.

O papel crescente da inteligência artificial, segurança alimentar e preservação cultural como prioridades estratégicas reflete uma adaptação às realidades contemporâneas e desafios emergentes. À medida que a sessão prossegue, seus resultados determinarão significativamente a direção da cooperação islâmica nas próximas décadas, com potencial para fortalecer a unidade e promover o desenvolvimento sustentável em todo o mundo muçulmano.

Referências

  1. Zawya – OIC holds the 47th session of the Islamic Commission for Economic, Cultural, and Social Affairs
    https://www.zawya.com/en/press-release/events-and-conferences/oic-holds-the-47th-session-of-the-islamic-commission-for-economic-cultural-and-social-affairs-qfidkhqy
  2. COMCEC – Summary report on trade
    https://www.comcec.org/wp-content/uploads/2024/05/3-Summary-report-on-trade.pdf
  3. Arab News – OIC’s COMSTECH launches ‘expert service’ to foster tech cooperation
    https://www.arabnews.com/node/2586002/pakistan
  4. Islamic Committee of the International Crescent – Participation in the meetings of the 46th Islamic Commission
    https://en.icic-oic.org/index.php/2024/08/04/participation-in-the-meetings-of-the-46th-islamic-commission-for-economic-cultural-and-social-affairs-session-of-the-organization-of-islamic-cooperation-oic-28-30-july-2024-jeddah-kingdom-of-saud/
Profissional realizando controle de qualidade em alimentos com ficha de inspeção e luvas em laboratório.

Análise Crítica do Sistema Sanitário Brasileiro: Fragilidades que Ameaçam a Segurança de Alimentos e o Potencial Exportador

O Brasil, embora tenha se consolidado como um gigante agroexportador, enfrenta desafios significativos em relação à segurança de alimentos e aplicação de normas sanitárias. Este paradoxo se manifesta na disparidade entre o status do país como “celeiro do mundo” e as falhas nos sistemas de inspeção e normatização sanitária. Os recentes aumentos alarmantes nos casos de intoxicação alimentar, a falta de rastreabilidade eficiente e a aplicação inconsistente das boas práticas de fabricação contribuem para um cenário complexo onde a qualidade pode estar sendo sacrificada em favor do volume e preço. A presente análise examina as diferenças entre BPF e HACCP, as deficiências no sistema sanitário brasileiro e as possíveis consequências para a posição do Brasil no mercado internacional.

Diferenças entre BPF e HACCP: Bases Conceituais para a Segurança de Alimentos

Boas Práticas de Fabricação (BPF): Base Necessária, Porém Insuficiente

As Boas Práticas de Fabricação (BPF) representam o conjunto de medidas que estabelecem os requisitos gerais de higiene e de boas práticas de elaboração para alimentos processados. Estas práticas são fundamentais como pré-requisitos em qualquer estabelecimento que manipule alimentos, mas apresentam limitações importantes para garantir a segurança completa dos alimentos.

As BPF focam principalmente em aspectos como higiene pessoal, limpeza e sanitização de instalações, controle de pragas, manejo de resíduos e qualidade da água. Embora essas práticas sejam essenciais, elas constituem medidas preventivas amplas que não conseguem identificar e controlar de maneira específica os perigos em cada etapa do processo produtivo. Sua natureza generalista não permite a identificação de pontos críticos específicos onde um controle mais rigoroso é necessário para prevenir, eliminar ou reduzir riscos a níveis aceitáveis.

A implementação isolada das BPF, sem outros sistemas complementares, deixa lacunas significativas na gestão da segurança de alimentos. Os dados alarmantes sobre intoxicações alimentares no Brasil sugerem claramente que apenas seguir as BPF não tem sido suficiente para garantir a segurança dos consumidores.

HACCP/APPCC: Necessidade Imperativa para a Segurança Efetiva

O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC ou HACCP) deve ser considerado obrigatório, não opcional, para qualquer estabelecimento que produza, manipule ou sirva alimentos. Diferentemente das BPF, o HACCP é um sistema preventivo específico que identifica, avalia e controla perigos significativos para a segurança de alimentos em cada etapa do processo produtivo.

O HACCP vai muito além das BPF ao estabelecer limites críticos mensuráveis, procedimentos de monitoramento, ações corretivas predeterminadas e verificações sistemáticas. Enquanto as BPF criam o ambiente higiênico básico, o HACCP gerencia ativamente os riscos específicos, monitora parâmetros críticos em tempo real e previne problemas antes que afetem o produto final.

A implementação obrigatória de planos HACCP é imprescindível no contexto brasileiro. Apenas com a exigência legal e fiscalização adequada deste sistema será possível reduzir significativamente os casos de doenças transmitidas por alimentos. É uma falha sistêmica que muitos estabelecimentos, especialmente pequenos e médios, operem apenas com BPF básicas sem a implementação de um plano HACCP estruturado.

Deficiências do Sistema Sanitário Brasileiro

Fiscalização Insuficiente e Aplicação Inconsistente das Normas

A insuficiência das normas sanitárias e inspeção no Brasil é evidenciada por estudos de caso e dados estatísticos. Uma pesquisa realizada em um restaurante self-service demonstrou que apenas 65% dos itens avaliados estavam em conformidade com as normas da ANVISA, classificando o estabelecimento com risco sanitário apenas “regular”. Este caso ilustra a realidade de muitos estabelecimentos que operam com condições higiênico-sanitárias abaixo do ideal.

Além disso, o sistema regulatório brasileiro enfrenta fragilidades na adoção de acordos e termos de compromisso entre o governo e as indústrias. Esses instrumentos frequentemente flexibilizam prazos e exigências, dificultando a fiscalização efetiva e permitindo que práticas inadequadas persistam, comprometendo a segurança de alimentos.

Crescimento Alarmante dos Casos de Intoxicação Alimentar

As consequências da aplicação deficiente das normas sanitárias refletem-se diretamente no aumento de casos de intoxicação alimentar. Dados da Secretaria de Estado da Saúde mostram que houve um aumento alarmante de 114,2% nos casos de intoxicação alimentar na região de Campinas (SP) entre janeiro e outubro de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior – saltando de 21.990 para 47.111 atendimentos.

O número de internações por intoxicação alimentar também cresceu significativamente (33%) no mesmo período, passando de 354 para 471 casos. Estes números assustadores indicam claramente que há falhas graves no sistema de controle sanitário, resultando em riscos concretos à saúde pública.

Certificações Internacionais e sua Importância para a Qualidade Alimentar

Certificação FSSC 22000: Norma Global para Segurança de Alimentos

A Certificação de Sistemas de Segurança de Alimentos FSSC 22000 é um esquema de certificação internacionalmente reconhecido, baseado na norma ISO 22000 e complementado por requisitos adicionais específicos da FSSC. Os Programas de Pré-Requisitos (PRPs), fundamentais para essa certificação, têm como referência normativa as diferentes partes da família ISO 22002, que detalham práticas específicas para setores variados da cadeia alimentar. Desenvolvida para atender às demandas globais por normas robustas e confiáveis, a FSSC 22000 oferece um framework completo para garantir a segurança de alimentos em toda a cadeia produtiva.

A FSSC 22000, assim como outras certificações amplamente reconhecidas, como o BRC e o IFS, é aceita mundialmente. Todas essas certificações representam opções confiáveis para organizações que buscam garantir a segurança de alimentos em toda a cadeia produtiva. Elas oferecem frameworks robustos para estabelecer, monitorar e melhorar os controles necessários, atendendo às exigências globais por alimentos seguros e de alta qualidade.

Benefícios da Adoção de Certificações Rigorosas

Certificações rigorosas obrigam a empresa a cumprir com todos os requisitos regulamentares, legais e normativos do setor, garantindo que, mais do que fabricar e comercializar alimentos seguros, a organização é eticamente responsável, confiável e comprometida com seus clientes e parceiros de trabalho.

A certificação também melhora a reputação da empresa, transmitindo maior confiabilidade ao mercado consumidor. Quando um cliente compra de uma empresa certificada, tem a garantia de que esta segue normas rigorosas de segurança de alimentos, o que é particularmente relevante para a manutenção e expansão de mercados internacionais.

O Paradoxo das Exportações Brasileiras: Quantidade versus Qualidade

Brasil: “Celeiro do Mundo” e seus Recordes de Exportação

O Brasil já exerce liderança nas exportações globais de pelo menos sete alimentos, consolidando-se como o “celeiro do planeta”. O país é o maior exportador mundial de soja (56% das exportações totais), milho (31%), café (27%), açúcar (44%), suco de laranja (76%), carne bovina (24%) e carne de frango (33%).

Com pouco mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil hoje produz alimentos suficientes para as necessidades calóricas de aproximadamente 900 milhões de pessoas, o que equivale a 11% da população global. Estes números impressionantes destacam a capacidade produtiva brasileira e sua relevância no cenário global.

Liderança em Risco: O Desafio do Brasil em Equilibrar Volume e Qualidade nas Exportações de Alimentos

Contudo, surge a questão sobre se a liderança do Brasil no mercado global de alimentos se baseia mais em preços competitivos do que em qualidade superior. Embora o país tenha uma produção abundante, capaz de atender tanto à demanda interna quanto às exportações, há preocupações sobre a capacidade do Brasil de manter essa posição diante das crescentes exigências por qualidade e segurança de alimentos.

A competitividade do Brasil parece estar mais relacionada aos custos de produção do que à adoção de normas rigorosas de qualidade. Isso coloca em risco a permanência do país como líder global, especialmente porque os mercados internacionais estão cada vez mais priorizando produtos que atendam altos padrões de segurança de alimentos e rastreabilidade. Para preservar sua relevância, o Brasil precisa equilibrar volume e qualidade, investindo em certificações reconhecidas e sistemas robustos que garantam alimentos seguros e confiáveis.

Rastreabilidade: O Elo Frágil na Cadeia Alimentar Brasileira

Importância da Rastreabilidade na Segurança de Alimentos

A rastreabilidade de produtos é um fator essencial para empresas que buscam eficiência, segurança e qualidade em suas operações. Ela permite acompanhar cada etapa do ciclo do produto, desde a matéria-prima até a entrega final, o que melhora a gestão de estoque, reduz riscos e fortalece a confiança do cliente.

Um sistema de rastreabilidade eficiente não apenas protege os consumidores, mas também fortalece a posição competitiva das empresas, permitindo rápida identificação e resolução de problemas de qualidade ou segurança.

Tecnologias Subaproveitadas e Implementação Deficiente

No Brasil, observa-se um subaproveitamento de tecnologias que poderiam incrementar a rastreabilidade. Sistemas de gestão integrados (ERP), identificação por código de barras e RFID, e a adoção de blockchain para mais segurança e transparência são tecnologias disponíveis que poderiam melhorar significativamente a rastreabilidade na cadeia de suprimentos brasileira.

A tecnologia blockchain, em particular, vem ganhando destaque pela sua capacidade de garantir a segurança e transparência dos dados. Com esta tecnologia, cada etapa da produção e distribuição do produto é registrada de forma imutável em uma rede descentralizada, permitindo que informações sobre a procedência sejam verificáveis.

No contexto da rastreabilidade e segurança de alimentos, os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança) ganham relevância estratégica. Empresas que integram práticas de ESG em suas operações não apenas fortalecem sua reputação no mercado global, mas também atendem às demandas crescentes por transparência e sustentabilidade. A rastreabilidade, ao garantir informações claras sobre a origem e o impacto ambiental e social dos produtos, torna-se um elemento essencial para cumprir os critérios de ESG, promovendo confiança entre consumidores, investidores e parceiros comerciais.

Caminhos para Fortalecer a Segurança de Alimentos Brasileira

A análise da situação atual da segurança de alimentos no Brasil revela um paradoxo significativo: enquanto o país se destaca como líder global em exportações de vários produtos alimentícios, enfrenta desafios consideráveis em relação à aplicação de normas sanitárias e implementação de sistemas de controle de qualidade robustos.

Para preservar e fortalecer a posição do Brasil no mercado internacional, é imperativo que haja um fortalecimento das estruturas regulatórias e de fiscalização. A adoção obrigatória de certificações internacionalmente reconhecidas, como FSSC 22000, BRC, IFS Food, poderia proporcionar um salto qualitativo na produção alimentícia brasileira. Além disso, a implementação obrigatória de planos HACCP em todas as indústrias alimentícias, independentemente de seu porte, seria um passo crucial para elevar os padrões de segurança de alimentos no país. Essas medidas, em conjunto, fortaleceriam significativamente a posição do Brasil no mercado global de alimentos, garantindo não apenas volume, mas também qualidade e segurança.

Além disso, o investimento em sistemas de rastreabilidade avançados, utilizando tecnologias como blockchain e RFID, é fundamental para garantir transparência e segurança em toda a cadeia produtiva e preservar a reputação dos produtos brasileiros.

Em última análise, o equilíbrio entre volume de produção e qualidade não é apenas desejável, mas essencial para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro no longo prazo. O Brasil tem o potencial de ser não apenas o “celeiro do mundo”, mas também um exemplo global de excelência em segurança de alimentos.

Referências

  1. Codex Alimentarius – Código Internacional de Práticas Recomendadas: Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos
  2. ANVISA – Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002
  3. Global Food Safety Initiative (GFSI) – Benchmarking Requirements for Food Safety Certification Programs
  4. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – Boletim Epidemiológico 2024
  5. UNESP – Estudo sobre exportações agrícolas brasileiras e competitividade global
  6. Instituto Fome Zero – Relatório sobre produção e distribuição alimentar no Brasil
  7. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR ISO 22000:2019
  8. Organização Mundial de Saúde (OMS) – Manual sobre 5 chaves para uma alimentação mais segura

Como implementar um Sistema de Gestão de Segurança de Alimentos Halal Integrado?

Integração Estratégica de Normas Halal e Sistemas de Gestão de Segurança de Alimentos: Uma Abordagem Científica para a Conformidade Global

A conformidade Halal e a segurança de alimentos são pilares fundamentais para empresas que buscam competitividade em mercados internacionais, especialmente em países com significativa população muçulmana. A harmonização entre as normas SMIIC 17, GSO 2055-1, SMIIC 1 e os sistemas de gestão baseados na ISO 22000 e ISO 22002 representa uma evolução paradigmática na garantia da qualidade, rastreabilidade e integridade religiosa dos produtos. Este artigo explora essa integração, destacando sua relevância técnica, benefícios operacionais e implicações estratégicas para profissionais da área de qualidade e segurança de alimentos.

Fundamentos Normativos para a Conformidade Halal

A norma SMIIC 1 estabelece os requisitos gerais para alimentos Halal, abrangendo desde a seleção de ingredientes até o processamento e embalagem. Seu alinhamento com a ISO 22000 permite que sistemas de gestão de segurança de alimentos incorporem critérios religiosos, como a exclusão de substâncias proibidas (como derivados suínos) e a validação de métodos de abate humanizado. Paralelamente, a GSO 2055-1 complementa essa estrutura ao detalhar requisitos técnicos para logística, armazenamento e rotulagem, garantindo que a conformidade Halal seja mantida em todas as etapas da cadeia produtiva.
A norma SMIIC 17, dividida em três partes, define protocolos específicos para transporte, armazenamento e varejo de produtos Halal. Na etapa de transporte, exige-se a utilização de veículos dedicados ou a descontaminação rigorosa de equipamentos que tenham tido contato com produtos não Halal. No armazenamento, a segregação física e o controle ambiental são críticos para evitar contaminação cruzada. Já no varejo, a norma enfatiza a necessidade de treinamento especializado para funcionários e a segregação de produtos em pontos de venda.

A ISO 22000 como Estrutura de Gestão de Riscos

A ISO 22000 fornece uma estrutura sistêmica para identificar e mitigar perigos relacionados à segurança de alimentos, integrando o sistema HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). A inovação estratégica reside na incorporação de Pontos Críticos de Controle Halal (PCCHs) ao plano HACCP existente. Esses PCCHs monitoram riscos específicos à conformidade religiosa, como a validação da origem de ingredientes e a verificação de processos de limpeza em equipamentos compartilhados.
A integração entre PCCHs e HACCP permite que as empresas gerenciem simultaneamente perigos microbiológicos, químicos e físicos, além de riscos associados à não conformidade Halal. Essa abordagem holística é respaldada pela ISO 22002, que detalha programas de pré-requisitos (PRPs) para setores específicos. Por exemplo, a ISO 22002-5 (transporte e logística) alinha-se à SMIIC 17 ao exigir protocolos de higienização e segregação física, enquanto a ISO 22002-4 (embalagens) assegura que materiais utilizados não comprometam a integridade Halal.

Sinergia entre ISO 22002 e Requisitos Halal

A família ISO 22002 desempenha um papel complementar ao detalhar práticas técnicas para setores específicos. Na agricultura (ISO 22002-3), a rastreabilidade de ingredientes críticos, como enzimas animais, é essencial para garantir conformidade com a SMIIC 1. No setor de catering (ISO 22002-2), práticas de higiene e segregação em cozinhas industriais reforçam os requisitos da SMIIC 17 Parte 3 para serviços de alimentação.
A ISO 22002-6 (varejo e distribuição) destaca a importância de controles finais para evitar contaminação cruzada, um princípio que ecoa as exigências da GSO 2055-1 para rotulagem clara e exposição segregada. Essa sinergia normativa permite que empresas desenvolvam sistemas de gestão unificados, reduzindo redundâncias e otimizando auditorias.

Benefícios Operacionais e Estratégicos

A integração das normas Halal com a ISO 22000 promove benefícios tangíveis e intangíveis. Entre os primeiros, destaca-se a redução de custos operacionais, com economias de até 30% em auditorias, conforme evidenciado por estudos de caso em indústrias de embalagens metálicas. A consolidação de documentação e processos também minimiza não conformidades, como apontado em análises de implementação da FSSC 22000, que combina ISO 22000 com requisitos setoriais.
No âmbito estratégico, a conformidade dual (segurança de alimentos e Halal) amplia o acesso a mercados globais, incluindo países do Golfo e Sudeste Asiático, onde a demanda por produtos certificados cresce 15% ao ano. A rastreabilidade avançada, facilitada por tecnologias como blockchain, fortalece a confiança do consumidor e atende a exigências regulatórias rigorosas, como as da Indonésia, que estendeu prazos para certificação de MPMEs até 2026.

Desafios na Implementação e Soluções

A complexidade regulatória representa um desafio significativo, especialmente para empresas que operam em múltiplas jurisdições. A GSO 2055-1 e a SMIIC 17, por exemplo, exigem atualizações frequentes em protocolos de armazenamento e transporte, demandando investimentos em treinamento e sistemas de gestão documental. Soluções como softwares de compliance integrado (ex.: SAP EHS) e parcerias com consultorias especializadas em normas Halal têm se mostrado eficazes para mitigar esses obstáculos.
Outro desafio é o custo inicial de certificação, particularmente para pequenas e médias empresas. Estratégias de priorização setorial, como focar em processos críticos de exportação, permitem uma implementação gradual, conforme observado em casos de sucesso no setor de carnes brasileiras, que exportaram US$ 3,61 bilhões em produtos Halal em 2024.

Conclusão: Uma Estratégia para Liderança Global

A integração das normas SMIIC, GSO 2055-1 e ISO 22000 transcende a mera conformidade técnica, posicionando-se como uma estratégia comercial indispensável para empresas que almejam liderança em mercados Halal. Ao alinhar segurança de alimentos avançada com princípios religiosos rigorosos, essa abordagem não apenas garante a integridade dos produtos, mas também fortalece a reputação corporativa em um cenário global marcado por consumidores cada vez mais exigentes.
Profissionais da área de qualidade e segurança de alimentos devem considerar essa integração não como um requisito burocrático, mas como uma oportunidade para inovação e diferenciação competitiva. A adoção de tecnologias emergentes, como blockchain para rastreabilidade, e o investimento em capacitação contínua das equipes serão determinantes para o sucesso nesse mercado em expansão. Assim, a harmonização normativa consolida-se como um marco para a excelência operacional e a sustentabilidade empresarial no século XXI.

FDA Atualiza Definição de "Saudável" nos Rótulos de Alimentos

FDA Atualiza Definição de “Saudável” nos Rótulos de Alimentos

FDA Atualiza Definição de “Saudável” nos Rótulos de Alimentos

A Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos anunciou uma mudança histórica na regulamentação da alegação nutricional “healthy” (“saudável”) nos rótulos de alimentos. Essa atualização, a primeira em 30 anos, reflete os avanços da ciência nutricional e tem como objetivo alinhar os critérios de rotulagem às necessidades contemporâneas de saúde pública. A nova definição busca capacitar consumidores a fazer escolhas alimentares mais informadas e estimular a indústria alimentícia a desenvolver produtos mais nutritivos.

O Histórico da Rotulagem “Saudável”

A alegação “saudável” foi regulamentada pela primeira vez em 1994, com o intuito de ajudar os consumidores a identificar alimentos que pudessem contribuir para uma dieta equilibrada. No entanto, os critérios originais eram limitados e não acompanhavam as descobertas científicas mais recentes. Produtos processados com altos níveis de sódio ou açúcares adicionados, por exemplo, muitas vezes conseguiam ser rotulados como saudáveis, gerando confusão entre os consumidores e dificultando a promoção de hábitos alimentares adequados.

Com o passar dos anos, ficou evidente que era necessário revisar esses critérios para refletir melhor as diretrizes nutricionais modernas e enfrentar os desafios crescentes relacionados à saúde pública, como o aumento das taxas de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. A nova abordagem da FDA marca um esforço significativo para corrigir essas lacunas e promover escolhas alimentares mais alinhadas às necessidades da população.

Como Funciona a Nova Definição?

A nova regulamentação estabelece critérios claros para que um alimento possa ser rotulado como “saudável”. Primeiramente, o produto deve conter quantidades mínimas de pelo menos um grupo alimentar essencial, como frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas ou laticínios. Além disso, há limites rigorosos para nutrientes críticos que estão associados ao risco de doenças crônicas: gorduras saturadas, sódio e açúcares adicionados.

Por exemplo, alimentos como salmão, azeite de oliva e mix de castanhas agora podem ser classificados como saudáveis devido ao seu perfil nutricional benéfico. Em contrapartida, produtos altamente processados com altos níveis de açúcares ou sódio, como cereais matinais adoçados ou iogurtes com grande quantidade de açúcar adicionado, não atendem mais aos critérios estabelecidos pela FDA. Essa mudança visa destacar alimentos que realmente contribuem para uma dieta equilibrada e desestimular o consumo daqueles que oferecem poucos benefícios à saúde.

Impactos na Indústria Alimentícia

Os fabricantes terão até 2028 para se adaptar às novas regras. Isso significa que muitas empresas precisarão reformular seus produtos para atender aos critérios atualizados se quiserem continuar utilizando o rótulo “saudável”. Essa adaptação pode incluir a redução do teor de açúcares adicionados e sódio ou o aumento do uso de ingredientes integrais e nutritivos.

Embora essa transição represente um desafio inicial para as indústrias alimentícias, ela também abre oportunidades significativas no mercado. Consumidores estão cada vez mais atentos à qualidade nutricional dos produtos que consomem, o que pode favorecer marcas que investem em inovação e transparência no desenvolvimento de alimentos mais saudáveis.

Além disso, a FDA está desenvolvendo um símbolo gráfico padronizado que será incluído nos rótulos dos produtos que atendem aos novos critérios. Esse símbolo facilitará a identificação rápida pelos consumidores nas prateleiras dos supermercados ou em plataformas digitais de compras. A iniciativa também inclui parcerias com empresas do setor tecnológico para promover alimentos saudáveis em ambientes online, ampliando ainda mais o alcance dessa política pública.

O Contexto Global e Comparações Internacionais

A atualização da FDA ocorre em meio a esforços globais para melhorar a qualidade da alimentação por meio da rotulagem nutricional. Nos Estados Unidos, o foco está em destacar alimentos positivos para a saúde por meio do selo “saudável”. Em contraste, países como o Brasil adotaram sistemas de alerta frontal que indicam quando os níveis de nutrientes críticos — como sódio, açúcar e gorduras saturadas — excedem os limites recomendados. Ambas as abordagens têm o mesmo objetivo: informar os consumidores sobre o impacto dos alimentos na saúde e promover escolhas alimentares conscientes.

Essa mudança também reflete uma preocupação crescente com as doenças crônicas relacionadas à dieta inadequada nos Estados Unidos. Dados recentes mostram que grande parte da população americana consome quantidades excessivas de sódio e açúcares adicionados enquanto ingere níveis insuficientes de frutas, vegetais e grãos integrais. Ao alinhar os critérios do rótulo “saudável” às diretrizes dietéticas modernas, a FDA espera contribuir para a redução desses desequilíbrios nutricionais e melhorar os padrões alimentares da população em geral.

Conclusão

A redefinição do termo “saudável” pela FDA representa um marco na política nutricional dos Estados Unidos e reflete um esforço abrangente para melhorar a saúde pública por meio da educação alimentar e da transparência nas informações dos rótulos. Mais do que uma simples mudança técnica na rotulagem dos alimentos, essa iniciativa destaca-se como uma estratégia integrada para combater doenças crônicas relacionadas à dieta inadequada e promover escolhas alimentares mais conscientes entre os consumidores.

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Arábia Saudita Assume Vice-Presidência do Codex Alimentarius

Arábia Saudita Assume Vice-Presidência do Codex Alimentarius

Em um marco significativo para a indústria alimentar global, a Arábia Saudita conquistou a vice-presidência da Comissão do Codex Alimentarius, reforçando seu papel na definição de normas internacionais de segurança alimentar. A eleição ocorreu durante a 47ª sessão anual da Comissão, realizada em Genebra, Suíça, na quarta-feira, 28 de novembro de 2024.

Khalid Al-Zahrani, representante saudita e atual presidente do Codex para a região do Oriente Próximo, foi eleito para o cargo de vice-presidente. Sua nomeação destaca o crescente reconhecimento internacional da Arábia Saudita no cenário da segurança alimentar global.

“Esta eleição reflete o compromisso contínuo da Arábia Saudita com a promoção de práticas alimentares seguras e sustentáveis em todo o mundo”, declarou Al-Zahrani após o anúncio. “Estamos ansiosos para colaborar com parceiros internacionais para fortalecer as normas alimentares globais.”

A ascensão de Al-Zahrani à vice-presidência do Codex Alimentarius está alinhada com os objetivos da Visão 2030 da Arábia Saudita, que busca aumentar a liderança do país em diversos setores, incluindo a segurança alimentar. Essa conquista também ressalta o papel da Autoridade Saudita de Alimentos e Medicamentos (SFDA) na promoção de normas rigorosas de segurança alimentar.

O Dr. Mohammed Al-Jawahiri, diretor da SFDA, comentou sobre o significado desta nomeação: “A eleição de Al-Zahrani não apenas demonstra a qualidade excepcional de nossos profissionais, mas também reforça nossa posição como líderes globais em segurança alimentar. Recentemente, a OMS reconheceu a Arábia Saudita como um dos primeiros cinco países do mundo a eliminar o uso de gorduras trans produzidas industrialmente em alimentos.”

O Codex Alimentarius, estabelecido pela FAO e OMS, é responsável por desenvolver normas alimentares internacionalmente reconhecidas. A participação da Arábia Saudita na liderança deste organismo promete trazer novas perspectivas e fortalecer a colaboração internacional no setor alimentício.

Para o setor Halal, esta nomeação representa uma oportunidade significativa. Espera-se que a influência da Arábia Saudita possa contribuir para uma maior harmonização das normas Halal em nível global, potencialmente facilitando o comércio internacional de produtos Halal e elevando os padrões de qualidade e segurança desses produtos.

A eleição de Al-Zahrani como vice-presidente do Codex Alimentarius marca um novo capítulo na história da segurança alimentar global, com potenciais impactos positivos para a indústria Halal e para consumidores em todo o mundo.

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