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Malásia Lidera Estrutura da Economia Digital na ASEAN: Compromisso com Transformação Regional

Em um movimento estratégico que demonstra seu papel proativo como presidente da ASEAN em 2025, a Malásia reafirmou seu compromisso com a implementação do Acordo de Estrutura da Economia Digital (DEFA). Esta iniciativa representa um marco significativo para o desenvolvimento econômico regional, com potencial para transformar fundamentalmente o panorama digital do Sudeste Asiático nos próximos anos.

O Compromisso da Malásia com a Transformação Digital Regional

A Malásia, sob liderança do Ministro Digital Gobind Singh Deo, tem enfatizado a urgência da implementação do DEFA como catalisador para o crescimento econômico regional. Em declarações recentes à imprensa, o ministro destacou que o acordo traz um potencial extraordinário para a economia digital regional, que projeta alcançar impressionantes $2 trilhões até 2030. Este valor representa um aumento significativo em relação às estimativas atuais, evidenciando o reconhecimento da transformação digital como pilar fundamental para o desenvolvimento econômico sustentável na região.

O compromisso da Malásia não é apenas retórico, mas tem se traduzido em ações concretas. O Primeiro-Ministro Anwar Ibrahim tem trabalhado ativamente com líderes regionais da ASEAN para acelerar a implementação do acordo, visando gerar impacto econômico não apenas para a Malásia, mas para toda a região no futuro próximo. Esta abordagem colaborativa reflete a compreensão de que o desenvolvimento digital regional requer esforços coordenados e visão compartilhada entre os países membros.

A priorização do DEFA como uma das principais conquistas econômicas sob a presidência da Malásia na ASEAN em 2025 demonstra a centralidade da economia digital na estratégia de desenvolvimento nacional e regional. O deputado Ministro de Investimento, Comércio e Indústria, Liew Chin Tong, confirmou que as negociações do acordo estão programadas para serem finalizadas até o final deste ano, estabelecendo um cronograma ambicioso mas necessário para a transformação digital da região.

A Arquitetura do DEFA: Além da Simples Digitalização

O acordo DEFA representa muito mais que um simples documento de intenções; ele estabelece a estrutura para um ecossistema digital dinâmico e abrangente para a região. Entre os elementos fundamentais contemplados no acordo estão a provisão de infraestrutura, implementação de comércio eletrônico, fortalecimento da cibersegurança, adoção de tecnologias de pagamento digital e políticas de transformação digital como a faturação eletrônica.

Estas discussões não são recentes – têm ocorrido ao longo de vários anos, refletindo a complexidade dos desafios envolvidos na harmonização digital de uma região tão diversa. A natureza abrangente do DEFA demonstra um entendimento sofisticado dos múltiplos componentes necessários para uma economia digital funcional e inclusiva, indo além da simples conectividade para abordar questões críticas como segurança, transações financeiras e transformação de processos.

A articulação destes elementos em um acordo coeso representa um avanço significativo na coordenação regional, especialmente considerando a heterogeneidade dos países da ASEAN em termos de desenvolvimento econômico e digital. O Blueprint da Economia Digital da Malásia, que complementa estas iniciativas regionais, define seis pilares estratégicos: impulsionar a transformação digital no setor público, aumentar a competitividade econômica através da digitalização, construir infraestrutura digital habilitadora, desenvolver talentos digitais ágeis e competentes, criar uma sociedade digital inclusiva e construir um ambiente digital confiável, seguro e ético.

Desafios e Abordagem Gradual para Implementação

Um dos desafios mais significativos na implementação do DEFA é a disparidade nos níveis de preparação digital entre os países membros da ASEAN. Como observado pelo Ministro Gobind Singh Deo, alguns países destacam-se em certos aspectos, enquanto outros ainda precisam de tempo para desenvolver sua infraestrutura de conectividade e ecossistema digital.

Reconhecendo esta realidade, a Malásia tem proposto uma abordagem gradual e flexível. Como presidente da ASEAN, o país está examinando mecanismos que permitam que países mais preparados avancem primeiro, enquanto os demais constroem suas capacidades. Esta estratégia busca equilibrar o imperativo de progresso com a necessidade de inclusão, evitando que o desenvolvimento digital amplie as desigualdades existentes entre as economias da região.

Para facilitar esta abordagem, a Malásia está implementando duas estratégias principais. A primeira envolve programas de capacitação entre os estados membros da ASEAN, com foco em áreas mais complexas e avançadas da digitalização, incluindo adoção de tecnologia digital, gestão de dados e proteção cibernética na cadeia comercial. A segunda estratégia enfatiza a implementação do DEFA em estágios e fases, seguindo o modelo já estabelecido pela ASEAN na formação da Comunidade Econômica, especialmente nos acordos de livre comércio.

Cooperação Digital e Segurança Cibernética: Fundamentos da Confiança Regional

Um aspecto crucial do compromisso da Malásia com a economia digital é o fortalecimento da cooperação em segurança digital. A Reunião dos Ministros Digitais da ASEAN (ADGMIN) desempenha papel fundamental neste contexto, oferecendo uma plataforma para os países membros discutirem desafios atuais e formularem planos de ação para enfrentar o futuro digital, incluindo questões prementes como fraudes online e desinformação.

As fraudes online representam um problema crescente que transcende fronteiras nacionais. Como destacado pelo Ministro Gobind, muitas vítimas são afetadas por perpetradores frequentemente localizados fora do país onde o problema ocorre, enfatizando a necessidade de uma estrutura regional que possa lidar com estas questões de maneira mais eficaz. A Malásia tem sido vocal sobre a necessidade de estabelecer normas digitais e de cibersegurança consistentes em toda a ASEAN, particularmente no campo em rápida evolução da inteligência artificial, para promover um ambiente digital confiável.

Esta perspectiva é reforçada pelo endosso de cinco projetos liderados pela Malásia em 2025, abrangendo a implantação segura de IA no Sudeste Asiático, desenvolvimento sustentável de centros de dados, estrutura de computação em nuvem transfronteiriça, desenvolvimento da força de trabalho 5G e desenvolvimento da estratégia de cooperação em cibersegurança da ASEAN. Estes projetos refletem uma abordagem holística para a segurança digital, reconhecendo que a confiança é fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa de economia digital.

Transformação Digital e Inclusão: Reduzindo o Fosso Digital na Malásia e ASEAN

A Malásia tem demonstrado progresso significativo em sua própria jornada de transformação digital, criando uma base sólida para sua liderança regional neste domínio. Um exemplo notável é a rápida adoção de transações sem dinheiro, com códigos QR sendo amplamente utilizados até mesmo em pequenos estabelecimentos comerciais. Esta adoção generalizada de carteiras eletrônicas coloca a Malásia à frente de muitos outros países da região em termos de digitalização financeira.

Contudo, persistem desafios significativos relacionados à inclusão digital. Estudos recentes destacam a necessidade de desenvolver um marco de competências para a economia digital específico para o contexto socioeconômico da Malásia, integrando alfabetização digital na educação básica e formação profissional, além de fomentar liderança digital sólida. Esta ênfase na capacitação humana reflete o entendimento de que a transformação digital bem-sucedida não depende apenas de infraestrutura, mas também do desenvolvimento de talentos e competências.

O Blueprint da Economia Digital da Malásia articula esta visão de forma abrangente, estabelecendo a direção, estratégias e metas para construir a base do crescimento da economia digital, incluindo a redução da divisão digital. O documento adota uma abordagem centrada nas pessoas, reconhecendo que a digitalização deve beneficiar a todos os cidadãos, não apenas aqueles já privilegiados com acesso e habilidades digitais.

Impactos Econômicos e Perspectivas para o Desenvolvimento Regional

Os impactos econômicos projetados do DEFA são substanciais. Conforme destacado pelo Ministro Gobind, espera-se que o acordo dobre o valor da economia digital da ASEAN para US$ 2 trilhões até 2030, em comparação com o valor projetado de US$ 1 trilhão. Esta duplicação representa não apenas crescimento quantitativo, mas uma transformação qualitativa da natureza da atividade econômica na região.

A Malásia está particularmente bem posicionada para beneficiar-se desta transformação, tendo já demonstrado progressos significativos em várias dimensões da economia digital. As estratégias da Malásia estão alinhadas com a agenda nacional para tornar o país uma nação digitalmente orientada e líder regional na economia digital até 2030. Isto se alinha com políticas nacionais como o Malaysia Digital Economy Blueprint e políticas setoriais gerenciadas pelo Ministério de Investimento, Comércio e Indústria, como o National Trade Blueprint e o New Industrial Master Plan 2030.

Pesquisas recentes também apontam para a relação positiva entre a economia digital e a redução do desemprego na Malásia, particularmente através da contribuição do setor de TIC para o PIB, acesso à banda larga e fluxos de investimentos estrangeiros diretos. Esta correlação sugere que o fortalecimento da economia digital pode ter benefícios tangíveis para o mercado de trabalho e o bem-estar econômico geral.

Conclusão: Liderança e Visão para uma ASEAN Digitalmente Integrada

O compromisso da Malásia em impulsionar a estrutura da economia digital representa um momento pivotal para o desenvolvimento regional no Sudeste Asiático. Através de sua liderança na ASEAN, o país está demonstrando uma visão abrangente que reconhece tanto o potencial transformador quanto os desafios inerentes à digitalização econômica.

A abordagem gradual e inclusiva proposta pela Malásia para a implementação do DEFA oferece um modelo promissor para a colaboração regional em áreas tecnologicamente complexas e socialmente sensíveis. Ao permitir que países com diferentes níveis de preparação digital avancem em seu próprio ritmo, enquanto mantêm um objetivo comum, esta estratégia tem o potencial de promover desenvolvimento compartilhado sem exacerbar desigualdades existentes.

O futuro da economia digital na ASEAN dependerá não apenas de acordos formais e estruturas institucionais, mas também do compromisso contínuo com princípios de inclusão, segurança e cooperação. Com sua ênfase nestes valores, juntamente com ações concretas para fortalecer capacidades digitais, a Malásia está estabelecendo uma base sólida para uma transformação digital que beneficie todos os cidadãos da região ASEAN.

Referências

  1. ASEAN Digital Ministers’ Meeting. Gobind: Asean must set consistent digital, cybersecurity standards to boost digital economy (https://www.malaymail.com/news/malaysia/2025/01/18/gobind-asean-must-set-consistent-digital-cybersecurity-standards-to-boost-digital-economy/163682)
  2. Bridging Digital Gaps: A Framework to Enhance Digital Economy Competences in Malaysia (https://semarakilmu.com.my/journals/index.php/applied_sciences_eng_tech/article/view/14898?articlesBySimilarityPage=2)
  3. Does the digital economy drive low-carbon urban development? The role of transition to sustainability (https://www.semanticscholar.org/paper/0c2e63887c601f3ea81848740e390139d46124cf)
  4. INTERNATIONAL COMMUNITY IN THE GLOBAL DIGITAL ECONOMY: A CASE STUDY ON THE AFRICAN DIGITAL TRADE FRAMEWORK (https://www.semanticscholar.org/paper/6820a02a43313126c8740ffa01108dcbd045fca2)
  5. Liew Chin Tong. Negotiations on Digital Economy Framework Agreement to be finalised by year-end (https://theedgemalaysia.com/node/746849)
  6. Malaysia committed to drive digital economy framework (https://theinvestor.vn/malaysia-committed-to-drive-digital-economy-framework-d15364.html)
  7. Malaysia Digital Economy Blueprint (https://dig.watch/resource/malaysia-digital-economy-blueprint)
  8. Malaysia drives efforts to finalise Digital Economy Framework Agreement under Asean chairmanship (https://www.mida.gov.my)
  9. Nexus between Solidarity Economy, Cooperative and Digital Economy at the Local Level: The case of Malaysia (https://www.semanticscholar.org/paper/6820a02a43313126c8740ffa01108dcbd045fca2)
  10. Unemployment and the Digital Economy in Malaysia: Unlocking the Potential of ICT for Sustainable Development (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11387931/)
  11. Unlocking the Future of Digital Economy: Harnessing Malaysia’s Dual 5G to Bridge the Digital Divide (https://www.atlantis-press.com/proceedings/bafe-24/126009217)
Rússia Expande Experimento em Finanças Islâmicas: Oportunidades para a Malásia no KazanForum 2025

Rússia Expande Experimento em Finanças Islâmicas: Oportunidades para a Malásia no KazanForum 2025

O mercado russo está se tornando cada vez mais acessível para investimentos do mundo islâmico. Desde 2023, um experimento em financiamento de parceria tem sido implementado com sucesso em várias regiões da Federação Russa, criando um novo mecanismo para atrair investimentos do mundo islâmico. O experimento agora está planejado para ser ampliado e estendido até o outono de 2028, com o parlamento russo pretendendo expandir a lista de transações permitidas sob a lei da Sharia, incluindo a possibilidade de seguro mútuo de interesses de propriedade. Essas mudanças visam aumentar a atratividade dos instrumentos de financiamento de parceria, especialmente para investidores dos países da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), da qual a Malásia faz parte.

A Evolução do Financiamento Islâmico na Rússia

O financiamento islâmico, também conhecido como financiamento de parceria, tem sido uma área de crescente interesse para a Rússia nos últimos anos. Este modelo financeiro, que segue os princípios da Sharia, proíbe o pagamento de juros (riba) e transações com juros relacionados, transações incertas (gharar), e o financiamento de setores econômicos específicos, como jogos de azar, produção de carne suína e bebidas alcoólicas. Em vez disso, ele enfatiza o compartilhamento de riscos entre as partes financiadoras e os clientes, baseando-se em ativos reais ou transações com esses ativos.

Em agosto de 2023, o presidente russo Vladimir Putin assinou uma lei para conduzir um experimento de introdução de bancos islâmicos na Rússia no período de 1º de setembro de 2023 a 1º de setembro de 2025. O experimento está sendo realizado nos territórios de Daguestão, Chechênia, Bashkortostan e Tartaristão. De acordo com a lei adotada, os participantes do financiamento de contrapartida não têm o direito de financiar atividades associadas à produção de produtos de tabaco e alcoólicos, armas, munições, comércio desses bens e também jogos de azar.

Significado para a Malásia

De acordo com Talia Minullina, Chefe da Agência de Desenvolvimento de Investimentos do Tartaristão, o volume de transações bancárias islâmicas mais do que dobrou no ano passado. O experimento está se desenvolvendo e pode eventualmente se tornar uma prática permanente. O Tartaristão é uma das quatro regiões da Federação Russa onde o experimento está ocorrendo, e é considerado o líder na Federação Russa em termos de volume de transações de financiamento de parceria.

Isso é particularmente importante para a Malásia, onde programas de financiamento de parceria e investimento são geralmente projetados para um longo período de até 7-10 anos, de acordo com especialistas. A Malásia, sendo líder em termos de participação nos ativos totais mundiais de bancos islâmicos e um dos maiores países em termos de ativos de finanças islâmicas, pode desempenhar um papel significativo neste novo mercado.

Potencial de Investimento Projetado

Em geral, o valor estimado de investimentos em projetos russos por meio do formato de financiamento islâmico é de mais de US$ 10 bilhões. Nos próximos dois anos, especialistas esperam um crescimento dez vezes maior nesta área.

“Para trabalhar com investidores dos países da Organização de Cooperação Islâmica, é extremamente importante formar um mercado de câmbio na Rússia, para que grandes emissores possam entrar no mercado e emitir vários instrumentos de orientação diferente no âmbito da legislação russa atual. Quando esses mecanismos funcionarem e normas claras forem prescritas, haverá muito mais investimentos”, disse Minullina.

Desenvolvimento de Capital Humano

Para desenvolver o novo mercado de investimentos, as regiões russas fortaleceram o treinamento de especialistas – financistas, advogados e gerentes. O pessoal é treinado em cooperação e de acordo com as normas da AAOIFI – Organização de Contabilidade e Auditoria para Instituições Islâmicas, com sede no Bahrein. O objetivo da AAOIFI é manter e promover normas da Sharia para instituições financeiras islâmicas.

Este trabalho está aumentando na Rússia e uma plataforma de investimento totalmente Halal já está sendo preparada para lançamento. Ela será compatível com as normas da AAOIFI e gerenciada por especialistas em finanças islâmicas. O projeto está sendo implementado em conjunto com dois fundos árabes e visa financiar startups promissoras na Rússia e na Comunidade dos Estados Independentes (CEI).

Aqueles que desejam investir poderão receber uma parte dos lucros futuros de acordo com os princípios da Sharia, enquanto as empresas poderão atrair fundos de parceiros e emitir o equivalente islâmico de títulos – sukuk. Atualmente, a plataforma está em processo de registro, com lançamento completo programado para maio de 2025.

Além disso, em 2025, a AAOIFI realizará, pela primeira vez, uma conferência internacional na Rússia sobre o tema: “Finanças e investimentos islâmicos: promovendo o desenvolvimento sustentável e a parceria global” no âmbito do KazanForum 2025.

Finanças Islâmicas como Impulsionador do Comércio

O desenvolvimento das finanças islâmicas também será positivo para o comércio. O volume de negócios da Rússia com países do Mundo Islâmico nos primeiros nove meses de 2024 totalizou US$ 106 bilhões. Desse montante, US$ 5,9 bilhões – representando um crescimento de 40% ao longo do ano – foram gerados pelo Tartaristão, onde o experimento na aplicação de finanças islâmicas é mais ativo e bem-sucedido. Pressupõe-se que esta região específica possa se tornar uma ponte de conexão entre a Rússia e os países da OCI.

“Nos últimos dois ou três anos, não apenas os números do volume de negócios cresceram, mas também o número de transações entre a Rússia e os países da OCI”, disse Abdelilah Belatik, Secretário Geral do Conselho Geral de Bancos e Instituições Financeiras Islâmicas (CIBAFI), na abertura de um programa de treinamento sobre finanças de parceria em Kazan, em fevereiro de 2025. Segundo ele, estes são principalmente Turquia, Emirados Árabes Unidos, países do Golfo, bem como Malásia e Indonésia.

O Papel Estratégico da Malásia

O desenvolvimento adicional das finanças islâmicas na Federação Russa no futuro próximo pode elevar os laços econômicos com os países do Sul Global a um novo patamar. Entre os principais participantes do novo mercado pode estar a Malásia, líder em termos de participação nos ativos totais mundiais de bancos islâmicos e um dos maiores países em termos de ativos de finanças islâmicas.

A disposição de estabelecer cooperação com a Rússia no setor de finanças islâmicas foi anunciada no outono de 2024 pelo Primeiro-Ministro da Malásia, Datuk Seri Anwar Ibrahim. Segundo ele, esta é uma das áreas nas relações bilaterais dos países onde a cooperação está atrasada.

Áreas Potenciais para Cooperação Futura

Entre as novas áreas de cooperação no futuro, pode-se assumir, estão investimentos conjuntos envolvendo finanças islâmicas nos ativos de empresas russas e estrangeiras. A Rússia está desenvolvendo rapidamente a “indústria Halal” – a produção de bens e serviços que atendem às normas islâmicas. Uma série de produtos tem perspectivas de exportação para países da OCI e para a Malásia.

Só na região do Tartaristão, existem mais de 100 indústrias Halal, e mais de duas dezenas são orientadas para exportação. Outras áreas incluem o desenvolvimento do estilo de vida Halal – turismo Halal, produção Halal, moda, finanças, TI e mídia – e em medicina e educação Halal. Os países da OCI, incluindo a Malásia, podem oferecer competências nessas áreas.

KazanForum 2025 como Evento-Chave

O XVI Fórum Econômico Internacional “Rússia – Mundo Islâmico: KazanForum” 2025, marcado para maio de 2025, mostrará como projetos conjuntos em finanças de parceria podem se desenvolver. Será realizado em Kazan, por seis dias a partir de 13 de maio de 2025, com o tema principal “Digitalização: uma nova realidade e oportunidades adicionais para expandir a cooperação.”

De acordo com Marat Khusnullin, Vice-Primeiro-Ministro russo, o 16º Fórum Econômico Internacional “Rússia – Mundo Islâmico” deverá atrair pelo menos 20.000 participantes. “Nosso evento gera interesse significativo entre as nações parceiras e em todo o mundo islâmico. Consideramos esta ocasião promissora tanto em termos de exportação de produtos russos quanto de importação de bens desses países. Preparamos um programa apropriado e iniciamos a campanha de inscrição, com mais de 20.000 participantes já confirmados”, anunciou Khusnullin após uma reunião do comitê organizador do evento.

Além da componente de negócios, os participantes do Fórum e convidados da capital do Tartaristão desfrutarão de ricos programas culturais e de exposição, incluindo o festival de cozinhas de países islâmicos, o Festival de Cultura Oriental da KFU, o festival Modest Fashion Day, entre outros eventos.

Conclusão

O desenvolvimento das finanças islâmicas na Rússia representa uma importante oportunidade de cooperação econômica entre a Rússia e os países do mundo islâmico, incluindo a Malásia. A extensão e ampliação do experimento de financiamento de parceria até 2028, a preparação para o lançamento de uma plataforma de investimento totalmente Halal, e a realização do XVI Fórum Econômico Internacional “Rússia – Mundo Islâmico: KazanForum” em maio de 2025 são passos significativos nesse sentido.

Para a Malásia, como líder mundial em finanças islâmicas, esta evolução abre portas para novas oportunidades de investimento e cooperação com a Rússia. A declaração do Primeiro-Ministro da Malásia, Datuk Seri Anwar Ibrahim, sobre a disposição de estabelecer cooperação com a Rússia no setor de finanças islâmicas sugere que ambos os países estão prontos para explorar essas oportunidades. O KazanForum 2025 será um evento-chave para mostrar como essas relações podem se desenvolver e quais projetos conjuntos em finanças de parceria podem ser implementados.

Referências

  1. Bernama. KazanForum 2025 : Russia Opens Up To Islamic Finance – What’s In Store For Malaysia? https://www.bernama.com/en/world/news.php?id=2413193
  2. TASS. At least 20,000 participants to attend KazanForum 2025, says Russian deputy PM. https://tass.com/society/1944973
  3. Interfax. Russian president signs law on Islamic banking experiment. https://interfax.com/newsroom/top-stories/93320/
  4. Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions. 1st International Conference on Partnership Finance and Investments to be held in Russia as part of KazanForum 2025. https://aaoifi.com/announcement/1st-international-conference-on-partnership-finance-and-investments-to-be-held-in-russia-as-part-of-kazanforum-2025/?lang=en
  5. The architecture of the business program of the Russia – Islamic World: KazanForum forum is presented. https://iz.ru/en/1851474/2025-03-10/architecture-business-program-russia-islamic-world-kazanforum-forum-presented

OIC Realiza a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais

OIC Realiza a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais

A Organização para Cooperação Islâmica (OIC) está realizando a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais na sede da OIC em Jeddah, Reino da Arábia Saudita. O evento, que teve início em 15 de abril de 2025, prosseguirá até 17 de abril de 2025, reunindo representantes dos estados membros para discutir e avaliar iniciativas estratégicas em diversas áreas de cooperação. Esta importante reunião estabelece diretrizes para as atividades futuras da organização e prepara resoluções que serão submetidas ao próximo Conselho de Ministros das Relações Exteriores.

A Organização para Cooperação Islâmica e a Importância da Comissão

A Organização para Cooperação Islâmica representa uma das mais influentes entidades intergovernamentais do mundo islâmico, dedicada a fortalecer laços entre os estados membros e promover seu desenvolvimento conjunto. A Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais constitui um órgão fundamental dentro da estrutura da OIC, responsável por avaliar e formular políticas nas áreas de cooperação econômica, ciência e tecnologia, cultura, assuntos sociais e familiares, juventude e esportes.

Esta 47ª sessão da Comissão ocupa posição estratégica no calendário da organização, pois seus resultados serão encaminhados ao 51º Conselho de Ministros das Relações Exteriores (CFM), programado para acontecer em Istambul, República da Turquia, em junho de 2025. O trabalho desenvolvido pela Comissão estabelece os fundamentos para decisões importantes que afetarão a cooperação entre nações islâmicas nos próximos anos.

Durante a Sessão de Abertura, o Secretário-Geral da OIC, Sr. Hissein Brahim Taha, ressaltou que o sucesso das atividades da organização para o próximo ano dependerá diretamente da orientação e suporte fornecidos por esta reunião. Ele destacou que, desde a última 50ª Sessão do CFM realizada em Yaoundé, República de Camarões, em 29-30 de agosto de 2024, a OIC continuou priorizando a execução de suas resoluções em domínios como econômico, ciência e tecnologia, assuntos culturais, sociais e familiares, juventude e esportes.

Avanços na Cooperação Econômica e Segurança Alimentar

Na área de cooperação econômica, o Secretário-Geral expressou satisfação ao relatar que a participação do comércio intra-OIC no comércio exterior global dos Estados Membros aumentou de 19,16% em 2023 para 20,36% em 2024. Como resultado desse crescimento, 30 Estados Membros da OIC já atingiram a meta de 25% de comércio intra-OIC, representando um avanço significativo na integração econômica entre as nações islâmicas.

O Secretário-Geral enfatizou que os esforços de cooperação entre os Estados Membros da OIC no domínio da agricultura e segurança alimentar receberam impulso adequado através do desenvolvimento do Projeto de Plano Estratégico para Segurança Alimentar nos Estados Membros da OIC. Esta iniciativa visa contribuir mais efetivamente para o aumento da produtividade agrícola, desenvolvimento rural e segurança alimentar nos países da OIC, além de fortalecer a cooperação intra-OIC neste domínio.

Este desenvolvimento é particularmente relevante considerando dados recentes que indicam um crescimento modesto no comércio intra-OIC, que subiu de 873 bilhões de dólares em 2022 para 884 bilhões de dólares em 2023, refletindo um aumento de aproximadamente 1,23% apesar das dificuldades econômicas globais. Este crescimento é atribuído a fatores como aumento dos preços de commodities, flutuações nas taxas de câmbio do dólar e euro, e implementação de acordos bilaterais e regionais de comércio e investimento.

Ciência, Tecnologia e Saúde: Prioridades Estratégicas

O Sr. Hissein Taha confirmou a importância do avanço da ciência e tecnologia, educação superior, saúde, meio ambiente e recursos hídricos nos Estados Membros da OIC. Neste sentido, ele destacou que o Secretariado Geral da OIC, em colaboração com o COMSTECH (Comitê Permanente para Cooperação Científica e Tecnológica da OIC), está desenvolvendo a Visão de Inteligência Artificial da OIC, que fornecerá uma estrutura estratégica para os Estados Membros na formulação de políticas nacionais de IA.

Esta iniciativa alinha-se com esforços mais amplos do COMSTECH, que recentemente lançou um “serviço especializado” para fomentar a cooperação tecnológica entre os estados membros da OIC. O serviço foi inaugurado durante a visita do Secretário-Geral da OIC, Hissein Ibrahim Taha, ao Secretariado do COMSTECH em Islamabad, junto com o Ministro de Ciência e Tecnologia do Paquistão, Khalid Maqbool Siddiqui. Esta iniciativa estratégica visa aprimorar a autossuficiência tecnológica, promover o desenvolvimento sustentável e mitigar a fuga de cérebros nos estados membros da OIC.

Na área da saúde, o Secretário-Geral apontou que o Secretariado Geral da OIC tem buscado ativamente várias iniciativas destinadas a prevenir e combater doenças, com foco particular em câncer, poliomielite e promoção da autossuficiência na produção de vacinas. Estas medidas representam um compromisso contínuo com o fortalecimento dos sistemas de saúde nas nações islâmicas.

Iniciativas Culturais e Desenvolvimento Social

No domínio cultural, o Secretário-Geral da OIC mencionou que o Secretariado Geral está trabalhando em estreita colaboração com os Estados Membros e instituições da OIC para organizar eventos culturais conjuntos. Adicionalmente, a organização acompanha a implementação da Resolução relativa ao estabelecimento da Plataforma para Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural no Mundo Muçulmano, em coordenação com as instituições envolvidas.

Com relação à cooperação intra-OIC no domínio social, o Secretário-Geral expressou satisfação ao relatar que o Secretariado Geral continua seus esforços para acompanhar a implementação das recomendações, incluindo o Documento de Jeddah sobre os Direitos das Mulheres no Islã, originadas da Conferência Internacional sobre Mulheres no Islã realizada em Jeddah, Arábia Saudita, em novembro de 2023. Este trabalho demonstra o compromisso da organização com o avanço dos direitos das mulheres e questões familiares dentro do contexto das tradições islâmicas.

Perspectivas Futuras e Resultados Esperados

Durante os três dias da Sessão da Comissão Islâmica, os representantes dos Estados Membros da OIC revisarão os projetos de resoluções nas áreas econômica, científica e tecnológica, cultural, social e familiar, juventude e esportes, recebidos dos Estados Membros. O resultado deste trabalho será submetido ao 51º Conselho de Ministros das Relações Exteriores (CFM), a ser realizado em Istambul, República da Turquia, em junho de 2025, para aprovação final.

Esta sessão representa um passo importante na contínua evolução da OIC como organização voltada para o desenvolvimento e cooperação, especialmente em um momento em que desafios globais como insegurança alimentar, mudanças climáticas e instabilidade econômica exigem respostas coordenadas. A capacidade da OIC de adaptar suas estratégias e reforçar a cooperação entre seus membros será fundamental para o sucesso de suas iniciativas futuras.

Conclusão

A 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais representa um momento crucial para a Organização para Cooperação Islâmica, oferecendo uma plataforma para avaliar o progresso alcançado e delinear estratégias futuras. Os avanços relatados em comércio intra-OIC, desenvolvimento agrícola, inovação tecnológica e questões sociais demonstram o compromisso contínuo da organização com o desenvolvimento holístico de seus Estados Membros.

O papel crescente da inteligência artificial, segurança alimentar e preservação cultural como prioridades estratégicas reflete uma adaptação às realidades contemporâneas e desafios emergentes. À medida que a sessão prossegue, seus resultados determinarão significativamente a direção da cooperação islâmica nas próximas décadas, com potencial para fortalecer a unidade e promover o desenvolvimento sustentável em todo o mundo muçulmano.

Referências

  1. Zawya – OIC holds the 47th session of the Islamic Commission for Economic, Cultural, and Social Affairs
    https://www.zawya.com/en/press-release/events-and-conferences/oic-holds-the-47th-session-of-the-islamic-commission-for-economic-cultural-and-social-affairs-qfidkhqy
  2. COMCEC – Summary report on trade
    https://www.comcec.org/wp-content/uploads/2024/05/3-Summary-report-on-trade.pdf
  3. Arab News – OIC’s COMSTECH launches ‘expert service’ to foster tech cooperation
    https://www.arabnews.com/node/2586002/pakistan
  4. Islamic Committee of the International Crescent – Participation in the meetings of the 46th Islamic Commission
    https://en.icic-oic.org/index.php/2024/08/04/participation-in-the-meetings-of-the-46th-islamic-commission-for-economic-cultural-and-social-affairs-session-of-the-organization-of-islamic-cooperation-oic-28-30-july-2024-jeddah-kingdom-of-saud/
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Semana da Moda Modesta em Abu Dhabi: Uma Atualização sobre este Movimento Estilístico Global

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A Semana da Moda Modesta celebra sua 10ª edição este mês em Abu Dhabi, não deixando dúvidas de que o movimento conquistou, com perseverança, seu lugar no cenário da moda global. O que antes era considerado um nicho de mercado transformou-se em uma força econômica poderosa, com projeções de gastos muçulmanos em moda atingindo impressionantes 428 bilhões de dólares até 2027. Este evento itinerante, que já passou por cidades como Istambul, Dubai, Londres, Riade, Amsterdã e Jacarta, reúne marcas de todo o mundo com o foco compartilhado na cobertura da pele, criando um espaço onde a comunidade da moda modesta não é uma reflexão tardia, mas o evento principal. A participação de figuras pioneiras como Halima Aden, Mariah Idrissi e Rawdah Mohamed sinaliza a maturidade de um movimento que transcende fronteiras culturais e religiosas, oferecendo uma alternativa poderosa aos conceitos tradicionais de moda e beleza.

As Origens e Evolução da Semana da Moda Modesta

Do Nicho ao Fenômeno Global

A jornada da Semana da Moda Modesta começou como uma iniciativa para dar visibilidade a um segmento subestimado da indústria da moda. Enquanto as tradicionais “Big Four” – semanas de moda de Nova York, Londres, Milão e Paris – dominavam o calendário fashion global, crescia a necessidade de um espaço dedicado para designers e consumidores que priorizavam a modéstia em suas criações e escolhas de vestuário. A primeira edição significativa ocorreu em Istambul em 2016, com a participação da designer emiradense Rabia Zargarpur no conselho consultivo, marcando o início de um movimento que rapidamente se expandiria para outras capitais da moda.

Em 2017, Dubai sediou sua primeira edição da Semana da Moda Modesta, com Zargarpur como diretora criativa, estabelecendo uma importante conexão entre o movimento e a região do Golfo. Este evento foi particularmente memorável pela participação de Halima Aden, que desfilou para o designer turco Raşit Bağzıbağlı usando um turbante elaboradamente amarrado e um vestido com mangas longas, decote alto e adornos de contas. A imagem de Aden sob o Burj Al Arab tornou-se emblemática para o público-alvo – mulheres com códigos de vestimenta profundamente ancorados que buscam roupas conservadoras independentemente das tendências do momento.

A Expansão para Abu Dhabi e sua Significância Regional

A escolha de Abu Dhabi para sediar a 10ª edição da Semana da Moda Modesta em 2025 não é coincidência. Os Emirados Árabes Unidos emergiram como uma das principais capitais da moda modesta do mundo, com uma infraestrutura robusta e um ecossistema que apoia designers, empreendedores e influenciadores neste espaço. Ozlem Sahin, organizadora turca da Semana da Moda Modesta, enfatiza que o evento não é meramente uma série de desfiles, mas uma plataforma dinâmica que conecta designers com entidades governamentais, varejistas, mídia e consumidores, fomentando um ambiente propício para colaboração e expansão.

O evento está programado para acontecer de 14 a 16 de abril de 2025 no The St. Regis Saadiyat Island Resort, reunindo marcas de pelo menos 10 países diferentes. A parceria entre a Think Fashion e a Miral Destinations para hospedar o evento foi destacada por Liam Findlay, CEO da Miral Destinations, que comentou: “Hospedar a 10ª edição da Semana da Moda Modesta na Ilha Saadiyat em Abu Dhabi, um evento reconhecido globalmente na indústria da moda, é um marco significativo”.

Protagonistas e Influenciadores da Moda Modesta

Trajetórias Inspiradoras de Modelos Pioneiras

Halima Aden, nascida em um campo de refugiados no Quênia, percorreu um caminho extraordinário desde sua participação no concurso Miss Minnesota USA em novembro de 2016 até sua estreia nas passarelas da Semana de Moda de Nova York. Ela desfilou para marcas como Tommy Hilfiger, Max Mara e Alberta Ferretti, e fez história como a primeira modelo velada na capa da Vogue Arabia em junho de 2017, além de ser a primeira modelo usando hijab a estrelar um ensaio da Sports Illustrated, sempre cobrindo sua pele e cabelo. Para a próxima Semana da Moda Modesta de Abu Dhabi, Aden se associou à marca turca Marina para criar uma coleção que celebra a individualidade dentro da modéstia.

Rawdah Mohamed, modelo norueguesa-somali, iniciou a campanha #handsoffmyhijab em 2021 e também apareceu na capa da Vogue Arabia no mesmo ano. Ela desfilou nas Semanas de Moda de Oslo, Copenhague e Paris, e também foi frequentemente fotografada no tapete vermelho e como ícone de estilo de rua, com seu talento para formas exageradas e sobreposições ousadas mudando a forma como a modéstia é vista na Europa. Mohamed estará presente na Semana da Moda Modesta de Abu Dhabi para apresentar sua colaboração com a marca turca Imannoor.

Mariah Idrissi, modelo britânica nascida em Londres de pais marroquinos e paquistaneses, marcou a história em 2015 como a primeira modelo usando hijab a estrelar em uma campanha global da H&M. Desde então, ela estampou capas de revistas e falou em conferências e cúpulas, defendendo a diversidade e a responsabilidade social na moda.

O Papel dos Designers e Organizadores

Rabia Zargarpur, designer emiradense, tem sido uma força motriz na evolução da moda modesta. Além de sua própria marca, ela estabeleceu a Modest Fashion Academy para oferecer masterclasses, workshops e sessões individuais para ajudar aspirantes a designers e empreendedores focados na modéstia a encontrarem seu caminho. “A orientação profissional é essencial para que as marcas de moda prosperem e ganhem reconhecimento na indústria. É um negócio, não apenas um outlet criativo, e entender isso é crucial para expandir”, explica ela.

Ozlem Sahin, organizadora turca da Semana da Moda Modesta, destaca que o evento em Abu Dhabi não é apenas uma série de desfiles, mas uma plataforma abrangente que facilita conexões entre diversos stakeholders da indústria. A programação incluirá masterclasses, workshops e painéis de discussão, criando oportunidades de aprendizado e networking para todos os participantes.

O Impacto Econômico e Cultural da Moda Modesta

Um Mercado em Ascensão

A moda modesta transcendeu sua classificação inicial como um nicho para tornar-se uma indústria internacional próspera. Segundo o Relatório Estado da Economia Islâmica Global 2023/24 da DinarStandard, os gastos muçulmanos com moda estão aumentando ano após ano e devem atingir 428 bilhões de dólares até 2027, um aumento substancial em relação aos 318 milhões de dólares registrados em 2022. O Golfo, naturalmente, está no epicentro desta revolução no varejo, e marcas locais de toda a região alcançaram sucesso tanto no Oriente Médio quanto além.

Este crescimento econômico se reflete na expansão da Semana da Moda Modesta para diferentes regiões e no aumento de sua frequência e popularidade. O evento tornou-se uma vitrine crucial para designers e marcas que buscam capturar uma parcela deste mercado lucrativo, oferecendo visibilidade e reconhecimento dentro da indústria que mais importa para eles – o público da moda modesta.

Redefinindo Padrões de Beleza e Estilo

Enquanto a elegância e a feminilidade podem ter caracterizado a estética que impulsionou o surgimento inicial da moda modesta, a revolução desde então ultrapassou tais limites. Halima Aden, vestida para uma sessão fotográfica com marcas como Loewe, Jacquemus, Valentino e Erdem, personifica a maturidade do movimento. Por vezes andrógina e experimental, a roupa que cobre a pele hoje é ousada e expressiva. De nichos como moda praia, roupas esportivas e acessórios para hijab, à sobreposição de roupas que nunca foram projetadas para cobrir a pele em primeiro lugar, a criatividade e inovação continuam a empurrar as fronteiras da moda modesta ainda mais longe.

A demanda por cortes conservadores tem um impacto no cenário varejista global – não há dúvida sobre isso. Mais fenomenalmente, a modéstia tornou-se mais acessível – e aceitável – em lugares onde anteriormente era ostracizada. “Ver mulheres usando hijab em campanhas globais, não como uma jogada de marketing única, mas como um reflexo de consumidores reais, tem sido enorme”, diz Aden. Este movimento não se trata apenas de visibilidade, mas de mudar mentalidades e expandir padrões de beleza.

A Evolução Estética e a Diversificação da Moda Modesta

Da Tradição à Inovação Contemporânea

A moda modesta evoluiu significativamente em sua estética e abordagem. O que começou com foco em elegância e feminilidade tradicional agora abrange uma gama muito mais ampla de expressões estilísticas. A experimentação com silhuetas andróginas, peças estruturadas e sobreposições criativas demonstra como o movimento amadureceu além das interpretações iniciais mais conservadoras. Os designs atuais são ousados, expressivos e frequentemente desafiam as noções preconcebidas sobre o que constitui a moda modesta.

Novas categorias têm surgido dentro deste espaço, incluindo moda praia modesta, roupas esportivas e acessórios específicos para hijab, atendendo a diversas necessidades e ocasiões. A inovação também se manifesta na forma como peças convencionais são recombinadas e sobrepostas para criar looks que respeitam os princípios da modéstia enquanto permanecem contemporâneos e fashion-forward.

Ampliando o Apelo para Além das Fronteiras Religiosas

Embora o poder de compra muçulmano possa estar impulsionando a moda modesta, o movimento atraiu muitas mulheres de outras religiões, bem como aquelas que não são religiosas. “Algumas a abraçam por conforto pessoal, outras para ambientes profissionais, e algumas como forma de rebelião contra normas de moda hipersexualizadas”, ressalta Aden. É um movimento impulsionado pela autonomia: escolher quanto revelar em vez de ser informado sobre o que é aceitável.

A modelo Mariah Idrissi espera que os valores fundamentais da modéstia sejam revividos, em vez de ofuscados pela comodificação avassaladora do conceito. Ela acredita que o movimento frequentemente se desvia de suas fundações baseadas na fé, enfatizando que a moda rápida, por exemplo, é inerentemente incompatível com os ideais islâmicos. “Quero chamar mais atenção para a importância da sustentabilidade e práticas éticas em marcas rotuladas como ‘modestas'”, diz ela, explicando que todo o processo – desde a obtenção de tecidos até o trabalho e produção – deve estar eticamente alinhado com a ética da fé.

O Futuro da Moda Modesta e seu Alcance Global

Tendências Emergentes e Próximos Passos

A 10ª edição da Semana da Moda Modesta em Abu Dhabi marca não apenas uma celebração de uma década de crescimento, mas também uma oportunidade para vislumbrar o futuro deste movimento dinâmico. As tendências emergentes sugerem um foco crescente em sustentabilidade e práticas éticas, alinhando-se com valores fundamentais que frequentemente são associados à modéstia. Há também um interesse crescente em explorar como tecnologia e inovação podem ser incorporadas tanto no design quanto na produção de moda modesta.

A diversificação continua a ser uma característica importante, com a moda modesta masculina ganhando mais atenção e espaço dentro do movimento. Enquanto tradicionalmente o foco estava na moda feminina, designers e marcas estão cada vez mais reconhecendo o potencial do mercado masculino e desenvolvendo coleções que atendem a este segmento.

Construindo uma Comunidade Global

“Ter uma comunidade funcional estável onde diferentes criativos podem elevar, inspirar e trabalhar juntos é essencial para o desenvolvimento futuro e sobrevivência da indústria”, diz Mohamed. 

A Semana da Moda Modesta em Abu Dhabi oferece precisamente este tipo de plataforma, reunindo talentos diversos e facilitando conexões que podem impulsionar o movimento adiante.

O impacto vai além da indústria da moda, influenciando conversas mais amplas sobre identidade cultural, representação e inclusão. A moda modesta demonstrou seu poder como veículo para expressão pessoal e cultural, proporcionando um meio através do qual indivíduos podem honrar suas tradições enquanto participam ativamente do diálogo global da moda contemporânea.

Conclusão

A 10ª edição da Semana da Moda Modesta em Abu Dhabi representa um marco significativo para um movimento que cresceu de um nicho especializado para uma força global transformadora na indústria da moda. A trajetória da moda modesta – desde suas raízes ancoradas em princípios religiosos e culturais até sua atual expressão diversificada e inovadora – ilustra o poder da representação autêntica e da inclusão genuína no mundo da moda. O evento não apenas celebra esta evolução, mas também aponta para um futuro onde a modéstia continua a inspirar criatividade, impulsionar crescimento econômico e desafiar noções convencionais de beleza e estilo.

Com figuras pioneiras como Halima Aden, Rawdah Mohamed e Mariah Idrissi liderando o caminho, e com o apoio de plataformas dedicadas como a Semana da Moda Modesta, este movimento está bem posicionado para continuar sua expansão e influência. À medida que Abu Dhabi acolhe esta celebração da moda modesta, fica claro que este não é apenas um momento de reflexão sobre o caminho percorrido, mas também uma oportunidade de moldar o futuro de uma indústria que valoriza diversidade, respeito e expressão pessoal autêntica.

Referências:

  1. HalalFocus. Modest Fashion Week is Coming to Abu Dhabi – Here’s an Update on This Global Style Movement. https://halalfocus.com/modest-fashion-week-is-coming-to-abu-dhabi-heres-an-update-on-this-global-style-movement/
  2. Halal Times. Abu Dhabi Modest Fashion Week Features Latest Global Trends. https://www.halaltimes.com/abu-dhabi-modest-fashion-week-features-latest-global-trends/
  3. Arab News. Global models to attend Modest Fashion Week. https://www.arabnews.com/node/2591668/lifestyle
Reuniões anuais do Banco Islâmico de Desenvolvimento em Argel 2025: cooperação, desenvolvimento sustentável e oportunidades para o mercado Halal global.

Grupo do Banco Islâmico de Desenvolvimento Realizará Reuniões Anuais de 2025 em Argel

O Grupo do Banco Islâmico de Desenvolvimento (IsDB) anunciou oficialmente a realização de suas reuniões anuais de 2025 na capital argelina, Argel. Este importante evento financeiro e de desenvolvimento está programado para ocorrer entre 19 e 22 de maio de 2025 no Centro Internacional de Conferências Abdelatif Rahal. Sob o tema central “Diversificando Economias, Enriquecendo Vidas”, estas reuniões representarão uma plataforma estratégica de alto nível para fortalecer a cooperação para o desenvolvimento e o intercâmbio de conhecimentos entre os países islâmicos. O evento reunirá representantes dos 57 países membros, parceiros de desenvolvimento, formuladores de políticas e líderes do setor privado com o objetivo de discutir formas de promover o desenvolvimento inclusivo e sustentável, além de enfrentar desafios econômicos comuns entre as nações islâmicas.

Estrutura e Objetivos do Encontro Anual

As reuniões anuais do IsDB em Argel servirão como um fórum crucial para o diálogo sobre desenvolvimento econômico e finanças islâmicas. O evento contará com a participação do Conselho de Governadores do IsDB, composto por representantes oficiais dos 57 países membros, todos trabalhando em conjunto para avançar agendas de desenvolvimento sustentável. A estrutura do evento foi cuidadosamente planejada para maximizar as oportunidades de colaboração e compartilhamento de conhecimento entre os participantes de diferentes setores e regiões geográficas.

Além das reuniões oficiais do conselho, o programa incluirá o Fórum do Setor Privado do Grupo IsDB, proporcionando um espaço para líderes empresariais explorarem potenciais investimentos e parcerias. O formato do evento também contempla mesas redondas de alto nível, onde especialistas e formuladores de políticas discutirão questões cruciais relacionadas ao desenvolvimento econômico islâmico. Os eventos temáticos paralelos abordarão tópicos específicos como diversificação econômica, resiliência, inovação e finanças Halal, oferecendo insights valiosos sobre tendências emergentes e melhores práticas no mundo islâmico.

Importância para a Argélia e o Mundo Islâmico

A escolha de Argel como sede das reuniões anuais de 2025 representa um reconhecimento significativo do papel da Argélia no cenário econômico e financeiro islâmico. Abdelkrim Bouzred, Ministro das Finanças da Argélia e presidente do Conselho de Governadores do IsDB, destacou a relevância deste evento para o país. “Este evento é de grande importância para a Argélia, oferecendo uma oportunidade significativa para elevar sua posição no cenário econômico global, destacando as reformas implementadas e mostrando os pontos fortes do país em cooperação, investimento e desenvolvimento sustentável”, afirmou o ministro em comunicado oficial divulgado no site do banco.

Muhammad Al Jasser, presidente do Grupo IsDB, complementou essas considerações ao expressar entusiasmo por realizar as reuniões anuais na histórica cidade de Argel, descrevendo-a como “um símbolo de cooperação e riqueza cultural”. Segundo ele, “essas reuniões representam um momento-chave para fortalecer parcerias e avançar em soluções inovadoras que impulsionarão o desenvolvimento sustentável em nossos países membros. É também um momento para abordar coletivamente os desafios globais urgentes e explorar novas oportunidades para o progresso compartilhado”.

Agenda Diversificada e Inclusiva

A agenda das reuniões anuais de 2025 revela a abrangência e profundidade das discussões planejadas. O programa incluirá várias sessões fechadas para o Conselho do Grupo IsDB, onde serão discutidas questões estratégicas e operacionais fundamentais para o direcionamento das políticas do banco. A Assembleia Geral da Federação de Consultores dos Países Islâmicos realizará um encontro exclusivo para convidados, reunindo especialistas em consultoria de diversos países islâmicos para compartilhar experiências e melhores práticas.

Um dos destaques da programação será o Fórum Global para Impacto e Erradicação da Pobreza (GIPE), que abordará estratégias inovadoras para reduzir a pobreza nos países membros. A Assembleia Geral da Federação de Empreiteiros dos Países Islâmicos (FOCIC) também terá espaço no evento, representando empreiteiros de 57 países membros do IsDB com o objetivo de apoiar e avançar a indústria da construção nessas nações. A federação, com sede em Riade, Arábia Saudita, desempenha um papel crucial no desenvolvimento da infraestrutura nos países islâmicos.

Foco em Economia Digital e Desenvolvimento Sustentável

As reuniões anuais também destacarão as “Soluções Digitais para Capacitação de MPMEs e Promoção do Desenvolvimento Socioeconômico”, refletindo a crescente importância da digitalização para o crescimento econômico nos países islâmicos. Este foco na economia digital representa um reconhecimento da necessidade de modernização e adaptação às tendências globais, especialmente em um mundo pós-pandemia onde a digitalização se tornou ainda mais crucial para a resiliência econômica.

Outro aspecto importante da agenda será a discussão sobre diversificação econômica, um tema particularmente relevante para muitos países islâmicos que buscam reduzir sua dependência de recursos naturais. As sessões dedicadas a este tema explorarão estratégias para desenvolver setores econômicos alternativos e criar economias mais resilientes e inclusivas. O desenvolvimento sustentável também ocupará um lugar de destaque nas discussões, com ênfase na incorporação de práticas ambientalmente responsáveis no planejamento econômico e financeiro.

A Relevância para o Mercado Halal Global

As reuniões anuais do IsDB têm implicações significativas para o mercado Halal global, incluindo oportunidades para empresas e instituições da América Latina. As discussões sobre finanças islâmicas e desenvolvimento econômico sustentável podem influenciar diretamente as normas e práticas relacionadas aos produtos e serviços Halal em todo o mundo. Para as empresas latino-americanas interessadas em acessar mercados islâmicos, compreender as tendências e direções discutidas nestes encontros pode ser fundamental para formular estratégias de mercado eficazes.

O foco em diversificação econômica também pode abrir novas oportunidades para parcerias comerciais entre países islâmicos e a América Latina, especialmente em setores como agricultura, processamento de alimentos, produtos farmacêuticos e cosméticos Halal. As empresas latino-americanas que adotam normas Halal e compreendem as nuances dos mercados islâmicos estarão bem posicionadas para explorar essas oportunidades de negócios emergentes.

Conclusão e Perspectivas Futuras

As reuniões anuais do Grupo do Banco Islâmico de Desenvolvimento em Argel representam uma oportunidade significativa para fortalecer a cooperação econômica entre os países islâmicos e promover o desenvolvimento sustentável em uma região de importância global. À medida que o mundo enfrenta desafios econômicos e ambientais crescentes, o papel das instituições financeiras islâmicas como o IsDB torna-se cada vez mais crucial para desenvolver soluções inovadoras e inclusivas.

Para observadores e participantes do mercado Halal global, estas reuniões servirão como um barômetro importante das tendências futuras em finanças islâmicas e desenvolvimento econômico. A ênfase no tema “Diversificando Economias, Enriquecendo Vidas” reflete uma visão de desenvolvimento que vai além do crescimento econômico, abrangendo também o bem-estar humano e a sustentabilidade ambiental. Esta abordagem holística está alinhada com os princípios fundamentais das finanças islâmicas e pode oferecer insights valiosos para todos os interessados em compreender e participar deste dinâmico setor econômico.

Referências:

  1. 2025 Islamic Development Bank Group Annual Meetings to be Held in Algiers, Algeria | News | IsDB

Crescimento do setor bancário islâmico na Malásia deve atingir 8%

Crescimento do setor bancário islâmico na Malásia deve atingir 8%

Perspectivas de Crescimento Bancário Islâmico na Malásia em 2025: Projeção de 8% Apesar das Incertezas Globais

O setor bancário islâmico da Malásia mantém uma trajetória de crescimento robusto, com projeções de expansão de 8% em 2025, segundo a RAM Ratings. Esta perspectiva positiva reflete a resiliência estrutural do setor, sustentada por uma base de capital sólida, qualidade de ativos superior à média do sistema financeiro e políticas governamentais alinhadas à promoção de princípios Halal. Apesar de desafios macroeconômicos globais, como volatilidade cambial e ajustes em subsídios domésticos, o ecossistema financeiro islâmico malaio demonstra capacidade adaptativa, consolidando sua posição como líder global no segmento.

Contextualização do Cenário Bancário Islâmico Malaio

A Malásia consolida-se como um polo global de finanças islâmicas, com participação de 43% do financiamento Halal no total de empréstimos bancários em 2024. Este avanço progressivo, que registrou aumento de um ponto percentual em relação ao ano anterior, decorre da estratégia “Islamic First”, adotada pelas principais instituições financeiras do país. A política incentiva a priorização de produtos e serviços alinhados à Sharia, combinando inovação financeira com compliance regulatório.

O crescimento do financiamento islâmico em 2024 atingiu 8,1%, superando significativamente a taxa de 3,7% observada no segmento convencional. Este desempenho não é isolado: nos últimos cinco anos, o setor Halal contribuiu com média de 72% para a expansão total de crédito no país. Tal dinâmica evidencia uma mudança estrutural no sistema financeiro, com consumidores e empresas adotando gradualmente instrumentos compatíveis com princípios éticos e religiosos.

Drivers Estruturais para a Expansão em 2025

Políticas Governamentais e Enquadramento Regulatório

O Bank Negara Malaysia (BNM) desempenha papel central na promoção do setor, com atualizações normativas recentes reforçando a resiliência operacional. Em janeiro de 2025, entrou em vigor novo marco para janelas bancárias islâmicas (IBWs), estabelecendo requisitos mínimos de capital e liquidez. Estas mudanças visam garantir independência operacional frente a unidades convencionais e ampliar a participação de instituições de desenvolvimento no ecossistema Halal.

Apesar de representarem apenas 2% dos ativos totais, as IBWs ganham relevância estratégica como canais de inclusão financeira. A RAM Ratings avalia positivamente a medida, destacando seu potencial para atrair novos participantes e diversificar fontes de financiamento.

Dinâmica de Mercado e Comportamento do Consumidor

A preferência por produtos éticos amplia-se entre jovens profissionais urbanos, impulsionando demanda por financiamento imobiliário e pessoal Halal. Parcerias entre bancos e fintechs aceleram a digitalização de serviços, com plataformas móveis integrando ferramentas de gestão financeira pessoal (PFM) compatíveis com a Sharia.

O setor corporativo também adere progressivamente a instrumentos islâmicos, particularmente em projetos de infraestrutura sustentável. Sukuk (títulos islâmicos) representaram 63% das emissões de dívida corporativa em 2024, atraindo investidores institucionais globais em busca de ativos alinhados a critérios ESG.

Análise de Indicadores-Chave de Desempenho

Qualidade de Ativos e Gestão de Riscos

O índice de financiamento bruto prejudicado (GIF) do setor reduziu para 1,3% em 2024, contra 1,5% no ano anterior. Esta melhoria decorre de estratégias ativas de recuperação de crédito, combinadas com critérios rigorosos de subscrição. A cobertura de capital contra inadimplências atingiu 122% em setembro de 2024, reforçada por reservas regulatórias prudentes.

O Common Equity Tier-1 (CET1) ratio manteve-se em 14%, proporcionando colchão seguro contra potenciais choques. Este indicador supera em quatro pontos percentuais a média do sistema bancário convencional, refletindo gestão conservadora aliada à natureza colaborativa dos contratos islâmicos.

Dinâmica de Captação de Recursos

Os depósitos islâmicos cresceram 5,9% em 2024, impulsionados principalmente por aplicações a prazo (+7,4%). Contas correntes e de poupança (CASA) registraram desaceleração, com expansão de 8,5% ante 10% em 2023. Paralelamente, contas de investimento (IAs) apresentaram crescimento excepcional de 17,5%, atraindo poupadores com mecanismos de participação nos lucros.

Este fenômeno permite aos bancos otimizar estruturas de capital, já que ativos vinculados a IAs (Contas de Investimentos) não exigem provisões regulatórias. Atualmente, estas contas representam 8% do funding total, com projeção de alcançar 12% até 2026 mediante iniciativas de educação financeira.

Inovação e Digitalização no Setor

A transformação digital acelera-se através de parcerias estratégicas entre bancos estabelecidos e startups fintech. Plataformas de crowdfunding baseadas em princípios Musharakah (parceria) e Mudarabah (investimento compartilhado) ganham tração entre PMEs. Em 2024, o volume transacionado nestas plataformas atingiu RM 4,2 bilhões, triplicando em relação a 2022.

Soluções de open banking permitem integração segura entre contas islâmicas e serviços de terceiros, como comparadores de produtos Halal e ferramentas de zakat (contribuição religiosa). A adoção de inteligência artificial para análise de crédito reduziu tempo médio de aprovação de financiamentos em 37%, conforme dados do BNM.

Desafios e Riscos para 2025

Ambiente Macroeconômico Global

Pressões inflacionárias persistentes nos mercados desenvolvidos podem impactar custos de importação e cadeias de suprimentos locais. A normalização monetária em economias avançadas eleva riscos de fuga de capitais, exigindo gestão ativa de liquidez por parte do BNM.

O programa de racionalização de subsídios, previsto para o segundo semestre de 2025, representa teste crucial para a resiliência do consumo doméstico. Setores sensíveis, como transporte e alimentos, podem requerer linhas emergenciais de financiamento islâmico para mitigar impactos sociais.

Competitividade Internacional

A ascensão de centros financeiros islâmicos regionais, como Indonésia e Emirados Árabes, intensifica a disputa por investimentos estrangeiros. A Malásia responde com iniciativas como o Malaysia International Islamic Financial Centre (MIFC), oferecendo incentivos fiscais para operações em ringgit offshore.

Conclusão: Consolidando Liderança Global

O setor bancário islâmico malaio posiciona-se como modelo de sucesso na convergência entre inovação financeira e compliance religioso. As projeções de crescimento para 2025 refletem maturidade institucional alcançada através de décadas de desenvolvimento regulatório e capacitação técnica.

A manutenção da trajetória ascendente exigirá foco contínuo em educação financeira, aprimoramento de infraestrutura digital e aprofundamento de mercados de capitais Halal. A integração entre princípios éticos islâmicos e critérios ESG surge como oportunidade estratégica para atrair nova geração de investidores globais.

Referências

  1. Islamic Banking to Grow 8% in 2025, RAM Ratings Says
ETFs Islâmicos, Halal, Sharia, ESG, Sukuk, Investimentos Éticos

ETFs Islâmicos: Expansão do Mercado e Desafios para Crescimento Futuro

Os fundos de índice negociados em bolsa (ETFs) islâmicos vêm ganhando popularidade significativa entre investidores globais, representando uma combinação estratégica entre diversificação de portfólio e princípios éticos da finança islâmica. Apesar desse crescimento constante, especialmente em regiões como Oriente Médio, Norte da África e Sudeste Asiático, diversos desafios persistem e limitam sua expansão mais acelerada. Os ativos sob gestão de ETFs vinculados a índices islâmicos registraram um aumento expressivo, saltando de $326 milhões em 2018 para $2,33 bilhões até setembro de 2023, segundo relatório da S&P, demonstrando o potencial deste segmento para investimentos que buscam conformidade com os princípios da Sharia.

Fundamentos dos ETFs Islâmicos

Os ETFs tornaram-se elementos fundamentais no cenário global de investimentos, oferecendo aos investidores uma maneira flexível e custo-efetiva de diversificar seus portfólios. Esses instrumentos frequentemente acompanham importantes índices como o S&P 500 ou o Índice MSCI, proporcionando liquidez e exposição a várias classes de ativos. Para investidores que buscam conformidade com a Sharia, os ETFs islâmicos combinam diversidade de portfólio com os princípios éticos da finança islâmica.

Um fundo negociado em bolsa é uma cesta de títulos, como ações, commodities ou títulos de dívida, que é listada e negociada em uma bolsa de valores. Os ETFs compatíveis com a Sharia são submetidos a triagens para garantir conformidade com a lei islâmica, excluindo empresas envolvidas em atividades proibidas. Essa característica fundamental diferencia os ETFs islâmicos dos convencionais, estabelecendo um critério de seleção de ativos baseado em preceitos religiosos e éticos.

Hadeel AbuShoumar, responsável por produtos na Alkhair Capital, sediada em Dubai, acredita que os ETFs islâmicos estão bem posicionados graças ao seu apelo a uma ampla gama de investidores. “Eles estão perfeitamente posicionados para se tornarem uma opção preferencial para fundos de aposentadoria e pensão no MENA e Sudeste Asiático”, afirmou. “Estas regiões têm enormes populações de expatriados e riqueza local significativa que poderia ser canalizada para fundos compatíveis com a Sharia.”

Alinhamento com Princípios ESG

Considerando que as finanças islâmicas se alinham com os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) mais amplos, o crescimento do mercado de ETFs islâmicos também tem sido impulsionado por uma demanda crescente por investimentos éticos. Esta convergência entre os valores islâmicos tradicionais e as preocupações contemporâneas com sustentabilidade e responsabilidade social representa um diferencial importante para atrair investidores de diferentes backgrounds religiosos e culturais.

Acesso a Ativos Halal

Uma das principais vantagens dos ETFs islâmicos é sua capacidade de proporcionar acesso a ativos Halal que, de outra forma, seriam difíceis ou caros para investidores individuais comprarem diretamente. Por exemplo, o Sukuk, um instrumento compatível com a Sharia com características semelhantes a um título de dívida, está se tornando amplamente disponível. No entanto, altos custos de transação e opções limitadas de mercado frequentemente dificultam o acesso independente para investidores de varejo.

Sefian Kasem, chefe de especialistas em investimentos, Estratégia de ETF na HSBC Asset Management, vê potencial significativo para crescimento nesta área. “À medida que os mercados de Sukuk continuam a crescer rapidamente, acreditamos que provavelmente haverá uma gama mais rica de fundos e ETFs cobrindo diferentes segmentos do mercado de Sukuk, ampliando a gama de perfis de risco de renda fixa disponíveis para investidores compatíveis com a Sharia globalmente”, explicou.

Os ETFs islâmicos também podem ser estruturados para visar setores específicos, dando aos investidores opções mais focadas. AbuShoumar afirma que há oportunidade para desenvolver ETFs temáticos. “Há espaço para inovação aqui – imagine ETFs islâmicos temáticos que se concentrem em setores como energia limpa ou tecnologia”, disse ela. “Além disso, à medida que mais pessoas veem a sobreposição entre finanças islâmicas e princípios ESG, há uma oportunidade para atrair investidores socialmente conscientes, muçulmanos e não-muçulmanos.”

Concentração em Ouro e Limitações

Apesar do potencial de diversidade para ETFs islâmicos, o mercado permanece fortemente concentrado em poucas classes de ativos, sendo o ouro a dominante. ETFs lastreados em ouro compatíveis com a Sharia tornaram-se o produto mais popular neste segmento, devido ao status do metal como um ativo de “porto seguro”, particularmente em tempos econômicos precários.

Essa concentração pode potencialmente dificultar o crescimento e a inovação, dizem alguns profissionais do mercado. “O universo de ETFs islâmicos em termos de capitalização de mercado é dominado por um produto massivo lastreado fisicamente em ouro”, disse Akber Khan, CEO interino da Al Rayan Investment. “Os emissores de ETFs estabelecidos não se preocuparam realmente em oferecer uma gama de produtos islâmicos multi-ativos, enquanto a maioria dos gestores islâmicos tem sido lenta para avançar.”

Entretanto, Kassem, da HSBC, acredita que há um enorme escopo para criar uma gama mais ampla de ETFs compatíveis com a Sharia que possam fazer um trabalho melhor de abranger classes de ativos convencionais, incluindo ações públicas e renda fixa. Esta diversificação representa um passo crucial para o amadurecimento do mercado de ETFs islâmicos.

Barreiras para o Crescimento

Para criar uma gama completa de ETFs compatíveis com a Sharia, desafios-chave que corroem o crescimento dos ativos devem ser abordados. A liquidez permanece um dos obstáculos mais significativos. Enquanto os ETFs convencionais se beneficiam de bolsos profundos devido ao tamanho e maturidade dos mercados subjacentes, os ETFs islâmicos frequentemente lutam com escalas menores e fundos limitados.

“Para ETFs islâmicos, há uma falta de negociabilidade e liquidez, e a oferta de mercado ainda é pequena quando comparada a ETFs convencionais. Isso ocorre porque, principalmente em muitas nações da OIC (Organização para Cooperação Islâmica), o desenvolvimento de ETFs não recebeu muita atenção, já que existem prioridades mais urgentes como bancarização, e menos ainda disponibilidade de produtos de investimento compatíveis com a Sharia”, disse Bashar AlNatoor, chefe de finanças islâmicas na Fitch Ratings.

A situação difere para ETFs focados em Sukuk. “Com os mercados de Sukuk, o perfil de liquidez é um pouco diferente e mais próximo da renda fixa de mercados emergentes do que da renda fixa de mercados desenvolvidos”, acrescentou Kassem.

Além disso, muitos ETFs islâmicos são listados em mercados emergentes, onde os marcos regulatórios e a infraestrutura financeira ainda estão sendo desenvolvidos. Isso impede a atividade de negociação diária, spreads de compra e venda, liquidez e, em última análise, preços, acrescentou Khan, da Al Rayan Investment.

Desafios de Custos e Conscientização

A estrutura de custos dos ETFs islâmicos também apresenta uma enorme barreira para sua adoção. A triagem e o monitoramento regulares da Sharia são essenciais para garantir a conformidade do fundo, o que muitas vezes pode levar a custos operacionais mais altos em comparação com ETFs convencionais.

“Pode ser difícil para investidores de varejo acessar ETFs Halal. Existem dificuldades com relação aos custos de negociação em diferentes geografias”, explicou Monem Salam, vice-presidente executivo da Saturna Capital, com sede nos EUA. “Isso está amplamente relacionado à legislação tributária e outros custos relacionados em diferentes mercados.”

No entanto, garantir que a gestão, administração, operações e outras práticas sejam compatíveis com a Sharia é igualmente importante, acrescentou Sefian Kasem. Processos adicionais requerem monitoramento por um conselho de Sharia credível e acarretam custos associados.

“Eles são essenciais para garantir a conformidade com a Sharia, mas tendo dito isso, acreditamos que é importante para gestores de ativos como nós garantir que esses custos sejam corretamente e justamente equilibrados versus requisitos adicionais associados a fundos de investimento compatíveis com a Sharia”, explicou.

A falta geral de conscientização sobre esses ativos também reduz seu crescimento, dado que informações relevantes sobre o que separa um ETF islâmico de seu par convencional são amplamente ausentes. AbuShoumar acredita que educar o público sobre ETFs islâmicos será fundamental para aumentar a adoção.

“Instituições financeiras precisam facilitar para as pessoas entenderem o que são esses fundos e por que eles importam”, disse ela. “Trabalhar com plataformas de fintech ou mesmo influenciadores de mídias sociais poderia fazer uma enorme diferença para alcançar públicos mais jovens.”

Tendências Futuras e Expansão Global

Os índices islâmicos fornecem aos participantes do mercado um conjunto abrangente de benchmarks compatíveis com a Sharia para ações e sukuk, oferecendo uma variedade diversificada de estratégias adaptadas a vários objetivos de investimento. Historicamente, o investimento islâmico tem sido predominantemente gerido ativamente; no entanto, uma mudança recente em direção ao investimento passivo é evidente, especialmente à medida que os investidores de Sharia veem os benefícios dos ETFs — incluindo transparência e eficiência de custo — sobre fundos ativos.

Na região predominantemente muçulmana do Oriente Médio e Norte da África (MENA), os benefícios dos investimentos passivos são especialmente pronunciados. De acordo com o S&P Indices Versus Active (SPIVA) MENA Mid-Year 2023 Scorecard, 85%-88% dos fundos de ações na região tiveram desempenho inferior aos seus benchmarks e apenas 42% sobreviveram na última década.

Conclusão

Os ETFs islâmicos representam uma evolução significativa no cenário de investimentos éticos, oferecendo aos investidores muçulmanos e àqueles preocupados com princípios éticos uma alternativa viável aos produtos financeiros convencionais. Apesar dos desafios relacionados à liquidez, custos operacionais e conscientização do mercado, o crescimento constante dos ativos sob gestão indica uma demanda sustentada por esses produtos.

À medida que o mercado amadurece, espera-se maior diversificação além dos ETFs lastreados em ouro, com desenvolvimento de produtos temáticos que atraiam tanto investidores muçulmanos quanto não-muçulmanos interessados em investimentos éticos. A educação financeira e o desenvolvimento de infraestruturas de mercado mais robustas em regiões emergentes serão cruciais para sustentar esse crescimento.

O alinhamento natural entre os princípios da finança islâmica e os critérios ESG posiciona estrategicamente os ETFs islâmicos para capitalizar sobre a crescente tendência global de investimentos responsáveis, potencialmente ampliando seu apelo para além dos mercados tradicionais. No entanto, a capacidade da indústria de superar os desafios estruturais de custos e liquidez determinará seu sucesso de longo prazo e a competitividade frente às alternativas convencionais.

Referências

  1. Islamic ETFs find favour among investors, though growth challenges persist. Salaam Gateway – Global Islamic Economy Gateway.
  2. Solving the Dynamics of Shariah in ETFs & ETNs. Shariyah Review Bureau.
  3. The Growth of Passive Investments in Islamic Finance: Trends and Implications. S&P Global.
  4. Halal ETFs Compared: The Ultimate Guide. Amal Invest.
  5. Best Halal ETFs to Invest in 2025. Musaffa Academy.
A Indústria de Alimentos Halal no Canadá: Crescimento, Desafios e Oportunidades

A Indústria de Alimentos Halal no Canadá: Crescimento, Desafios e Oportunidades

A indústria global de alimentos Halal está em constante ascensão, com estimativas atuais avaliando o mercado em aproximadamente 3,3 trilhões de dólares. Projeções indicam que este setor deve alcançar 5,96 trilhões de dólares até 2033, refletindo uma taxa composta de crescimento anual de 9,33% no período entre 2025 e 2033. O Canadá emerge como um importante participante neste mercado, impulsionado por uma população muçulmana em crescimento e por um interesse crescente entre consumidores não-muçulmanos que buscam alternativas alimentares éticas. No entanto, apesar deste potencial promissor, a indústria enfrenta desafios significativos, principalmente relacionados à fragmentação do sistema de certificação Halal no país, criando um cenário complexo para produtores, varejistas e consumidores.

O Mercado Halal em Crescimento no Canadá

O setor de alimentos Halal no Canadá representa um mercado substancial, fortemente vinculado ao influxo de imigrantes que o país recebe anualmente. Segundo dados do governo canadense, o país acolhe aproximadamente meio milhão de novos imigrantes a cada ano, sendo que uma porcentagem significativa destes novos residentes consome produtos Halal, gerando um gasto anual superior a 1 bilhão de dólares. De acordo com estimativas do The Globe and Mail, apenas o setor de carne Halal canadense deverá atingir 300 milhões de dólares até 2031, crescendo a uma taxa anual entre 10% e 15%. Analistas projetam que o mercado canadense de alimentos e bebidas Halal—já avaliado entre 1 bilhão e 2,6 bilhões de dólares, dependendo da previsão—deverá crescer a taxas de dois dígitos nos próximos anos.

Este crescimento local reflete tendências globais mais amplas. Segundo dados da Statista (2021), o gasto global dos consumidores muçulmanos com alimentos foi de aproximadamente 1,3 trilhão de dólares em 2021, com projeção de alcançar quase 1,7 trilhão de dólares até 2025, indicando que a demanda por produtos Halal se estende muito além das regiões de maioria muçulmana. A posição do Canadá no comércio global de carne, que forma a espinha dorsal de seu mercado Halal interno, é particularmente relevante neste contexto.

Demografia e Demanda por Produtos Halal

A população muçulmana do Canadá representa um elemento crucial para a expansão do mercado Halal. Nas últimas duas décadas, esta população praticamente dobrou e continua em trajetória ascendente. Segundo a Statistics Canada, até 2021, os muçulmanos constituíam quase 5% da população total do país, um número significativo que justifica o crescente interesse das empresas em oferecer produtos Halal. Este crescimento demográfico, combinado com o aumento da renda disponível e a globalização crescente, impulsiona a demanda por uma gama cada vez mais diversificada de produtos Halal.

Um aspecto interessante deste mercado é o interesse crescente entre consumidores não-muçulmanos, que frequentemente reconhecem a certificação Halal como um indicador adicional de qualidade alimentar. Como observa Salima Jivraj, diretora de contas e líder multicultural na Nourish Food Marketing, o crescimento no setor Halal não é impulsionado apenas pelo aumento populacional, mas também pelo interesse cada vez maior de canadenses não-muçulmanos. Este fenômeno amplia consideravelmente o potencial de mercado para produtos certificados Halal, transcendendo seu público-alvo tradicional.

O Desafio da Certificação Fragmentada

Apesar do otimismo do setor, a indústria Halal canadense enfrenta um dilema crítico: a ausência de um padrão nacional unificado de certificação. Atualmente, a Agência Canadense de Inspeção de Alimentos (CFIA) exige que produtos rotulados como Halal sejam certificados, mas não regula os próprios certificadores. A supervisão atual depende de entidades independentes como o Conselho Islâmico de Alimentação e Nutrição do Canadá (IFANCC), a Autoridade de Monitoramento Halal (HMA) e o Grupo Consultivo Halal (HAG).

Omar Subedar, da HMA, enfatiza que sem um processo de certificação abrangente e uniforme, a confiança do consumidor pode ser comprometida. Para receber certificação Halal, os produtos devem passar por uma avaliação minuciosa por uma organização certificadora Halal credenciada. Isto envolve uma revisão detalhada de toda a cadeia de suprimentos e do processo de fabricação para garantir que nenhum elemento ou prática comprometa a integridade Halal através de contaminação cruzada.

As nuances vão além dos protocolos de abate; contaminação cruzada, alimentação permitida para frutos do mar de criação e inclusão de ingredientes não-Halal, como gelatina à base de porco, podem invalidar o status Halal de um produto se não forem cuidadosamente gerenciados. Em 2004, Subedar e outros membros do Conselho Canadense de Teólogos Muçulmanos corroboraram isso ao realizar uma avaliação abrangente do setor de carne Halal, afirmando que cerca de 90% da carne disponível para os consumidores não adere realmente aos requisitos Halal.

Distribuição Regional e Principais Marcas

A distribuição geográfica da indústria Halal no Canadá apresenta padrões distintos, com Ontário e Quebec tradicionalmente liderando o cenário alimentar Halal no país. Estas províncias abrigam comunidades muçulmanas significativas que sustentam um robusto ecossistema de varejistas, restaurantes e mercearias especializadas com certificação Halal. No entanto, províncias como Alberta e Colúmbia Britânica estão rapidamente se equiparando, impulsionadas por níveis mais altos de imigração e crescente curiosidade dos consumidores por alimentos especializados.

O mercado canadense de alimentos Halal é representado por diversas marcas líderes que demonstram o interesse crescente neste segmento. Empresas como Mina Halal Foods, Zabiha Halal (Maple Lodge Farms), Sufra Halal, Iqbal Food Inc., Solmaz, Crescent e Sargent Farms têm estabelecido uma presença significativa no mercado. Além disso, o advento de plataformas de comércio eletrônico e serviços de entrega como Uber Eats e Instacart tem aumentado o alcance e a escala dos itens Halal, facilitando o acesso a estes produtos para uma base de consumidores mais ampla.

Grandes Cadeias e a Adoção do Halal

O potencial do setor alimentar Halal tem levado grandes marcas a entrar neste mercado, com resultados variados. Um caso particular que exemplifica essa tendência ocorreu em maio de 2023, quando o Kentucky Fried Chicken (KFC) Canadá se viu no centro de uma polêmica nas redes sociais após relatos sugerirem que certas localizações em Ontário poderiam mudar para servir apenas frango Halal. Esta decisão provocou acusações de “privilegiar uma minoria” e gerou debate público sobre inclusividade e preferências alimentares.

Mais recentemente, em 2024, o KFC Canadá anunciou que estava servindo carne Halal em todas as suas lojas de Ontário (exceto Thunder Bay e Ottawa), uma mudança que passou relativamente despercebida por muitos consumidores. A empresa também decidiu descontinuar produtos de porco em todos os locais, exceto aqueles co-marcados com o Taco Bell, como parte de sua iniciativa para oferecer opções de menu mais inclusivas. Esta decisão gerou reações mistas, com alguns consumidores apoiando a mudança por permitir que “mais pessoas jantem confortavelmente no KFC”, enquanto outros a criticaram como “totalmente inaceitável”.

Outras grandes marcas como Popeyes, Mary Brown, Boston Pizza e Osmow’s também introduziram itens Halal em estabelecimentos selecionados. No entanto, estas empresas nem sempre divulgam todas as medidas tomadas para prevenir a contaminação cruzada, frequentemente gerando ceticismo entre consumidores observantes. No nível do consumidor, a pressão por ofertas Halal autênticas está se manifestando em percepções mutáveis das marcas, ceticismo mais profundo em relação a alegações incompletas e renovados apelos por uma estrutura regulatória mais credível.

Inovação e Perspectivas Futuras

O futuro da indústria de alimentos Halal no Canadá parece promissor, com líderes do setor mantendo-se otimistas apesar dos desafios. Impulsionado por uma geração mais jovem de muçulmanos que buscam alimentos Halal convenientes e prontos para consumo que se adequem a estilos de vida modernos, a Agriculture and Agri-Food Canada projeta que o setor canadense de alimentos Halal está preparado para empreendedorismo e inovação.

Uma área promissora de inovação envolve o uso de tecnologia de blockchain para aprimorar a rastreabilidade dos alimentos Halal. Segundo Sayarun Nessa, Diretora da Halal Commerce Canada Inc., investimentos em soluções blockchain e Internet das Coisas (IoT) podem otimizar a cadeia de suprimentos Halal. “Sem um sistema confiável para rastrear um produto Halal do campo à mesa, a confusão persistirá”, afirma ela, destacando o potencial da transparência impulsionada pela tecnologia para abordar fraudes e unificar protocolos.

A aplicação de blockchain pode ser um divisor de águas para a rastreabilidade de produtos alimentares Halal, embora mal-entendidos em torno da tecnologia, estudos de caso limitados e falta de endosso regulatório permaneçam como obstáculos significativos. A tecnologia blockchain pode verificar toda a jornada de um produto, do campo à mesa, reduzindo o risco de fraude na certificação Halal e ajudando fabricantes de alimentos e varejistas a evitar recalls dispendiosos de produtos.

Considerações Culturais e Religiosas

A expansão do mercado Halal no Canadá também suscita questões culturais e religiosas importantes. Por exemplo, membros da comunidade Sikh têm manifestado preocupações com a disseminação de carne Halal, pois sua religião proíbe o consumo de carne ritualística. Segundo relatos de comunidades Sikh, tanto a carne Halal quanto a kosher utilizam processos nos quais o animal morre sob grande dor ao ter seu pescoço lentamente cortado e sendo deixado para morrer enquanto todo o sangue é drenado.

Essa diversidade de perspectivas religiosas sobre práticas alimentares ilustra a complexidade de se criar um sistema alimentar que respeite todas as tradições religiosas em uma sociedade multicultural como o Canadá. Enquanto algumas comunidades celebram a maior disponibilidade de opções Halal, outras podem se sentir excluídas ou preocupadas com a redução de alternativas que atendam às suas próprias necessidades dietéticas baseadas em fé.

Além disso, existem debates sobre o bem-estar animal relacionados aos métodos de abate Halal. Enquanto muçulmanos afirmam que o processo é humanitário quando realizado corretamente, críticos argumentam que o abate sem atordoamento prévio irreversível pode causar sofrimento desnecessário ao animal. Estas preocupações com o bem-estar animal acrescentam outra dimensão ao debate sobre a expansão do mercado Halal no Canadá.

Conclusão

A indústria de alimentos Halal no Canadá representa um setor vibrante e em rápido crescimento, impulsionado por uma demografia muçulmana em expansão e um interesse crescente de consumidores não-muçulmanos. Com projeções de crescimento significativo nos próximos anos, o mercado oferece oportunidades substanciais para empresas canadenses expandirem sua presença tanto no mercado interno quanto em exportações para países de maioria muçulmana.

No entanto, para realizar plenamente este potencial, o setor precisa superar desafios significativos, principalmente a fragmentação do sistema de certificação. A implementação de normas mais consistentes, potencialmente apoiadas por tecnologias inovadoras como blockchain, poderia aumentar a confiança do consumidor e facilitar o comércio internacional. À medida que a indústria evolui, também deverá considerar e respeitar as diversas perspectivas religiosas e culturais que existem em relação aos alimentos Halal no mosaico multicultural canadense.

O futuro da indústria Halal no Canadá dependerá da capacidade dos diversos participantes – certificadores, órgãos governamentais, produtores e varejistas – de colaborarem efetivamente para criar um sistema que seja transparente, confiável e respeitoso da diversidade de perspectivas que existem dentro da sociedade canadense. Com o crescimento contínuo da demanda global por produtos Halal, o Canadá está bem posicionado para se tornar um importante centro global para a produção e distribuição de alimentos Halal, desde que aborde proativamente os desafios existentes.

Referências

  1. The State of Halal Food Industry in Canada – Salaam Gateway
  2. Halal meat is big business both within and beyond Muslim communities – CBC
  3. Insights | Salaam Gateway – Global Islamic Economy
AGROINSIGHT Vol 3 Origem Vegetal

Oportunidades Globais para Produtos Vegetais Brasileiros: Análise dos Relatórios dos Adidos Agrícolas

O mercado internacional de produtos agrícolas vegetais apresenta diversas oportunidades para os exportadores brasileiros, conforme análise detalhada do relatório AgroInsights. Este documento compilado pelos Adidos Agrícolas do Brasil no exterior oferece perspectivas valiosas sobre nichos de mercado, tendências de consumo e barreiras comerciais em diversos países, funcionando como um guia estratégico para o setor exportador.

Panorama dos Mercados Emergentes e Consolidados

África do Sul e o Potencial para Pulses Brasileiros

O mercado sul-africano de feijões apresenta características particulares que merecem atenção dos exportadores brasileiros. A produção anual média de feijões na África do Sul é de 70.400 toneladas, enquanto o consumo atinge 114.828 toneladas, evidenciando uma dependência significativa de importações. Embora o Brasil ocupe atualmente a nona posição entre os fornecedores, em 2024 houve um salto expressivo nas exportações brasileiras de feijões comuns para este destino, atingindo 25 milhões de dólares. Este crescimento foi impulsionado pela redução de estoques regionais e frustrações nas safras dos principais fornecedores da região sul da África.

As tarifas aplicadas aos pulses brasileiros variam de 0% a 15%, com o feijão comum sujeito a uma tarifa de 10% ad valorem. Esta estrutura tarifária, associada ao papel da África do Sul como hub logístico regional, abre perspectivas para o aumento das exportações brasileiras, especialmente em períodos de desabastecimento regional.

Angola e a Demanda por Óleo de Soja

O mercado angolano para óleos vegetais apresenta expressivo potencial, tendo importado 187,6 mil toneladas (US$ 271,3 milhões) em 2024. Dessas importações, 36% correspondem ao óleo de soja, majoritariamente suprido por Argentina, Portugal e Malásia. Apesar de o Brasil ter exportado apenas 1.696 toneladas de óleo de soja para Angola em 2023 (US$ 2,5 milhões), a possibilidade de aumento da participação brasileira é tangível.

Angola conta com refinarias de óleos vegetais que dependem de matéria-prima importada, uma vez que a produção local de soja ainda é incipiente, com apenas 20.000 hectares cultivados na safra 2024/2025. Esta configuração do mercado, somada a uma tarifa de importação de 10% para óleo bruto e 40% para óleo refinado, representa uma clara oportunidade para o produto brasileiro.

Arábia Saudita e o Crescimento do Consumo de Café

O mercado de café na Arábia Saudita tem experimentado crescimento significativo, com aumento anual de aproximadamente 4% entre 2016 e 2021, projetando-se um crescimento de 5% ao ano até 2026. O Brasil desponta como um dos principais fornecedores de café para este mercado, com exportações que atingiram aproximadamente US$ 73 milhões em 2024.

O aumento no consumo está associado a mudanças nos hábitos da população, especialmente entre os jovens, e à popularização de cafeterias “ocidentais” e cafés especiais. O sistema ITC Export Potential Map aponta que o Brasil tem potencial para crescimento adicional de US$ 38 milhões nas exportações de café em grãos à Arábia Saudita, representando uma variação potencial de 65% sobre os valores atuais.

Argélia e o Mercado de Banana

Uma oportunidade emergente para o Brasil surge no mercado argelino de bananas, em consequência do estremecimento das relações diplomáticas e comerciais entre a Argélia e o Equador. Em 2023, a Argélia importou cerca de US$ 135 milhões em bananas, quase integralmente provenientes do Equador. Contudo, a decisão de suspender as relações comerciais com este país trouxe dificuldades imediatas para os importadores argelinos.

O consumo de banana é expressivo na Argélia, com preço atual em torno de 250 dinares argelinos por quilo (US$ 1,85). As cargas de importação estão sujeitas a taxas ad-valorem, incluindo 30% de direitos alfandegários, além de outras taxas que totalizam cerca de 24% adicionais. A adidância agrícola brasileira já iniciou contatos com as autoridades argelinas para estabelecer os requisitos fitossanitários necessários para o acesso do produto brasileiro a este mercado.

Tendências em Mercados Asiáticos

China e a Expansão do Mercado de Café

O mercado chinês de café tem crescido expressivamente, movimentando aproximadamente US$ 23,6 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual de 15%. O consumo de café subiu 150% na última década, podendo chegar a 6,3 milhões de sacas na safra 2024/25. Em 2023, as exportações brasileiras para o mercado chinês ultrapassaram pela primeira vez a marca de 1 milhão de sacas, tornando a China o sexto maior importador de café do Brasil.

O Brasil é o principal fornecedor de café não torrado (variedade arábica) para a China, com 36% de participação, mas enfrenta desafios nos segmentos de café torrado e solúvel, onde países asiáticos dominam graças a acordos preferenciais. As tarifas aplicadas ao café brasileiro variam de 8% para café não torrado a 15% para café torrado, enquanto países da ASEAN se beneficiam de tarifas reduzidas. Esta situação exige que o Brasil adote estratégias focadas em qualidade, sustentabilidade e certificação de origem para manter sua competitividade.

Austrália e as Oportunidades para o Açaí

O mercado australiano de açaí tem se expandido ao longo das últimas duas décadas, impulsionado pelo crescente interesse em produtos saudáveis e pelo alto poder aquisitivo local. O produto já é amplamente encontrado em supermercados, lojas de produtos naturais e plataformas de e-commerce, nas formas de pó, polpa congelada, suplementos e cosméticos premium.

O público tradicional do açaí na Austrália é composto por consumidores preocupados com a saúde, incluindo profissionais ativos e aposentados, mas recentemente o produto passou a atrair também jovens e usuários de redes sociais. O mercado tem sido impulsionado pelo crescimento das “Acai Bowls Shops”, que movimentaram cerca de US$ 665,4 milhões em 2024. Embora não haja tarifas aplicáveis à importação, as exigências sanitárias australianas são rigorosas, demandando certificados sanitários emitidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Bangladesh e o Mercado de Castanhas e Nozes

O mercado de castanhas e nozes em Bangladesh apresenta potencial significativo, especialmente durante o Ramadã, quando o consumo desses produtos aumenta consideravelmente. Em 2024, o país importou cerca de US$ 40 milhões em castanhas e nozes, sendo o Brasil um fornecedor com potencial de expansão.

As exportações brasileiras de castanhas e nozes totalizaram R$ 89,5 milhões em 2024, incluindo castanha de caju, castanha-do-Pará e nozes macadâmia. Entretanto, as elevadas tarifas aplicadas por Bangladesh (entre 48% e 94,32%, dependendo do produto) representam um desafio inicial. A adidância agrícola em Daca destaca que, apesar dessas barreiras, o potencial do mercado merece ser mais bem explorado, especialmente considerando a população de aproximadamente 180 milhões de habitantes.

Mercados das Américas

Canadá e as Novas Oportunidades Criadas por Barreiras Comerciais

Um cenário peculiar se desenha no Canadá após a recente imposição de tarifas retaliatórias de 25% sobre US$ 30 bilhões em mercadorias importadas dos EUA, em resposta às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Esta situação cria oportunidades para produtos brasileiros como café, chás, açúcar, suco de laranja, arroz, temperos, frutas, legumes, chocolates, óleos e cereais, entre outros.

O Canadá é o segundo mercado para as exportações agrícolas dos EUA, com vendas de US$ 28,4 bilhões em 2023. A estratégia canadense visa reduzir as importações de produtos americanos com o menor impacto inflacionário possível, abrindo espaço para fornecedores alternativos como o Brasil. Produtos como açúcar de cana (US$ 751,8 milhões exportados pelo Brasil em 2024) e suco de laranja congelado (US$ 68 milhões) já demonstram forte presença brasileira neste mercado.

Costa Rica e o Sucesso do Arroz Brasileiro

O comércio bilateral entre Brasil e Costa Rica atingiu o valor recorde de 722 milhões de dólares em 2024. O arroz foi o principal produto exportado pelo Brasil, contribuindo com 16,74% das exportações totais brasileiras para aquele país e atingindo o valor de 97 milhões de dólares. Em 2023, 70% do arroz importado pela Costa Rica era de origem brasileira.

O arroz é um alimento fundamental na dieta costarriquenha, presente em pratos tradicionais como “Gallo Pinto” e “Casado”. A recente redução da tarifa de importação de 35% para 4% no caso do arroz beneficiado e 3,5% para o arroz em casca, conhecida como “rota do arroz”, beneficia o produto brasileiro e apresenta uma excelente oportunidade para manter ou aumentar a participação no mercado local.

Oportunidades em Mercados Específicos

Coreia do Sul e o Mercado de Etanol

Em 2024, a Coreia do Sul importou US$ 286 milhões (346.456 toneladas) de etanol, sendo Brasil e EUA os principais fornecedores, com participação combinada de 72% do volume total. A competitividade brasileira varia conforme o tipo de etanol e as tarifas aplicadas: o Brasil domina o mercado de etanol dos códigos tarifários 2207.10.1000 (97,5% de participação) e 2207.10.9010 (82,5%), enquanto os EUA lideram nos códigos 2207.10.9090 e 2207.20 (ambos com 88% de participação).

Para 2025, o governo sul-coreano estabeleceu uma quota tarifária emergencial de 160.000 kl para o etanol do código HS 2207.10.1000, com tarifa zero para quantidades dentro desse limite, representando uma oportunidade adicional para exportadores brasileiros.

Egito e o Gergelim Brasileiro

O mercado egípcio de gergelim oferece oportunidades para o Brasil, considerando que o país foi o nono maior importador mundial em 2023, com importações de US$ 100 milhões. Tradicionalmente, o Sudão dominava esse mercado com 77% de participação, mas a guerra civil que assola o país desde 2023 reduziu significativamente sua capacidade de fornecimento.

As exportações de gergelim do Brasil ao Egito vêm registrando crescimento consistente nos últimos anos (2022 a 2024). Uma vantagem competitiva importante é que o Egito aplica tarifa zero ao gergelim de todas as origens, tornando fatores como qualidade e preço os principais determinantes da competitividade. O produto é amplamente utilizado na produção de alimentos típicos da cultura árabe, como o “tahine” e o “halawa spread”.

Emirados Árabes Unidos e os Produtos Orgânicos

O mercado de alimentos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos foi avaliado em US$ 44,67 milhões em 2024 e deve crescer para US$ 51,23 milhões até 2030, com uma taxa composta de crescimento anual de 4,62%. Esta demanda crescente é impulsionada por fatores como maior conscientização do consumidor, aumento da população expatriada e preferência por produtos alimentícios saudáveis e sustentáveis.

O Brasil, como importante produtor de alimentos orgânicos, possui oportunidade estratégica para expandir sua presença nesse mercado, particularmente em segmentos premium como frutas tropicais orgânicas. As recomendações incluem investir em certificações internacionalmente reconhecidas, estabelecer parcerias com distribuidores locais e desenvolver estratégias logísticas eficientes para preservar a qualidade dos produtos.

Considerações para Exportadores Brasileiros

O panorama global apresenta diversas oportunidades para produtos vegetais brasileiros, mas também exige estratégias específicas para cada mercado. A qualidade e a capacidade de atender às exigências sanitárias e de certificação são fatores determinantes para o sucesso em mercados mais exigentes, como Austrália, União Europeia e países asiáticos.

Para mercados emergentes, como Bangladesh e países africanos, o desenvolvimento de parcerias comerciais e o entendimento das especificidades culturais locais podem ser diferenciais importantes. Já em mercados onde o Brasil já possui presença consolidada, como Costa Rica (arroz) e Arábia Saudita (café), o foco deve ser em manter e ampliar a participação através de inovação e diferenciação de produtos.

As barreiras tarifárias e não-tarifárias continuam sendo desafios importantes em diversos mercados, mas situações geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e Canadá ou o rompimento de relações entre Argélia e Equador, podem criar janelas de oportunidade para produtos brasileiros.

Conclusão

As análises dos adidos agrícolas brasileiros revelam um cenário de múltiplas oportunidades para a expansão das exportações de produtos vegetais brasileiros. Os mercados apresentam diferentes graus de maturidade e exigências específicas, demandando abordagens customizadas por parte dos exportadores.

Particularmente promissores são os mercados de café na China e Arábia Saudita, açaí na Austrália, etanol na Coreia do Sul, banana na Argélia e arroz na Costa Rica. A crescente demanda por produtos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos e a abertura de oportunidades no Canadá devido a questões geopolíticas também merecem atenção especial dos exportadores brasileiros.

Para aproveitar plenamente estas oportunidades, é fundamental o acompanhamento contínuo das tendências de mercado, requisitos regulatórios e preferências de consumo em cada país, além do estabelecimento de parcerias estratégicas com importadores e distribuidores locais.

Fontes:

  1. AGROINSIGHTS03VEGETAL20251.pdf
  2. AgroInsight — Ministério da Agricultura e Pecuária
Muçulmanos realizando oração em praça de Londres

O Ramadã Impulsiona a Economia do Reino Unido em £1,3 Bilhão

O Impacto Econômico do Ramadã na Economia Britânica

O Ramadã, além de seu profundo significado espiritual para milhões de muçulmanos, emerge como um poderoso catalisador econômico no Reino Unido, gerando entre £800 milhões e £1,3 bilhão anualmente para a economia britânica. Este fenômeno, revelado por um estudo recente do think tank Equi, demonstra como o mês sagrado transcende seu caráter religioso para se tornar um período de intensa atividade econômica, impulsionando diversos setores e fortalecendo a coesão social. Com aproximadamente 2,6 milhões de muçulmanos britânicos adultos observando o jejum em todo o país, o Ramadã provoca transformações significativas nos padrões de consumo, nas tendências de varejo e nas doações beneficentes, consolidando-se como uma força econômica que merece atenção tanto do setor privado quanto dos formuladores de políticas públicas.

A Dimensão Econômica do Ramadã no Reino Unido

O relatório elaborado pelo Dr. Mamnun Khan identifica quatro pilares fundamentais que sustentam a economia do Ramadã: gastos no varejo, investimentos em marketing, aprimoramentos na cadeia de valor dos negócios e contribuições caritativas. O impacto econômico do Ramadã manifesta-se através de múltiplas atividades, incluindo compras no varejo, doações beneficentes, vendas em supermercados, compras para o Eid, voluntariado e outras iniciativas que, em conjunto, não apenas impulsionam o crescimento econômico, mas também fortalecem o tecido social britânico. Esse fenômeno representa um exemplo impressionante de como práticas religiosas podem transcender a esfera espiritual para gerar consequências econômicas tangíveis e mensuráveis.

A magnitude desse impacto torna-se ainda mais evidente quando comparada com outros setores da economia britânica. Com valores estimados entre £800 milhões e £1,3 bilhão, a economia do Ramadã pode agora superar indústrias tradicionais como a de pesca marítima do Reino Unido, que gerou aproximadamente £1,1 bilhão em 2023. Mais impressionante ainda é observar que a taxa de crescimento da economia do Ramadã provavelmente supera o crescimento geral da economia britânica, que registrou apenas 0,1% no último trimestre de 2024 e um total de 1,1% ao longo do ano, segundo dados do Escritório de Responsabilidade Orçamentária.

Transformações nos Padrões de Consumo Durante o Mês Sagrado

O Ramadã provoca uma transformação profunda nos hábitos de consumo da comunidade muçulmana britânica, o que, por sua vez, impacta significativamente o setor de varejo. Os consumidores muçulmanos gastam entre £428 milhões e £642 milhões em alimentos, vestuário, presentes e viagens durante este período. Apenas os supermercados registram vendas estimadas entre £228 milhões e £342 milhões, um aumento notável de duas a três vezes em comparação com a década anterior. Este crescimento extraordinário pode ser atribuído a três fatores principais: o aumento da população muçulmana no Reino Unido, a crescente mobilidade socioeconômica desta comunidade e a evolução das preferências de consumo entre os muçulmanos mais jovens.

O crescimento exponencial da economia do Ramadã contrasta nitidamente com a expansão mais modesta do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido, que cresceu aproximadamente 11,8% desde 2015, segundo pesquisas da Câmara dos Comuns. Esta disparidade evidencia o dinamismo e a importância crescente dos gastos relacionados ao Ramadã no contexto econômico britânico mais amplo, transformando o que antes era considerado um nicho de mercado em um momento de varejo significativo no calendário comercial do país.

Expansão do Mercado de Produtos Halal e Adaptação das Cadeias de Suprimentos

O Ramadã atua como um catalisador importante no estímulo aos supermercados para aumentarem seu estoque de produtos com certificação Halal, desde carnes e aves frescas até refeições prontas e lanches ao longo de todo o ano. Esta expansão exige que as cadeias de suprimentos se adaptem adequadamente, necessitando investimentos significativos por parte dos supermercados em abastecimento, logística e infraestrutura. Os supermercados e varejistas independentes de alimentos investem uma soma estimada entre £159 milhões e £274 milhões na cadeia de valor do Ramadã, demonstrando o reconhecimento crescente do poder de compra da comunidade muçulmana.

Grandes redes de supermercados e varejistas convencionais no Reino Unido têm aprimorado suas ofertas para o Ramadã ao longo da última década. Ao lado da extensa rede de 47.000 lojas de conveniência do país, esses varejistas geram entre £228 milhões e £342 milhões em vendas diretas durante o Ramadã, enquanto investem substancialmente em suas cadeias de suprimentos para atender às demandas específicas dos consumidores muçulmanos neste período. O relatório da Equi também destaca o impacto positivo do desenvolvimento de marcas mais “inclusivas” por alguns varejistas, que se tornam mais propensos a se beneficiar do substancial “poder de compra muçulmano” durante este período.

Vestuário, Presentes e Hospitalidade Durante o Ramadã e o Eid

Os gastos da comunidade muçulmana britânica se estendem muito além dos alimentos. Estima-se que os muçulmanos britânicos despendam entre £200 milhões e £300 milhões em roupas, presentes e viagens durante o Ramadã e o Eid (Celebração do fim do Ramadã), representando uma contribuição significativa para setores como o de moda e turismo. Varejistas de vestuário como H&M e Asos aderiram a esta tendência, lançando coleções de moda modesta especificamente para o Ramadã e o Eid em 2025, enquanto a IKEA introduziu sua primeira coleção de decoração temática para o Ramadã, GOKVÄLLÄ, apresentando peças de decoração e utensílios adaptados para o iftar (quebra de jejum).

Paralelamente, as mesquitas em toda a Grã-Bretanha cumprem um papel social e econômico vital durante o Ramadã, servindo refeições gratuitas para quebrar o jejum (iftar) cujo valor é estimado em £15 milhões durante o mês sagrado. Este aspecto da economia do Ramadã ilustra como as práticas religiosas podem gerar não apenas atividade econômica, mas também promover inclusão social e apoio comunitário. Em algumas regiões, como Bradford, os impactos econômicos são ainda mais pronunciados, com estimativas de que uma família média de cinco ou seis pessoas possa gastar mais de £3.000 ao longo de um fim de semana de Eid, incluindo £1.200 em roupas novas e até £500 em compras de alimentos.

Contribuições Caritativas e Impacto Social do Ramadã

O espírito de generosidade inerente ao mês sagrado direciona uma quantia estimada de £359 milhões para doações caritativas. Este aspecto da economia do Ramadã transcende o valor monetário, promovendo coesão social e solidariedade. O Business Secretary Jonathan Reynolds, em uma celebração especial de iftar, reconheceu o “notável aumento nas doações das comunidades muçulmanas a cada ano” durante o Ramadã, sinalizando uma crescente conscientização governamental sobre as significativas contribuições filantrópicas associadas ao mês sagrado.

Além do impacto económico direto, o Ramadã desempenha um papel crucial no fortalecimento do tecido social das comunidades britânicas. Eventos públicos, como iftars em larga escala, contribuem para aproximar pessoas, promovendo a inclusividade e o diálogo entre diversos contextos culturais. Esta dimensão social, embora difícil de quantificar em termos monetários, representa um valor substancial para a sociedade britânica como um todo, facilitando a integração e o entendimento intercultural.

O Potencial Inexplorado da Economia do Ramadã

O estudo enfatiza que a economia do Ramadã permanece uma área subexplorada na discussão de políticas, representando uma oportunidade não realizada para canalizar essas mudanças em cadeias de suprimentos locais fortalecidas, impulsionar pequenas empresas e incentivar hábitos de consumo mais sustentáveis. O Professor Javed Khan OBE, diretor administrativo da Equi, defende que o governo e as empresas ajudem a aproveitar os benefícios econômicos e sociais do mês sagrado, e que campanhas como “Compre Britânico” também incluam produtos Halal britânicos.

O relatório da Equi faz diversas recomendações importantes, instando o governo a reconhecer formalmente e integrar a economia do Ramadã em seu planejamento econômico, fornecer apoio direcionado para o crescimento de empresas muçulmanas britânicas e emitir orientações claras aos empregadores sobre as melhores práticas para apoiar seus funcionários muçulmanos durante o Ramadã. Estas recomendações sublinham o potencial para benefícios econômicos e sociais ainda maiores se os gastos relacionados ao Ramadã e as necessidades da comunidade muçulmana forem estrategicamente considerados dentro de estruturas nacionais mais amplas.

Sustentabilidade e Desafios Futuros

Apesar dos benefícios econômicos significativos, o Ramadã também apresenta desafios que precisam ser abordados para maximizar seu impacto positivo. As estatísticas sobre o desperdício de alimentos durante o período são alarmantes: o desperdício alimentar na Grã-Bretanha aumenta de uma média de 2,7 kg por pessoa para 4,5 kg por pessoa durante o Ramadã, com 66% dos muçulmanos britânicos descartando sobras de iftar no dia seguinte. Esta realidade contradiz os princípios islâmicos de gratidão (shukr) e o reconhecimento das bênçãos (barakah) concedidas ao mundo.

Felizmente, iniciativas sustentáveis estão ganhando força. A organização londrina Green Deen Tribe, por exemplo, realiza uma série de iftars em Londres centrados em três temas principais: redução de resíduos plásticos não reutilizáveis, diminuição do consumo de carne e redução do desperdício de alimentos. Estas iniciativas exemplificam como os princípios islâmicos podem ser harmonizados com práticas sustentáveis contemporâneas, oferecendo um modelo para a evolução futura da economia do Ramadã.

O Futuro da Economia do Ramadã no Reino Unido

A economia do Ramadã no Reino Unido representa uma força dinâmica e em crescimento, com potencial para expandir ainda mais sua influência nos próximos anos. Com o aumento da população muçulmana e o crescente reconhecimento do poder de compra desta comunidade, espera-se que mais empresas se adaptem para atender às necessidades específicas dos consumidores durante este período sagrado, criando novas oportunidades de mercado e inovação.

O crescimento desta economia também tem o potencial de influenciar positivamente as relações interculturais, à medida que práticas e tradições associadas ao Ramadã se tornam mais visíveis e integradas na sociedade britânica mais ampla. Ao mesmo tempo, o aumento da conscientização sobre questões de sustentabilidade e responsabilidade social dentro da comunidade muçulmana pode levar a uma evolução da economia do Ramadã em direção a práticas mais sustentáveis e eticamente conscientes.

Em um contexto econômico mais amplo, enquanto o Reino Unido enfrenta desafios de crescimento, a robusta economia do Ramadã oferece um exemplo inspirador de como tradições culturais e religiosas podem gerar valor econômico tangível, beneficiando não apenas as comunidades diretamente envolvidas, mas a sociedade como um todo. O reconhecimento e o apoio adequados a esta dimensão econômica podem transformar o Ramadã em um modelo de crescimento inclusivo que beneficia todos os setores da sociedade.

Referências

  1. Relatório: Ramadã contribui com £1,3 bilhão para a economia do Reino Unido – 5Pillars https://5pillarsuk.com/2025/03/28/report-ramadan-contributes-1-3-billion-to-uk-economy/
  2. Ramadã impulsiona a economia do Reino Unido em até £1,3 bilhão, revela relatório – Mustaqbal Media https://mustaqbalmedia.net/en/ramadan-boosts-uk-economy-by-up-to-1-3-billion-report-finds/
  3. Ramadã vale até £1,3 bilhões para a economia do Reino Unido — e cresce rapidamente – Hyphen Online https://hyphenonline.com/2025/03/31/ramadan-economy-growth-uk-1-3bn-equi/
  4. Gastos do Ramadã no Reino Unido aumentam para £1,3 bilhão anualmente – Halal Times https://www.halaltimes.com/uk-ramadan-spending-surges-to-1-3-billion-annually/
  5. Muçulmanos do Reino Unido combatem o desperdício de alimentos do Ramadã com iftars éticos – Muslim Climate Watch https://muslimclimatewatch.com/uk-muslims-ramadan-food-waste-ethical-iftars/
  6. Ramadã contribui com até £1,3 bilhão para a economia do Reino Unido – Shamsi Design https://www.shamsidesign.co.uk/blogs/ramadan-contributes-ps1-3-billion-to-uk-economy