AGROINSIGHT Vol 3 Origem Vegetal

Oportunidades Globais para Produtos Vegetais Brasileiros: Análise dos Relatórios dos Adidos Agrícolas

O mercado internacional de produtos agrícolas vegetais apresenta diversas oportunidades para os exportadores brasileiros, conforme análise detalhada do relatório AgroInsights. Este documento compilado pelos Adidos Agrícolas do Brasil no exterior oferece perspectivas valiosas sobre nichos de mercado, tendências de consumo e barreiras comerciais em diversos países, funcionando como um guia estratégico para o setor exportador.

Panorama dos Mercados Emergentes e Consolidados

África do Sul e o Potencial para Pulses Brasileiros

O mercado sul-africano de feijões apresenta características particulares que merecem atenção dos exportadores brasileiros. A produção anual média de feijões na África do Sul é de 70.400 toneladas, enquanto o consumo atinge 114.828 toneladas, evidenciando uma dependência significativa de importações. Embora o Brasil ocupe atualmente a nona posição entre os fornecedores, em 2024 houve um salto expressivo nas exportações brasileiras de feijões comuns para este destino, atingindo 25 milhões de dólares. Este crescimento foi impulsionado pela redução de estoques regionais e frustrações nas safras dos principais fornecedores da região sul da África.

As tarifas aplicadas aos pulses brasileiros variam de 0% a 15%, com o feijão comum sujeito a uma tarifa de 10% ad valorem. Esta estrutura tarifária, associada ao papel da África do Sul como hub logístico regional, abre perspectivas para o aumento das exportações brasileiras, especialmente em períodos de desabastecimento regional.

Angola e a Demanda por Óleo de Soja

O mercado angolano para óleos vegetais apresenta expressivo potencial, tendo importado 187,6 mil toneladas (US$ 271,3 milhões) em 2024. Dessas importações, 36% correspondem ao óleo de soja, majoritariamente suprido por Argentina, Portugal e Malásia. Apesar de o Brasil ter exportado apenas 1.696 toneladas de óleo de soja para Angola em 2023 (US$ 2,5 milhões), a possibilidade de aumento da participação brasileira é tangível.

Angola conta com refinarias de óleos vegetais que dependem de matéria-prima importada, uma vez que a produção local de soja ainda é incipiente, com apenas 20.000 hectares cultivados na safra 2024/2025. Esta configuração do mercado, somada a uma tarifa de importação de 10% para óleo bruto e 40% para óleo refinado, representa uma clara oportunidade para o produto brasileiro.

Arábia Saudita e o Crescimento do Consumo de Café

O mercado de café na Arábia Saudita tem experimentado crescimento significativo, com aumento anual de aproximadamente 4% entre 2016 e 2021, projetando-se um crescimento de 5% ao ano até 2026. O Brasil desponta como um dos principais fornecedores de café para este mercado, com exportações que atingiram aproximadamente US$ 73 milhões em 2024.

O aumento no consumo está associado a mudanças nos hábitos da população, especialmente entre os jovens, e à popularização de cafeterias “ocidentais” e cafés especiais. O sistema ITC Export Potential Map aponta que o Brasil tem potencial para crescimento adicional de US$ 38 milhões nas exportações de café em grãos à Arábia Saudita, representando uma variação potencial de 65% sobre os valores atuais.

Argélia e o Mercado de Banana

Uma oportunidade emergente para o Brasil surge no mercado argelino de bananas, em consequência do estremecimento das relações diplomáticas e comerciais entre a Argélia e o Equador. Em 2023, a Argélia importou cerca de US$ 135 milhões em bananas, quase integralmente provenientes do Equador. Contudo, a decisão de suspender as relações comerciais com este país trouxe dificuldades imediatas para os importadores argelinos.

O consumo de banana é expressivo na Argélia, com preço atual em torno de 250 dinares argelinos por quilo (US$ 1,85). As cargas de importação estão sujeitas a taxas ad-valorem, incluindo 30% de direitos alfandegários, além de outras taxas que totalizam cerca de 24% adicionais. A adidância agrícola brasileira já iniciou contatos com as autoridades argelinas para estabelecer os requisitos fitossanitários necessários para o acesso do produto brasileiro a este mercado.

Tendências em Mercados Asiáticos

China e a Expansão do Mercado de Café

O mercado chinês de café tem crescido expressivamente, movimentando aproximadamente US$ 23,6 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual de 15%. O consumo de café subiu 150% na última década, podendo chegar a 6,3 milhões de sacas na safra 2024/25. Em 2023, as exportações brasileiras para o mercado chinês ultrapassaram pela primeira vez a marca de 1 milhão de sacas, tornando a China o sexto maior importador de café do Brasil.

O Brasil é o principal fornecedor de café não torrado (variedade arábica) para a China, com 36% de participação, mas enfrenta desafios nos segmentos de café torrado e solúvel, onde países asiáticos dominam graças a acordos preferenciais. As tarifas aplicadas ao café brasileiro variam de 8% para café não torrado a 15% para café torrado, enquanto países da ASEAN se beneficiam de tarifas reduzidas. Esta situação exige que o Brasil adote estratégias focadas em qualidade, sustentabilidade e certificação de origem para manter sua competitividade.

Austrália e as Oportunidades para o Açaí

O mercado australiano de açaí tem se expandido ao longo das últimas duas décadas, impulsionado pelo crescente interesse em produtos saudáveis e pelo alto poder aquisitivo local. O produto já é amplamente encontrado em supermercados, lojas de produtos naturais e plataformas de e-commerce, nas formas de pó, polpa congelada, suplementos e cosméticos premium.

O público tradicional do açaí na Austrália é composto por consumidores preocupados com a saúde, incluindo profissionais ativos e aposentados, mas recentemente o produto passou a atrair também jovens e usuários de redes sociais. O mercado tem sido impulsionado pelo crescimento das “Acai Bowls Shops”, que movimentaram cerca de US$ 665,4 milhões em 2024. Embora não haja tarifas aplicáveis à importação, as exigências sanitárias australianas são rigorosas, demandando certificados sanitários emitidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Bangladesh e o Mercado de Castanhas e Nozes

O mercado de castanhas e nozes em Bangladesh apresenta potencial significativo, especialmente durante o Ramadã, quando o consumo desses produtos aumenta consideravelmente. Em 2024, o país importou cerca de US$ 40 milhões em castanhas e nozes, sendo o Brasil um fornecedor com potencial de expansão.

As exportações brasileiras de castanhas e nozes totalizaram R$ 89,5 milhões em 2024, incluindo castanha de caju, castanha-do-Pará e nozes macadâmia. Entretanto, as elevadas tarifas aplicadas por Bangladesh (entre 48% e 94,32%, dependendo do produto) representam um desafio inicial. A adidância agrícola em Daca destaca que, apesar dessas barreiras, o potencial do mercado merece ser mais bem explorado, especialmente considerando a população de aproximadamente 180 milhões de habitantes.

Mercados das Américas

Canadá e as Novas Oportunidades Criadas por Barreiras Comerciais

Um cenário peculiar se desenha no Canadá após a recente imposição de tarifas retaliatórias de 25% sobre US$ 30 bilhões em mercadorias importadas dos EUA, em resposta às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Esta situação cria oportunidades para produtos brasileiros como café, chás, açúcar, suco de laranja, arroz, temperos, frutas, legumes, chocolates, óleos e cereais, entre outros.

O Canadá é o segundo mercado para as exportações agrícolas dos EUA, com vendas de US$ 28,4 bilhões em 2023. A estratégia canadense visa reduzir as importações de produtos americanos com o menor impacto inflacionário possível, abrindo espaço para fornecedores alternativos como o Brasil. Produtos como açúcar de cana (US$ 751,8 milhões exportados pelo Brasil em 2024) e suco de laranja congelado (US$ 68 milhões) já demonstram forte presença brasileira neste mercado.

Costa Rica e o Sucesso do Arroz Brasileiro

O comércio bilateral entre Brasil e Costa Rica atingiu o valor recorde de 722 milhões de dólares em 2024. O arroz foi o principal produto exportado pelo Brasil, contribuindo com 16,74% das exportações totais brasileiras para aquele país e atingindo o valor de 97 milhões de dólares. Em 2023, 70% do arroz importado pela Costa Rica era de origem brasileira.

O arroz é um alimento fundamental na dieta costarriquenha, presente em pratos tradicionais como “Gallo Pinto” e “Casado”. A recente redução da tarifa de importação de 35% para 4% no caso do arroz beneficiado e 3,5% para o arroz em casca, conhecida como “rota do arroz”, beneficia o produto brasileiro e apresenta uma excelente oportunidade para manter ou aumentar a participação no mercado local.

Oportunidades em Mercados Específicos

Coreia do Sul e o Mercado de Etanol

Em 2024, a Coreia do Sul importou US$ 286 milhões (346.456 toneladas) de etanol, sendo Brasil e EUA os principais fornecedores, com participação combinada de 72% do volume total. A competitividade brasileira varia conforme o tipo de etanol e as tarifas aplicadas: o Brasil domina o mercado de etanol dos códigos tarifários 2207.10.1000 (97,5% de participação) e 2207.10.9010 (82,5%), enquanto os EUA lideram nos códigos 2207.10.9090 e 2207.20 (ambos com 88% de participação).

Para 2025, o governo sul-coreano estabeleceu uma quota tarifária emergencial de 160.000 kl para o etanol do código HS 2207.10.1000, com tarifa zero para quantidades dentro desse limite, representando uma oportunidade adicional para exportadores brasileiros.

Egito e o Gergelim Brasileiro

O mercado egípcio de gergelim oferece oportunidades para o Brasil, considerando que o país foi o nono maior importador mundial em 2023, com importações de US$ 100 milhões. Tradicionalmente, o Sudão dominava esse mercado com 77% de participação, mas a guerra civil que assola o país desde 2023 reduziu significativamente sua capacidade de fornecimento.

As exportações de gergelim do Brasil ao Egito vêm registrando crescimento consistente nos últimos anos (2022 a 2024). Uma vantagem competitiva importante é que o Egito aplica tarifa zero ao gergelim de todas as origens, tornando fatores como qualidade e preço os principais determinantes da competitividade. O produto é amplamente utilizado na produção de alimentos típicos da cultura árabe, como o “tahine” e o “halawa spread”.

Emirados Árabes Unidos e os Produtos Orgânicos

O mercado de alimentos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos foi avaliado em US$ 44,67 milhões em 2024 e deve crescer para US$ 51,23 milhões até 2030, com uma taxa composta de crescimento anual de 4,62%. Esta demanda crescente é impulsionada por fatores como maior conscientização do consumidor, aumento da população expatriada e preferência por produtos alimentícios saudáveis e sustentáveis.

O Brasil, como importante produtor de alimentos orgânicos, possui oportunidade estratégica para expandir sua presença nesse mercado, particularmente em segmentos premium como frutas tropicais orgânicas. As recomendações incluem investir em certificações internacionalmente reconhecidas, estabelecer parcerias com distribuidores locais e desenvolver estratégias logísticas eficientes para preservar a qualidade dos produtos.

Considerações para Exportadores Brasileiros

O panorama global apresenta diversas oportunidades para produtos vegetais brasileiros, mas também exige estratégias específicas para cada mercado. A qualidade e a capacidade de atender às exigências sanitárias e de certificação são fatores determinantes para o sucesso em mercados mais exigentes, como Austrália, União Europeia e países asiáticos.

Para mercados emergentes, como Bangladesh e países africanos, o desenvolvimento de parcerias comerciais e o entendimento das especificidades culturais locais podem ser diferenciais importantes. Já em mercados onde o Brasil já possui presença consolidada, como Costa Rica (arroz) e Arábia Saudita (café), o foco deve ser em manter e ampliar a participação através de inovação e diferenciação de produtos.

As barreiras tarifárias e não-tarifárias continuam sendo desafios importantes em diversos mercados, mas situações geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e Canadá ou o rompimento de relações entre Argélia e Equador, podem criar janelas de oportunidade para produtos brasileiros.

Conclusão

As análises dos adidos agrícolas brasileiros revelam um cenário de múltiplas oportunidades para a expansão das exportações de produtos vegetais brasileiros. Os mercados apresentam diferentes graus de maturidade e exigências específicas, demandando abordagens customizadas por parte dos exportadores.

Particularmente promissores são os mercados de café na China e Arábia Saudita, açaí na Austrália, etanol na Coreia do Sul, banana na Argélia e arroz na Costa Rica. A crescente demanda por produtos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos e a abertura de oportunidades no Canadá devido a questões geopolíticas também merecem atenção especial dos exportadores brasileiros.

Para aproveitar plenamente estas oportunidades, é fundamental o acompanhamento contínuo das tendências de mercado, requisitos regulatórios e preferências de consumo em cada país, além do estabelecimento de parcerias estratégicas com importadores e distribuidores locais.

Fontes:

  1. AGROINSIGHTS03VEGETAL20251.pdf
  2. AgroInsight — Ministério da Agricultura e Pecuária
vietnam-expansao-mercado-halal-2025

Vietnam Intensifica Reformas para Expandir sua Presença no Mercado Halal

O Vietnã está adotando medidas estratégicas para fortalecer sua inserção no mercado global Halal, avaliado em aproximadamente US$ 3 trilhões. Especialistas e autoridades locais têm destacado a necessidade de desenvolver um ecossistema robusto de produtos Halal, alinhado às normas internacionais de qualidade e certificação. Este movimento busca aproveitar o vasto potencial do país em matérias-primas e sua crescente relevância como destino turístico internacional.

Potencial Econômico e Recursos Naturais

Matérias-Primas para Produção Halal

O Vietnã possui uma rica diversidade de matérias-primas adequadas para a produção Halal, incluindo café, arroz, frutos do mar, produtos de aquicultura, especiarias, nozes, vegetais e frutas. Estes recursos oferecem uma base sólida para a fabricação de produtos certificados, especialmente em setores como alimentos e bebidas. Apesar disso, atualmente o país atende apenas 10% da demanda global por produtos Halal, evidenciando uma lacuna significativa que pode ser explorada por produtores locais.

Crescimento Econômico Sustentado

Com uma taxa média de crescimento do PIB entre 6% e 7% ao ano, o Vietnã apresenta um cenário econômico favorável para o desenvolvimento de produtos Halal. Além disso, sua posição como um dos principais destinos turísticos internacionais desde 2018 tem impulsionado os setores de hospitalidade e serviços alimentares, com aumento na demanda por restaurantes e serviços de catering Halal.

Desafios Estruturais e Certificação

Necessidade de Diretrizes Claras

Embora o país possua grande potencial no mercado Halal, desafios relacionados à certificação ainda persistem. Muitos mercados exigem certificação por terceiros reconhecidos internacionalmente, em vez de aceitar declarações diretas das empresas vietnamitas. Isso tem gerado barreiras comerciais que limitam o alcance dos produtos locais em mercados estratégicos como o Oriente Médio e a Europa.

Investimentos Estrangeiros

Autoridades vietnamitas têm incentivado investidores estrangeiros a estabelecerem instalações compatíveis com normas Halal no país. A recente assinatura do Acordo de Parceria Econômica Abrangente (CEPA) entre Vietnã e Emirados Árabes Unidos promete facilitar a exportação de produtos certificados para a região do Golfo, ampliando as oportunidades comerciais para empresas vietnamitas.

Estratégias para Expansão

Desenvolvimento de Marcas Fortes

A criação de marcas Halal reconhecidas globalmente é vista como uma prioridade estratégica para o Vietnã. Diversificar mercados-alvo e estabelecer redes promocionais claras são ações recomendadas por especialistas para aumentar a competitividade dos produtos vietnamitas no cenário internacional.

Reformas na Estrutura Legal

Melhorias na estrutura legal relacionada à certificação Halal estão sendo discutidas como forma de simplificar os procedimentos e aumentar a transparência no processo regulatório. Estas reformas são essenciais para atrair mais investimentos e consolidar o país como um importante player no mercado global Halal.

Perspectivas Futuras

Com reformas estruturais em andamento e um foco crescente na qualidade e certificação, o Vietnã está bem posicionado para expandir sua presença no mercado Halal nos próximos anos. O aproveitamento pleno de suas matérias-primas e a construção de um ecossistema eficiente podem transformar o país em um líder regional neste segmento estratégico.

capa para artigo Crescimento do Mercado de Cosméticos Halal

Crescimento do Mercado de Cosméticos Halal Impulsiona Investimentos no Setor em 2025

O mercado de cosméticos Halal está registrando um crescimento acelerado em 2025, com projeções de alcançar US$ 50 bilhões até o final do ano, segundo dados divulgados pela Organização de Cooperação Islâmica (OCI). Este segmento tem atraído investimentos significativos de grandes conglomerados globais, como L’Oréal e Estée Lauder, que estão expandindo suas linhas de produtos certificados para atender à crescente demanda dos consumidores muçulmanos.

Expansão Global e Novos Mercados

Aumento da Demanda na Ásia-Pacífico e Oriente Médio

A região da Ásia-Pacífico continua liderando o consumo de cosméticos Halal, representando cerca de 60% do mercado global. Países como Indonésia e Malásia têm registrado taxas de crescimento superiores a 15% ao ano, impulsionadas por campanhas governamentais que promovem o consumo de produtos Halal em todos os setores. No Oriente Médio, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita destacam-se como mercados estratégicos, com consumidores buscando produtos que atendam aos requisitos religiosos e também às normas internacionais de segurança de alimentos.

Expansão na América Latina

Na América Latina, o Brasil tem se consolidado como o principal exportador de insumos para cosméticos Halal, especialmente óleos vegetais e ingredientes naturais. Empresas locais estão investindo em certificação para acessar mercados internacionais, enquanto novos players entram no setor com foco na produção sustentável e alinhada aos princípios islâmicos.

Inovação no Desenvolvimento de Produtos

Ingredientes Naturais e Sustentáveis

A preferência por ingredientes naturais está moldando o desenvolvimento de cosméticos Halal. Empresas estão investindo em pesquisas para substituir componentes sintéticos por alternativas orgânicas que cumpram os requisitos religiosos. A utilização de extratos botânicos certificados tem sido uma tendência crescente, com destaque para produtos à base de aloe vera e argan.

Tecnologia na Produção

Novas tecnologias estão sendo implementadas para garantir a conformidade Halal em processos produtivos. O uso de inteligência artificial para monitoramento da cadeia produtiva está permitindo maior precisão na rastreabilidade dos ingredientes. Além disso, avanços em biotecnologia têm possibilitado a criação de fragrâncias livres de álcool e pigmentos derivados de fontes não-Halal.

Desafios Regulatórios e Certificação

Harmonização das Normas

Apesar do crescimento do mercado, a falta de harmonização entre normas internacionais tem sido um desafio significativo. Empresas enfrentam dificuldades para atender simultaneamente os requisitos específicos de diferentes países, o que aumenta os custos operacionais e limita a expansão global. A OCI está liderando esforços para criar diretrizes unificadas que facilitem o comércio internacional no setor.

Barreiras para Pequenos Produtores

Pequenos produtores enfrentam desafios relacionados ao custo elevado da certificação Halal e à adaptação tecnológica necessária para atender às exigências do mercado. Iniciativas como programas de capacitação técnica têm sido promovidas por governos e organizações islâmicas para apoiar esses negócios na transição para práticas conformes às normas Halal.

Perspectivas Futuras

O mercado de cosméticos Halal representa uma oportunidade estratégica para empresas que desejam expandir sua presença global enquanto atendem às demandas específicas dos consumidores muçulmanos. Com investimentos crescentes em inovação tecnológica e sustentabilidade, espera-se que este segmento continue a crescer nos próximos anos, consolidando-se como uma das principais áreas do mercado islâmico global.

Profissional realizando controle de qualidade em alimentos com ficha de inspeção e luvas em laboratório.

Análise Crítica do Sistema Sanitário Brasileiro: Fragilidades que Ameaçam a Segurança de Alimentos e o Potencial Exportador

O Brasil, embora tenha se consolidado como um gigante agroexportador, enfrenta desafios significativos em relação à segurança de alimentos e aplicação de normas sanitárias. Este paradoxo se manifesta na disparidade entre o status do país como “celeiro do mundo” e as falhas nos sistemas de inspeção e normatização sanitária. Os recentes aumentos alarmantes nos casos de intoxicação alimentar, a falta de rastreabilidade eficiente e a aplicação inconsistente das boas práticas de fabricação contribuem para um cenário complexo onde a qualidade pode estar sendo sacrificada em favor do volume e preço. A presente análise examina as diferenças entre BPF e HACCP, as deficiências no sistema sanitário brasileiro e as possíveis consequências para a posição do Brasil no mercado internacional.

Diferenças entre BPF e HACCP: Bases Conceituais para a Segurança de Alimentos

Boas Práticas de Fabricação (BPF): Base Necessária, Porém Insuficiente

As Boas Práticas de Fabricação (BPF) representam o conjunto de medidas que estabelecem os requisitos gerais de higiene e de boas práticas de elaboração para alimentos processados. Estas práticas são fundamentais como pré-requisitos em qualquer estabelecimento que manipule alimentos, mas apresentam limitações importantes para garantir a segurança completa dos alimentos.

As BPF focam principalmente em aspectos como higiene pessoal, limpeza e sanitização de instalações, controle de pragas, manejo de resíduos e qualidade da água. Embora essas práticas sejam essenciais, elas constituem medidas preventivas amplas que não conseguem identificar e controlar de maneira específica os perigos em cada etapa do processo produtivo. Sua natureza generalista não permite a identificação de pontos críticos específicos onde um controle mais rigoroso é necessário para prevenir, eliminar ou reduzir riscos a níveis aceitáveis.

A implementação isolada das BPF, sem outros sistemas complementares, deixa lacunas significativas na gestão da segurança de alimentos. Os dados alarmantes sobre intoxicações alimentares no Brasil sugerem claramente que apenas seguir as BPF não tem sido suficiente para garantir a segurança dos consumidores.

HACCP/APPCC: Necessidade Imperativa para a Segurança Efetiva

O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC ou HACCP) deve ser considerado obrigatório, não opcional, para qualquer estabelecimento que produza, manipule ou sirva alimentos. Diferentemente das BPF, o HACCP é um sistema preventivo específico que identifica, avalia e controla perigos significativos para a segurança de alimentos em cada etapa do processo produtivo.

O HACCP vai muito além das BPF ao estabelecer limites críticos mensuráveis, procedimentos de monitoramento, ações corretivas predeterminadas e verificações sistemáticas. Enquanto as BPF criam o ambiente higiênico básico, o HACCP gerencia ativamente os riscos específicos, monitora parâmetros críticos em tempo real e previne problemas antes que afetem o produto final.

A implementação obrigatória de planos HACCP é imprescindível no contexto brasileiro. Apenas com a exigência legal e fiscalização adequada deste sistema será possível reduzir significativamente os casos de doenças transmitidas por alimentos. É uma falha sistêmica que muitos estabelecimentos, especialmente pequenos e médios, operem apenas com BPF básicas sem a implementação de um plano HACCP estruturado.

Deficiências do Sistema Sanitário Brasileiro

Fiscalização Insuficiente e Aplicação Inconsistente das Normas

A insuficiência das normas sanitárias e inspeção no Brasil é evidenciada por estudos de caso e dados estatísticos. Uma pesquisa realizada em um restaurante self-service demonstrou que apenas 65% dos itens avaliados estavam em conformidade com as normas da ANVISA, classificando o estabelecimento com risco sanitário apenas “regular”. Este caso ilustra a realidade de muitos estabelecimentos que operam com condições higiênico-sanitárias abaixo do ideal.

Além disso, o sistema regulatório brasileiro enfrenta fragilidades na adoção de acordos e termos de compromisso entre o governo e as indústrias. Esses instrumentos frequentemente flexibilizam prazos e exigências, dificultando a fiscalização efetiva e permitindo que práticas inadequadas persistam, comprometendo a segurança de alimentos.

Crescimento Alarmante dos Casos de Intoxicação Alimentar

As consequências da aplicação deficiente das normas sanitárias refletem-se diretamente no aumento de casos de intoxicação alimentar. Dados da Secretaria de Estado da Saúde mostram que houve um aumento alarmante de 114,2% nos casos de intoxicação alimentar na região de Campinas (SP) entre janeiro e outubro de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior – saltando de 21.990 para 47.111 atendimentos.

O número de internações por intoxicação alimentar também cresceu significativamente (33%) no mesmo período, passando de 354 para 471 casos. Estes números assustadores indicam claramente que há falhas graves no sistema de controle sanitário, resultando em riscos concretos à saúde pública.

Certificações Internacionais e sua Importância para a Qualidade Alimentar

Certificação FSSC 22000: Norma Global para Segurança de Alimentos

A Certificação de Sistemas de Segurança de Alimentos FSSC 22000 é um esquema de certificação internacionalmente reconhecido, baseado na norma ISO 22000 e complementado por requisitos adicionais específicos da FSSC. Os Programas de Pré-Requisitos (PRPs), fundamentais para essa certificação, têm como referência normativa as diferentes partes da família ISO 22002, que detalham práticas específicas para setores variados da cadeia alimentar. Desenvolvida para atender às demandas globais por normas robustas e confiáveis, a FSSC 22000 oferece um framework completo para garantir a segurança de alimentos em toda a cadeia produtiva.

A FSSC 22000, assim como outras certificações amplamente reconhecidas, como o BRC e o IFS, é aceita mundialmente. Todas essas certificações representam opções confiáveis para organizações que buscam garantir a segurança de alimentos em toda a cadeia produtiva. Elas oferecem frameworks robustos para estabelecer, monitorar e melhorar os controles necessários, atendendo às exigências globais por alimentos seguros e de alta qualidade.

Benefícios da Adoção de Certificações Rigorosas

Certificações rigorosas obrigam a empresa a cumprir com todos os requisitos regulamentares, legais e normativos do setor, garantindo que, mais do que fabricar e comercializar alimentos seguros, a organização é eticamente responsável, confiável e comprometida com seus clientes e parceiros de trabalho.

A certificação também melhora a reputação da empresa, transmitindo maior confiabilidade ao mercado consumidor. Quando um cliente compra de uma empresa certificada, tem a garantia de que esta segue normas rigorosas de segurança de alimentos, o que é particularmente relevante para a manutenção e expansão de mercados internacionais.

O Paradoxo das Exportações Brasileiras: Quantidade versus Qualidade

Brasil: “Celeiro do Mundo” e seus Recordes de Exportação

O Brasil já exerce liderança nas exportações globais de pelo menos sete alimentos, consolidando-se como o “celeiro do planeta”. O país é o maior exportador mundial de soja (56% das exportações totais), milho (31%), café (27%), açúcar (44%), suco de laranja (76%), carne bovina (24%) e carne de frango (33%).

Com pouco mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil hoje produz alimentos suficientes para as necessidades calóricas de aproximadamente 900 milhões de pessoas, o que equivale a 11% da população global. Estes números impressionantes destacam a capacidade produtiva brasileira e sua relevância no cenário global.

Liderança em Risco: O Desafio do Brasil em Equilibrar Volume e Qualidade nas Exportações de Alimentos

Contudo, surge a questão sobre se a liderança do Brasil no mercado global de alimentos se baseia mais em preços competitivos do que em qualidade superior. Embora o país tenha uma produção abundante, capaz de atender tanto à demanda interna quanto às exportações, há preocupações sobre a capacidade do Brasil de manter essa posição diante das crescentes exigências por qualidade e segurança de alimentos.

A competitividade do Brasil parece estar mais relacionada aos custos de produção do que à adoção de normas rigorosas de qualidade. Isso coloca em risco a permanência do país como líder global, especialmente porque os mercados internacionais estão cada vez mais priorizando produtos que atendam altos padrões de segurança de alimentos e rastreabilidade. Para preservar sua relevância, o Brasil precisa equilibrar volume e qualidade, investindo em certificações reconhecidas e sistemas robustos que garantam alimentos seguros e confiáveis.

Rastreabilidade: O Elo Frágil na Cadeia Alimentar Brasileira

Importância da Rastreabilidade na Segurança de Alimentos

A rastreabilidade de produtos é um fator essencial para empresas que buscam eficiência, segurança e qualidade em suas operações. Ela permite acompanhar cada etapa do ciclo do produto, desde a matéria-prima até a entrega final, o que melhora a gestão de estoque, reduz riscos e fortalece a confiança do cliente.

Um sistema de rastreabilidade eficiente não apenas protege os consumidores, mas também fortalece a posição competitiva das empresas, permitindo rápida identificação e resolução de problemas de qualidade ou segurança.

Tecnologias Subaproveitadas e Implementação Deficiente

No Brasil, observa-se um subaproveitamento de tecnologias que poderiam incrementar a rastreabilidade. Sistemas de gestão integrados (ERP), identificação por código de barras e RFID, e a adoção de blockchain para mais segurança e transparência são tecnologias disponíveis que poderiam melhorar significativamente a rastreabilidade na cadeia de suprimentos brasileira.

A tecnologia blockchain, em particular, vem ganhando destaque pela sua capacidade de garantir a segurança e transparência dos dados. Com esta tecnologia, cada etapa da produção e distribuição do produto é registrada de forma imutável em uma rede descentralizada, permitindo que informações sobre a procedência sejam verificáveis.

No contexto da rastreabilidade e segurança de alimentos, os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança) ganham relevância estratégica. Empresas que integram práticas de ESG em suas operações não apenas fortalecem sua reputação no mercado global, mas também atendem às demandas crescentes por transparência e sustentabilidade. A rastreabilidade, ao garantir informações claras sobre a origem e o impacto ambiental e social dos produtos, torna-se um elemento essencial para cumprir os critérios de ESG, promovendo confiança entre consumidores, investidores e parceiros comerciais.

Caminhos para Fortalecer a Segurança de Alimentos Brasileira

A análise da situação atual da segurança de alimentos no Brasil revela um paradoxo significativo: enquanto o país se destaca como líder global em exportações de vários produtos alimentícios, enfrenta desafios consideráveis em relação à aplicação de normas sanitárias e implementação de sistemas de controle de qualidade robustos.

Para preservar e fortalecer a posição do Brasil no mercado internacional, é imperativo que haja um fortalecimento das estruturas regulatórias e de fiscalização. A adoção obrigatória de certificações internacionalmente reconhecidas, como FSSC 22000, BRC, IFS Food, poderia proporcionar um salto qualitativo na produção alimentícia brasileira. Além disso, a implementação obrigatória de planos HACCP em todas as indústrias alimentícias, independentemente de seu porte, seria um passo crucial para elevar os padrões de segurança de alimentos no país. Essas medidas, em conjunto, fortaleceriam significativamente a posição do Brasil no mercado global de alimentos, garantindo não apenas volume, mas também qualidade e segurança.

Além disso, o investimento em sistemas de rastreabilidade avançados, utilizando tecnologias como blockchain e RFID, é fundamental para garantir transparência e segurança em toda a cadeia produtiva e preservar a reputação dos produtos brasileiros.

Em última análise, o equilíbrio entre volume de produção e qualidade não é apenas desejável, mas essencial para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro no longo prazo. O Brasil tem o potencial de ser não apenas o “celeiro do mundo”, mas também um exemplo global de excelência em segurança de alimentos.

Referências

  1. Codex Alimentarius – Código Internacional de Práticas Recomendadas: Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos
  2. ANVISA – Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002
  3. Global Food Safety Initiative (GFSI) – Benchmarking Requirements for Food Safety Certification Programs
  4. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – Boletim Epidemiológico 2024
  5. UNESP – Estudo sobre exportações agrícolas brasileiras e competitividade global
  6. Instituto Fome Zero – Relatório sobre produção e distribuição alimentar no Brasil
  7. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR ISO 22000:2019
  8. Organização Mundial de Saúde (OMS) – Manual sobre 5 chaves para uma alimentação mais segura
Presidentes dos Emirados Árabes Unidos e da República Centro-Africana apertam as mãos após assinatura de acordo econômico CEPA, com bandeiras nacionais ao fundo.

EAU e República Centro-Africana Assinam Acordo Econômico CEPA

Acordo Econômico Entre EAU e República Centro-Africana Abre Novas Oportunidades para o Comércio de Produtos Halal

Em um importante desenvolvimento para as relações econômicas bilaterais, os Emirados Árabes Unidos (EAU) e a República Centro-Africana assinaram um Acordo de Parceria Econômica Abrangente (CEPA) que deverá impulsionar o comércio entre as duas nações para além de 3,67 bilhões de dirhams (aproximadamente 1 bilhão de dólares) nos próximos cinco a sete anos. Anunciado em março de 2025 pelo Dr. Thani bin Ahmed Al Zeyoudi, Ministro de Estado para Comércio Exterior dos EAU, o acordo sublinha o compromisso da liderança dos EAU com a diversificação comercial, o reforço da cooperação em investimentos e a promoção do desenvolvimento sustentável tanto regional quanto globalmente.

Uma Nova Era no Comércio Bilateral

O comércio não petrolífero entre os EAU e a República Centro-Africana tem apresentado um crescimento constante, com valores atingindo mais de 925 milhões de dirhams em 2024, representando um aumento significativo de 75% em comparação ao ano anterior. Este crescimento reflete não apenas o aumento das trocas comerciais entre as duas nações, mas também a mudança estratégica mais ampla dos EAU em direção à diversificação de sua economia para além das receitas petrolíferas. O novo CEPA foi concebido para aproveitar este impulso, eliminando barreiras comerciais e criando uma estrutura robusta para futura colaboração econômica.

Dr. Thani bin Ahmed Al Zeyoudi explicou que o CEPA incorpora as prioridades econômicas estratégicas dos EAU — diversificação econômica e desenvolvimento sustentável. “Este acordo criará mais oportunidades de crescimento e prosperidade para as comunidades empresariais em ambos os países”, disse ele em sua declaração à Agência de Notícias dos Emirados (WAM). “É uma clara demonstração do nosso compromisso em reforçar a cooperação comercial e de investimento globalmente, enquanto apoiamos a estratégia econômica dos EAU.”

Características Principais do Acordo

O CEPA estabelece uma estrutura ambiciosa para a liberalização do comércio e investimento entre os EAU e a República Centro-Africana. Uma de suas características marcantes é a significativa remoção de tarifas acordada por ambas as partes. Os EAU concederão uma remoção de 98% das tarifas para mercadorias originárias da República Centro-Africana, enquanto a República Centro-Africana estenderá uma remoção ainda maior de 99,5% das tarifas para exportações dos EAU. Este substancial afrouxamento das barreiras tarifárias deverá abrir o mercado dos EAU para produtos centro-africanos e vice-versa, proporcionando um grande impulso ao comércio bilateral.

Liberalização e Acesso ao Mercado

As extensas remoções de tarifas garantem que uma ampla gama de produtos se beneficiará do acesso livre de impostos, abrindo caminho para o aumento das exportações em diversos setores-chave. Para os EAU, isso significa que sua diversificada gama de bens manufaturados de alta qualidade, produtos tecnológicos e serviços avançados pode entrar no mercado centro-africano com custo mínimo. Por outro lado, as exportações da República Centro-Africana, que incluem matérias-primas e produtos agrícolas, encontrarão um mercado mais receptivo nos EAU.

Oportunidades de Investimento em Múltiplos Setores

Além da liberalização comercial, o CEPA delineia significativas oportunidades de investimento para ambas as nações em vários setores. O acordo visa reforçar a cooperação em telecomunicações, hospitalidade e turismo, logística, tecnologia financeira e indústrias tradicionais, incluindo alumínio, cerâmica, petroquímicos, ferro, prata, ouro, produtos alimentícios e têxteis.

Implicações para o Mercado Halal

Para o setor de produtos Halal, este acordo representa uma oportunidade significativa. Os EAU, com sua infraestrutura robusta para certificação Halal e sua posição como um centro global para comércio Halal, podem facilitar a entrada de produtos centro-africanos certificados em mercados mais amplos. A República Centro-Africana, por sua vez, pode explorar o conhecimento técnico dos EAU em estabelecer normas Halal e desenvolver sua própria indústria de produtos conformes com as exigências Halal.

O acordo pode estimular particularmente o comércio de produtos alimentícios Halal, com a República Centro-Africana tendo potencial para exportar matérias-primas agrícolas para processamento em instalações certificadas nos EAU. Esta colaboração pode criar uma cadeia de valor Halal mais integrada, beneficiando produtores e consumidores em ambas as nações.

Impacto Regional e Global

O CEPA entre os EAU e a República Centro-Africana não é apenas um acordo bilateral; também tem implicações regionais e globais mais amplas. Em um mundo onde a resiliência da cadeia de suprimentos e a diversificação econômica estão se tornando cada vez mais importantes, tais acordos são vitais para integrar mercados emergentes na economia global.

Catalisando o Comércio Regional

Um dos resultados esperados do CEPA é a catalisação do comércio regional dentro da África. À medida que a República Centro-Africana fortalece seus vínculos comerciais com os EAU, outras nações africanas podem ser encorajadas a buscar acordos semelhantes. Isso poderia levar a um mercado africano mais integrado, com comércio transfronteiriço aprimorado, logística melhorada e maior estabilidade econômica geral. Os benefícios a longo prazo poderiam incluir aumento do investimento intrarregional e um bloco comercial mais robusto, melhor posicionado para negociar no cenário global.

O Caminho à Frente: Visão Estratégica e Benefícios a Longo Prazo

O CEPA entre os EAU e a República Centro-Africana é um acordo voltado para o futuro que não apenas busca impulsionar os números comerciais no curto prazo, mas também estabelece as bases para um crescimento econômico sustentável e de longo prazo. Ao focar na diversificação econômica, transformação digital e parcerias estratégicas, o acordo está pronto para criar um ecossistema econômico mais integrado e resiliente.

Para os EAU, esta parceria é uma parte importante de sua estratégia mais ampla para expandir sua rede global de comércio e reduzir a dependência das receitas petrolíferas. Representa um compromisso contínuo em fomentar relacionamentos mutuamente benéficos com mercados emergentes, assegurando assim novas oportunidades de crescimento em um cenário global cada vez mais competitivo.

Para a República Centro-Africana, o acordo pode ser transformador. Além do impulso imediato ao comércio não petrolífero, oferece um caminho para modernizar sua economia, atrair investimento direto estrangeiro e construir a capacidade institucional necessária para participar plenamente da economia global. Os potenciais efeitos secundários — como infraestrutura melhorada, criação de empregos e capacidades tecnológicas aprimoradas — poderiam elevar significativamente o perfil econômico do país e fornecer um modelo para outras nações da região.

Conclusão

A assinatura do Acordo de Parceria Econômica Abrangente entre os EAU e a República Centro-Africana marca um momento crucial na evolução do comércio bilateral e do investimento entre as duas nações. Com metas ambiciosas estabelecidas para impulsionar o comércio além de 3,67 bilhões de dirhams e extensas disposições para remoção de tarifas e liberalização de mercado, o acordo representa um passo ousado em direção à integração e diversificação econômica. Ele abre vastas oportunidades para empresas — desde grandes corporações multinacionais até ágeis pequenas e médias empresas — em uma ampla gama de setores, incluindo o mercado de produtos Halal, que pode se beneficiar significativamente desta nova parceria estratégica.

À medida que os EAU continuam seu impulso estratégico para diversificar sua economia e estender seu alcance comercial global, e à medida que a República Centro-Africana busca modernizar sua estrutura econômica e aproveitar seus recursos naturais e humanos, esta parceria promete ser um catalisador para um crescimento e desenvolvimento significativos. Com ambos os países comprometidos com um futuro de cooperação reforçada, inovação e prosperidade mútua, o CEPA está definido para redefinir as relações comerciais na região e estabelecer um novo padrão para a colaboração econômica Sul-Sul.

Imagem de capa do relatório AgroInsight Fevereiro 2025, destacando oportunidades globais para o agronegócio brasileiro, com paisagem agrícola ao fundo.

AgroInsight 2025: Oportunidades Globais para o Agronegócio Brasileiro

AgroInsight Fevereiro 2025: Panorama Global de Oportunidades para o Agronegócio Brzasileiro

Os relatórios AgroInsight Fevereiro 2025, elaborados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, apresentam uma análise detalhada das oportunidades globais para produtos de origem animal e vegetal do Brasil. Este material estratégico revela tendências, desafios e mercados promissores, oferecendo direcionamento valioso para produtores, exportadores e formuladores de políticas públicas do agronegócio brasileiro.

Oportunidades Regionais Estratégicas

Oriente Médio e África: Mercados Prioritários

O Oriente Médio continua sendo uma região de extraordinária relevância para o Brasil, principalmente no segmento de proteínas Halal. Nos Emirados Árabes Unidos, o Brasil mantém imponente participação de 82,6% no mercado de frango Halal, demonstrando a confiabilidade e aceitação dos produtos brasileiros certificados. Este mercado apresenta oportunidades não apenas para frango, mas também para produtos processados de maior valor agregado, além de utilizar o país como hub logístico para redistribuição regional.

A Arábia Saudita revela-se estratégica em múltiplas frentes. No mercado de carne ovina e caprina, avaliado em US$186 milhões, o país manifestou interesse em diversificar suas importações, abrindo espaço para o Brasil que possui expressivo rebanho e credibilidade na certificação Halal. Paralelamente, no setor vegetal, o Brasil domina impressionantes 92% do mercado de açúcar saudita, totalizando US$878 milhões em 2023. A suspensão das exportações indianas ampliou ainda mais as possibilidades para o produto brasileiro na região.

No Egito, a abertura do mercado para carne de búfalo brasileira em dezembro de 2024 complementa a forte presença brasileira no setor de carne bovina desossada, onde o país ocupa a segunda posição com 31% do mercado. Simultaneamente, o mercado egípcio de algodão em pluma, aberto para o produto brasileiro em janeiro de 2023, já posiciona o Brasil como segundo maior fornecedor, atrás apenas da Grécia, com exportações de aproximadamente 32 mil toneladas resultando em vendas de US$56 milhões em 2024.

A África do Sul apresenta oportunidades em segmentos diversificados. Para produtos de origem animal, destaca-se o potencial para mel brasileiro em nichos específicos, como mel de floradas especiais com propriedades nutricionais e terapêuticas. Já no setor vegetal, o mercado de arroz mostra-se promissor, considerando que o país depende quase totalmente de importações para atender sua demanda interna de 900.000 toneladas anuais.

Na Argélia, o mercado de milho revela-se particularmente interessante, com importações anuais de aproximadamente 4 milhões de toneladas. O recente lançamento de licitações pelo Escritório Nacional de Alimentação Pecuária argelino para a compra de 240.000 toneladas de milho exclusivamente do Brasil ou da Argentina evidencia preferência por fornecedores sul-americanos neste mercado.

Ásia-Pacífico: Expansão e Consolidação

A China mantém sua posição como mercado prioritário para o agronegócio brasileiro. No setor de proteínas, o Brasil consolidou-se como principal fornecedor de carne bovina, respondendo por 47% do volume importado pelo gigante asiático. Contudo, este mercado apresenta desafios crescentes, como a investigação chinesa sobre possíveis impactos das importações na indústria local. No segmento vegetal, a recente abertura para uvas frescas brasileiras provenientes da Bahia e Pernambuco representa um marco significativo, considerando que a China importou 166,7 mil toneladas de uvas em 2023, gerando receitas de US$484,49 milhões.

A Coreia do Sul emerge como mercado promissor em diversas frentes. O acordo recente para exportação de penas de aves brasileiras atende a um mercado de US$27,9 milhões anuais. Paralelamente, as mangas frescas brasileiras encontram cenário favorável devido à implementação de quotas tarifárias pelo governo sul-coreano para o primeiro semestre de 2025, com tarifas de 0% para 25.000 toneladas. O Brasil, que já aumentou suas exportações em 61% em 2024 comparado a 2023, tem a oportunidade de consolidar sua posição como segundo maior fornecedor neste mercado, que é o segundo que melhor remunera as mangas frescas no mundo.

A Austrália apresenta oportunidades distintas nos setores animal e vegetal. A abertura de mercado para peixes cultivados brasileiros em 2024 cria espaço para a tilápia brasileira em um país que importa 65% do consumo doméstico de pescados. Simultaneamente, a castanha-do-brasil encontra potencial como superalimento valorizado por seu perfil nutricional, em um mercado que já teve o Brasil como principal fornecedor em 2022, com 50,6% de participação.

Bangladesh demonstra interesse em estabelecer comércio bilateral de pescados, utilizando o Brasil como porta de entrada para seus produtos na América Latina, indicando possibilidades para intercâmbio comercial mutuamente benéfico.

Américas: Proximidade e Complementaridade

Os Estados Unidos permanecem como segundo maior mercado para carne bovina brasileira, com exportação de aproximadamente 40 mil toneladas em 2023. Contudo, a nova política comercial americana e a “guerra tarifária” com o Canadá podem reconfigurar fluxos comerciais na região, potencialmente beneficiando o Brasil em produtos como suco de laranja e café, caso ocorram retaliações canadenses estabelecendo tarifas sobre produtos americanos.

O Chile apresenta oportunidades complementares nos setores animal e vegetal. Para produtos de origem animal, destaca-se o potencial para ampliar exportações de “pet chews” (mastigáveis para animais de companhia), aproveitando o crescimento do setor em um país com 12,5 milhões de cães e gatos. No segmento vegetal, o açaí brasileiro encontra mercado receptivo e em expansão, beneficiado pelo Acordo de Livre Comércio entre Brasil e Chile, em vigor desde 2022.

A Costa Rica mostra-se receptiva tanto para proteínas quanto para produtos vegetais brasileiros. No setor animal, existe potencial para carne sustentável e de valor agregado, em um mercado que valoriza qualidade (85%), preço (35%) e considerações ambientais (25%). No segmento vegetal, o suco de uva brasileiro apresenta potencial devido à sua qualidade superior e competitividade, mesmo em um mercado com produção local modesta.

Na Colômbia, a recente decisão judicial que derrubou o monopólio departamental das aguardentes abre novas oportunidades para a cachaça brasileira, produto que tem ampliado sua presença internacional como bebida premium.

Em Angola, o mercado de trigo mostra-se promissor para o Brasil. O país importou 624 mil toneladas de trigo em 2023, correspondendo a US$376 milhões. Com o crescimento da produção brasileira de trigo e estimativas de autossuficiência no médio prazo, Angola pode se tornar um destino estratégico para exportações brasileiras.

Europa: Inovação e Tendências Emergentes

Na Alemanha, observa-se crescimento expressivo no consumo de proteínas vegetais e preparações vegetarianas, um mercado que pode alcançar 23 bilhões de Euros até 2045. Entre 2019 e 2023, a produção de alimentos alternativos de origem vegetal dobrou, atingindo valor de produção de 583 milhões de euros em 2023. Este cenário representa oportunidades para exportação de leguminosas, farelos e outras bases proteicas vegetais brasileiras.

Tendências Globais e Considerações Estratégicas

Certificação Halal como Diferencial Competitivo

A certificação Halal emerge como elemento decisivo para acesso a mercados muçulmanos. A confiabilidade do sistema brasileiro de certificação tem garantido posições de liderança em mercados como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito. O fortalecimento contínuo deste sistema representa uma vantagem competitiva estratégica para o Brasil nos mercados islâmicos, que apresentam crescimento demográfico e econômico expressivos.

Sustentabilidade e Rastreabilidade como Exigências Crescentes

Os relatórios evidenciam a valorização crescente de práticas sustentáveis e capacidade de rastreamento dos produtos, especialmente em mercados desenvolvidos. A produção sustentável não é apenas requisito regulatório, mas diferencial competitivo que agrega valor aos produtos brasileiros. Mercados como Costa Rica, Austrália e União Europeia demonstram sensibilidade particular a aspectos ambientais na decisão de compra.

Diversificação de Produtos e Mercados como Estratégia de Resiliência

A conjuntura internacional marcada por tensões comerciais, busca por autossuficiência alimentar e instabilidades geopolíticas reforça a importância da diversificação tanto de produtos quanto de mercados. Os relatórios apontam oportunidades em mercados não tradicionais como Bangladesh, África do Sul e países da América Central, além de identificar nichos específicos em mercados consolidados, como produtos processados nos Emirados Árabes Unidos e proteínas vegetais na Alemanha.

Produtos de Valor Agregado e Especialidades

Emerge como tendência consistente a demanda por produtos de maior valor agregado e especialidades. No setor animal, observa-se potencial para cortes específicos, produtos processados e itens premium com certificações diferenciadas. No segmento vegetal, identifica-se oportunidades para frutas processadas, sucos integrais, castanhas e produtos com apelos funcionais específicos, como o açaí e a castanha-do-brasil comercializados como superalimentos.

Considerações Finais

Os relatórios AgroInsight Fevereiro 2025 oferecem panorama abrangente e detalhado das oportunidades globais para o agronegócio brasileiro. A análise revela que, apesar dos diversos desafios no comércio internacional, o Brasil mantém posição de destaque em vários setores agrícolas, com oportunidades substanciais para ampliar sua presença e agregar valor às exportações.

A integração estratégica entre os setores animal e vegetal, aliada a uma visão de longo prazo orientada para sustentabilidade, qualidade e valor agregado, apresenta-se como caminho promissor para o contínuo fortalecimento da posição brasileira como fornecedor global de alimentos. Os insights apresentados constituem insumo valioso para direcionamento de investimentos, desenvolvimento de produtos e estratégias comerciais por parte do setor privado e formulação de políticas públicas pelo governo brasileiro.

Referências

Relatórios AgroInsight – Ministério da Agricultura e Pecuária