Brasil reforça laços comerciais com Marrocos e Egito, ampliando exportações agrícolas, promovendo carne bovina e fortalecendo sua posição no mercado Halal.

Brasil Fortalece Laços Comerciais com Marrocos e Egito e Amplia Agenda Agropecuária no Norte da África

A recente missão oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) ao Marrocos e Egito representa um marco significativo na estratégia brasileira de consolidar alianças estratégicas com nações do mundo árabe. Durante os dias 7 a 10 de abril de 2025, a comitiva liderada pelo secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais, Marcel Moreira, avançou em discussões sanitárias, ampliou oportunidades de cooperação técnica e celebrou importantes conquistas comerciais, incluindo a abertura do mercado marroquino para miúdos bovinos brasileiros. O Egito reafirmou sua posição como principal destino africano para produtos do agronegócio brasileiro, com exportações que alcançaram US$ 3,3 bilhões em 2024, evidenciando o potencial crescente do Brasil em contribuir para a segurança alimentar regional enquanto fortalece relações comerciais duradouras.

Contexto Estratégico da Missão ao Norte da África

A missão brasileira ao Marrocos e Egito reflete uma abordagem coordenada do governo brasileiro para intensificar sua presença comercial e diplomática no continente africano, especialmente na região norte. Esta iniciativa se insere em um contexto mais amplo de política externa brasileira, que busca diversificar mercados e estabelecer parcerias estratégicas com países que compartilham interesses mútuos no setor agropecuário. A viagem contou com apoio direto dos adidos agrícolas brasileiros nos respectivos países – Ellen Laurindo no Marrocos e Rafael Mohana no Egito – demonstrando a infraestrutura diplomática especializada que o Brasil mantém para facilitar negociações comerciais e técnicas no setor agropecuário.

O timing desta missão é particularmente significativo, ocorrendo em um momento em que a segurança alimentar global enfrenta desafios crescentes e quando o Brasil busca consolidar sua posição como um fornecedor confiável de alimentos para o mundo. As nações do norte da África representam mercados estratégicos não apenas pelo volume de importações, mas também por servirem como porta de entrada para um mercado consumidor mais amplo que abrange o Oriente Médio e outras regiões africanas.

A continuidade das relações entre Brasil e países árabes tem se fortalecido consistentemente ao longo dos anos, com missões anteriores pavimentando o caminho para os avanços atuais. Esta abordagem persistente e estruturada tem rendido frutos tangíveis para o agronegócio brasileiro, com diversas aberturas de mercado e reconhecimento da qualidade dos produtos nacionais.

Avanços nas Relações com o Marrocos

No primeiro destino da missão, o Marrocos, o foco principal esteve na aproximação institucional com autoridades sanitárias e na promoção comercial dos produtos brasileiros. O secretário adjunto Marcel Moreira realizou uma reunião produtiva com o diretor-geral da autoridade sanitária marroquina (ONSSA), Abdellah Janati, onde foram discutidos temas cruciais para o avanço das relações comerciais bilaterais.

Um ponto alto da visita foi o agradecimento formal pela recente abertura do mercado marroquino para miúdos bovinos do Brasil, marcando a 346ª abertura de mercado desde o início da atual gestão do Ministério da Agricultura e Pecuária. Este avanço representa não apenas uma conquista comercial, mas também um reconhecimento da qualidade e segurança dos produtos brasileiros, especialmente relevante para o mercado Halal, onde produtos bovinos têm demanda significativa.

A visita ao Marrocos também incluiu a realização do “Brazilian Beef Dinner”, um evento estratégico organizado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) em colaboração com a Embaixada do Brasil em Rabat. Este evento proporcionou um ambiente de negócios propício para aproximação comercial, reunindo autoridades locais, empresários e representantes do setor agroalimentar marroquino. A escolha de promover especificamente a carne bovina brasileira demonstra a importância deste produto nas relações comerciais entre os dois países e seu potencial de crescimento no mercado norte-africano.

As discussões sobre cooperação técnica entre os governos brasileiro e marroquino abrem perspectivas promissoras para a transferência de conhecimento e tecnologias em áreas como defesa agropecuária, sanidade animal e sistemas de inspeção, fortalecendo não apenas as relações comerciais, mas também institucionais entre as duas nações.

Expansão da Cooperação com o Egito

A segunda etapa da missão ocorreu no Egito, onde o secretário-adjunto Marcel Moreira foi recebido pelo ministro substituto da Agricultura e Recuperação de Terras, Moustafa El Sayyad, acompanhado por outras autoridades egípcias. O encontro representou um momento significativo nas relações bilaterais, considerando o expressivo crescimento das exportações agrícolas brasileiras para o país nos últimos anos.

Os números apresentados durante a reunião são impressionantes: em 2024, o Brasil exportou para o Egito mais de 8,5 milhões de toneladas de produtos do agronegócio, totalizando US$ 3,3 bilhões em valor. Este desempenho notável recolocou o Egito na posição de principal destino do agronegócio brasileiro no continente africano, demonstrando a relevância estratégica deste mercado para o Brasil.

No âmbito sanitário, os representantes brasileiros trabalharam para reforçar a confiança mútua construída ao longo dos últimos anos, que tem resultado em diversas aberturas de mercado para produtos brasileiros. Um marco importante nesta relação foi o Acordo de Equivalência (pré-listing), que representa o reconhecimento formal pelo Egito da eficiência e confiabilidade do sistema de defesa agropecuária brasileiro.

Durante os encontros, as autoridades egípcias manifestaram interesse em aprofundar ainda mais essa parceria, com avanços concretos em duas frentes principais: a implementação da certificação eletrônica para produtos de origem animal e a abertura de mercado para novos itens do agronegócio brasileiro. Estas iniciativas prometem não apenas aumentar o volume comercial entre os países, mas também tornar os processos mais eficientes e seguros.

Promoção da Carne Brasileira nos Mercados Árabes

Um elemento estratégico que permeou toda a missão foi a promoção ativa da carne bovina brasileira. Em ambos os países visitados, foram realizados eventos específicos para destacar a qualidade deste produto. No Cairo, seguindo o modelo já implementado em Rabat, o “Brazilian Beef Dinner” reuniu autoridades e empresários egípcios em torno da carne brasileira.

Estes eventos promocionais evidenciam o entendimento brasileiro de que o mercado árabe valoriza três aspectos fundamentais: qualidade do produto, segurança sanitária e relações comerciais de longo prazo. A escolha por priorizar a carne bovina nas ações promocionais reflete sua importância estratégica na pauta exportadora brasileira para a região, bem como seu alinhamento com as demandas do mercado Halal.

A presença da ABIEC na organização destes eventos demonstra a articulação entre governo e setor privado na promoção internacional dos produtos brasileiros, criando sinergias que potencializam os resultados comerciais. Esta abordagem coordenada entre instituições públicas e privadas tem se mostrado eficaz para enfrentar os desafios de mercados competitivos e complexos como os do norte da África.

Os eventos de promoção também serviram como plataforma para apresentar os avanços brasileiros em matéria de sustentabilidade, rastreabilidade e segurança de alimentos, aspectos cada vez mais valorizados pelo mercado global, especialmente no segmento de carnes.

Implicações para o Mercado Halal

A intensificação das relações comerciais entre o Brasil e países de maioria muçulmana como Marrocos e Egito tem implicações diretas para o mercado Halal global. O Brasil tem se consolidado como um dos principais fornecedores mundiais de produtos Halal, especialmente no setor de proteína animal, graças a investimentos consistentes em sistemas de certificação e capacitação para atender às exigências religiosas e técnicas deste segmento.

A abertura de mercado para miúdos bovinos brasileiros no Marrocos é particularmente relevante para o mercado Halal, pois representa um reconhecimento adicional da capacidade brasileira de fornecer produtos que atendam às normas islâmicas de abate e processamento. Esta conquista pode servir como referência para outros países com população majoritariamente muçulmana, potencialmente abrindo novas oportunidades comerciais.

O fortalecimento da confiança nas relações com autoridades sanitárias de Marrocos e Egito também beneficia indiretamente todo o sistema de certificação Halal brasileiro, pois demonstra que os controles sanitários e os processos produtivos nacionais são reconhecidos e respeitados internacionalmente, incluindo por mercados exigentes.

A estratégia brasileira de promover não apenas a abertura de mercados, mas também o estabelecimento de relações comerciais duradouras, alinha-se perfeitamente com os valores do comércio Halal, onde a confiança e a transparência são elementos fundamentais nas transações comerciais.

Consolidação de Alianças Estratégicas no Mundo Árabe

A missão ao Marrocos e Egito transcende os objetivos comerciais imediatos, representando um componente crucial na estratégia brasileira de consolidar alianças duradouras com países-chave do mundo árabe. Esta abordagem de longo prazo combina três elementos essenciais: relações diplomáticas sólidas, cooperação técnica estruturada e presença comercial qualificada.

O Brasil demonstra compreender que sua contribuição para a segurança alimentar global, especialmente em regiões como o norte da África, não se limita ao fornecimento de produtos agropecuários, mas inclui também a transferência de conhecimentos e tecnologias que podem ajudar os países parceiros a desenvolverem suas próprias capacidades produtivas.

A continuidade das iniciativas diplomáticas e comerciais, evidenciada pela sequência de missões e acordos firmados ao longo dos anos, revela uma política de Estado consistente para o fortalecimento das relações com o mundo árabe, que transcende mandatos governamentais específicos e estabelece bases sólidas para o futuro.

O reconhecimento do sistema brasileiro de defesa agropecuária através de acordos como o de Equivalência com o Egito representa um capital diplomático e comercial valioso, construído ao longo de anos de trabalho técnico e negociações, que pode ser aproveitado para expandir ainda mais a presença brasileira na região.

Perspectivas Futuras das Relações Comerciais Brasil-Norte da África

Analisando os resultados da missão e o contexto mais amplo das relações entre Brasil e os países do norte da África, é possível identificar perspectivas promissoras para o futuro. As tratativas para implementação da certificação eletrônica com o Egito e para novas aberturas de mercado indicam que há um horizonte de oportunidades ainda inexploradas.

A consolidação do Egito como principal destino africano do agronegócio brasileiro sinaliza a possibilidade de utilizar esta posição como plataforma para expansão para outros mercados da região. Similarmente, os avanços com o Marrocos podem servir como referência para negociações com outros países do norte da África.

O aprofundamento da cooperação técnica, além de seu valor intrínseco para as relações bilaterais, tem o potencial de criar um ambiente mais favorável para as exportações brasileiras ao familiarizar os parceiros com os sistemas e métodos brasileiros de produção agropecuária e controle sanitário.

A crescente demanda por segurança alimentar em uma região que enfrenta desafios significativos nesta área, combinada com a capacidade produtiva brasileira, cria um cenário de complementaridade que tende a fortalecer ainda mais os laços comerciais nos próximos anos.

Conclusão

A missão brasileira ao Marrocos e Egito representa um marco significativo na estratégia de inserção internacional do agronegócio brasileiro, com foco especial nos mercados do norte da África. Os resultados obtidos – desde a abertura de mercado para miúdos bovinos no Marrocos até o reconhecimento do crescimento expressivo das exportações para o Egito – demonstram que esta estratégia está produzindo resultados tangíveis.

Para além dos ganhos comerciais imediatos, a missão reforça a posição brasileira como parceiro confiável para a segurança alimentar global, especialmente em regiões onde este tema é particularmente sensível. A abordagem que combina relacionamentos diplomáticos, cooperação técnica e promoção comercial estabelece bases sólidas para um relacionamento duradouro e mutuamente benéfico.

No contexto específico do mercado Halal, os avanços obtidos adicionam mais um capítulo importante na consolidação do Brasil como fornecedor global de referência, demonstrando capacidade não apenas de produzir em conformidade com as exigências religiosas, mas também de estabelecer os laços de confiança essenciais para este segmento.

A continuidade e o aprofundamento destas relações dependerão da manutenção dos esforços coordenados entre governo e setor privado, da capacidade brasileira de atender às demandas crescentes por sustentabilidade e rastreabilidade, e do entendimento estratégico de que os mercados do norte da África representam não apenas oportunidades comerciais, mas também alianças geopolíticas relevantes para o posicionamento global brasileiro.

Referências

  1. Brasil reforça laços comerciais com Marrocos e Egito e amplia agenda agropecuária no norte da África. Ministério da Agricultura e Pecuária
  2. Brasil reforça laços com Marrocos e Egito e amplia agenda agropecuária no norte da África. Agência Gov – EBC
  3. Marrocos amplia relações comerciais com o Brasil após missão do Mapa. Diplomacia Business
  4. Embratur reforça laços e busca mais turistas do mundo árabe durante fórum econômico Brasil e países árabes. Embratur

Secretária de Comércio filipina Cristina Roque reunida com representantes da JAKIM, com bandeiras das Filipinas e DTI ao fundo.

JAKIM da Malásia Planeja Estabelecer Certificadora Halal de Classe Mundial nas Filipinas

O Departamento de Desenvolvimento Islâmico da Malásia, conhecido como JAKIM, anunciou recentemente planos para estabelecer um organismo de certificação Halal – Halal Certification Body (HCB) – de classe mundial nas Filipinas. Esta iniciativa, confirmada pela Secretária de Comércio filipina Cristina Roque, representa um avanço significativo para a indústria Halal do país, com potencial para gerar benefícios econômicos substanciais. A colaboração pretende elevar os padrões de certificação nas Filipinas, facilitar o acesso a mercados internacionais para produtos filipinos e fortalecer os laços comerciais entre as duas nações. Com um valor projetado de 230 bilhões de pesos filipinos – R$ 23,57 Bilhões – em comércio e investimentos e a criação de 120.000 empregos até 2028, esta parceria estratégica promete transformar as Filipinas em um importante hub Halal na região Ásia-Pacífico.

Anúncio da Colaboração Estratégica entre JAKIM e Filipinas

A notícia sobre a potencial expansão da JAKIM para as Filipinas foi divulgada pela Secretária de Comércio Cristina Roque, que revelou ter se reunido com representantes da agência malaia para discutir esta promissora colaboração. Em uma publicação no Facebook, Roque destacou a importância desta parceria para o fortalecimento da presença filipina na economia Halal global. A JAKIM, reconhecida mundialmente como uma autoridade líder em certificação Halal, traria sua expertise para o mercado filipino, estabelecendo uma entidade certificadora que atenderia aos mais elevados padrões internacionais. O Departamento de Comércio e Indústria (DTI) das Filipinas confirmou que qualquer órgão certificador estabelecido com a participação da JAKIM seguiria normas globais reconhecidas, como parte do mandato de um HCB no país.

A colaboração ainda se encontra em fase exploratória, mas demonstra o interesse mútuo em desenvolver um sistema robusto de certificação Halal nas Filipinas. A iniciativa representa não apenas uma oportunidade para elevar os padrões de certificação do país, mas também para fortalecer as relações diplomáticas e comerciais entre as Filipinas e a Malásia. Embora as discussões estejam em estágio inicial, a secretária Roque estabeleceu metas ambiciosas, desafiando a agência malaia a concretizar sua aspiração de se tornar um órgão certificador Halal no país dentro deste ano. Esta urgência reflete o compromisso do governo filipino em capitalizar rapidamente as oportunidades apresentadas pelo mercado Halal global.

O Papel da JAKIM e a Importância da Certificação Halal Global

A JAKIM é amplamente reconhecida como uma referência global em certificação Halal, estabelecendo normas rigorosas que são aceitas em numerosos países ao redor do mundo. Estabelecida sob o Departamento do Primeiro Ministro da Malásia, a JAKIM desenvolveu um sistema de certificação abrangente e respeitado, fundamentado em princípios islâmicos sólidos e processos transparentes. Sua expertise vai além da simples emissão de certificados, abrangendo pesquisa, treinamento e desenvolvimento de normas Halal, fatores que moldaram significativamente o panorama Halal global e conferem grande valor à sua marca de certificação. O selo de aprovação da JAKIM é altamente valorizado tanto por consumidores quanto por empresas, servindo como garantia confiável de conformidade com os requisitos islâmicos.

A certificação Halal desempenha um papel crucial no mercado global, assegurando que produtos e serviços atendam às exigências da lei islâmica. Para produtos alimentícios, isso envolve verificar a origem dos ingredientes, os métodos de processamento e manipulação, além de garantir a ausência de substâncias não-Halal como carne suína e álcool. No caso de itens não alimentícios, como cosméticos e produtos farmacêuticos, a certificação examina os ingredientes e processos de fabricação para confirmar que estão livres de substâncias haram (proibidas). Um sistema de certificação Halal confiável e credível é essencial para construir a confiança do consumidor, garantir acesso a mercados internacionais, estabelecer padrões de qualidade consistentes e prevenir fraudes e rotulagem incorreta de produtos.

O mercado Halal global não está mais restrito apenas a produtos alimentícios, tendo evoluído para um ecossistema diversificado que abrange uma ampla gama de bens e serviços que aderem aos princípios islâmicos. Isto inclui finanças Halal, turismo, moda, cosméticos, produtos farmacêuticos e até mesmo mídia e entretenimento. O crescimento deste mercado é impulsionado por vários fatores, incluindo o aumento da população muçulmana global, a crescente conscientização e demanda por produtos éticos e compatíveis com a Sharia, e o reconhecimento das normas Halal como marca de qualidade e segurança, mesmo entre consumidores não-muçulmanos.

Benefícios Potenciais para Empresas Filipinas e a Economia Nacional

O estabelecimento de um órgão certificador Halal de classe mundial nas Filipinas, potencialmente com a orientação da JAKIM, traz uma multiplicidade de vantagens para as empresas locais. Setores como alimentos e bebidas, naturalmente adequados para conformidade Halal, têm muito a ganhar. Além dos alimentos, as indústrias farmacêutica e cosmética, que cada vez mais reconhecem a demanda por produtos certificados Halal, também poderiam experimentar um impulso significativo. Um sistema de certificação credível e internacionalmente reconhecido pode abrir portas para mercados de exportação lucrativos, permitindo que empresas filipinas aproveitem o crescente apetite global por bens Halal.

A secretária Roque enfatizou que o envolvimento de uma agência estrangeira como a JAKIM seria instrumental não apenas para fornecer certificação, mas também treinamento crucial e acesso vital ao mercado para empresas filipinas. Navegar pelas complexidades das normas Halal internacionais e compreender os requisitos dos diferentes países importadores pode ser um obstáculo significativo para produtores locais. A experiência e reputação global da JAKIM poderiam fornecer orientação inestimável, simplificando o processo e construindo confiança entre compradores internacionais. Este acesso aprimorado ao mercado, associado à certificação rigorosa, deve melhorar significativamente a competitividade geral das Filipinas na arena Halal global.

Além dos benefícios diretos para empresas individuais, a colaboração com a JAKIM pode ter impactos econômicos mais amplos para as Filipinas. O aumento das exportações de produtos Halal pode melhorar a balança comercial do país, enquanto o desenvolvimento de uma indústria Halal robusta pode criar empregos e oportunidades de empreendedorismo. A localização estratégica das Filipinas no Sudeste Asiático, combinada com sua base de recursos naturais abundantes, a posiciona bem para servir tanto mercados Halal regionais quanto internacionais. A crescente população muçulmana do país também fornece uma base de consumo incorporada e uma fonte de talentos para a indústria Halal.

O Cenário Atual da Certificação Halal nas Filipinas

As Filipinas possuem uma significativa população muçulmana, principalmente concentrada nas regiões sul de Mindanao, criando uma base natural para o desenvolvimento da indústria Halal no país. Atualmente, existem doze órgãos de certificação Halal acreditados nas Filipinas, de acordo com o site da Comissão Nacional de Filipinos Muçulmanos (NCMF). Estes órgãos desempenham um papel vital na análise de produtos alimentícios e não alimentícios para garantir sua conformidade com a Lei Sharia, tornando-os permissíveis para consumo ou uso por muçulmanos. Enquanto esses órgãos certificadores locais cumprem uma função importante, a colaboração com uma entidade globalmente reconhecida como a JAKIM poderia elevar todo o ecossistema de certificação Halal nas Filipinas, introduzindo melhores práticas internacionais e potencialmente simplificando processos.

O desenvolvimento de um sistema de certificação Halal robusto está alinhado com o crescente foco do governo filipino no desenvolvimento do setor Halal. A presença de múltiplos órgãos certificadores indica uma infraestrutura básica, mas há uma clara oportunidade para melhorar a padronização, o reconhecimento e a capacidade geral do sistema de certificação Halal filipino. A colaboração com a JAKIM poderia ajudar a resolver desafios comuns enfrentados por empresas locais que buscam certificação Halal, incluindo falta de familiaridade com requisitos internacionais, processos longos e burocráticos, e os custos associados à obtenção e manutenção da certificação.

A Comissão Nacional de Filipinos Muçulmanos (NCMF) é a agência governamental mandatada para promover e desenvolver a indústria Halal filipina, estabelecida pela República Act No. 9997. O NCMF trabalha para apoiar o crescimento do setor Halal e garantir que os processos de certificação atendam aos padrões internacionais. Uma parceria com a JAKIM poderia complementar esses esforços, trazendo expertise adicional e reforçando a credibilidade do sistema de certificação Halal filipino. Isso poderia beneficiar não apenas produtores, mas também consumidores, fornecendo maior garantia de autenticidade e qualidade dos produtos Halal disponíveis no mercado filipino.

O Plano Estratégico de Desenvolvimento da Indústria Halal Filipina 2023-2028

No ano passado, o Departamento de Comércio e Indústria (DTI) das Filipinas lançou o Plano Estratégico de Desenvolvimento da Indústria Halal Filipina, abrangendo o período de 2023 a 2028. Este ambicioso plano delineia um roteiro claro para transformar as Filipinas em um hub Halal de destaque na região Ásia-Pacífico. As metas estabelecidas no plano são substanciais, visando um potencial de 230 bilhões de pesos filipinos em comércio e investimentos e a criação de 120.000 empregos até o final do mandato do presidente Marcos em 2028. A potencial parceria com a JAKIM e o estabelecimento de um órgão certificador Halal de classe mundial são componentes cruciais para alcançar esses objetivos ambiciosos.

A secretária Roque enfatizou a importância de aproveitar o forte apoio atual do governo à indústria Halal, encorajando investidores como a JAKIM a capitalizar o suporte fornecido pelo presidente Ferdinand “Bongbong” Marcos Jr. “Ele tem 3 anos restantes e devemos aproveitar o apoio que ele está dando”, acrescentou ela, referindo-se ao mandato de Marcos que terminará em 2028. Este senso de urgência ressalta o compromisso do governo em fazer avanços significativos no desenvolvimento do setor Halal nos próximos anos. Com parcerias públicas e privadas, a secretária expressou confiança de que o suporte necessário para o florescimento do setor Halal poderia ser assegurado.

O plano estratégico não aborda apenas a certificação, mas adota uma abordagem holística para desenvolver a indústria Halal nas Filipinas. Isto inclui fortalecer a infraestrutura para produção Halal, facilitar o acesso a financiamento para empresas do setor Halal, desenvolver recursos humanos com conhecimento e habilidades em práticas Halal, e promover produtos filipinos Halal em mercados internacionais. A secretária Roque está advogando pelo envolvimento potencial da JAKIM não apenas na certificação, mas também no auxílio ao marketing de produtos Halal locais. O objetivo é que a certificação Halal de um órgão respeitável tenha um “efeito multiplicador”, impulsionando não apenas exportações, mas também atraindo investimentos e criando oportunidades de emprego nas Filipinas.

Implicações para o Mercado Halal Global e Regional

A potencial colaboração entre as Filipinas e a JAKIM para estabelecer um órgão certificador Halal de classe mundial tem implicações significativas para o mercado Halal regional e global. O Sudeste Asiático, com suas grandes populações muçulmanas em países como Indonésia, Malásia e Brunei, representa um mercado-chave para produtos Halal. As Filipinas, com sua localização estratégica e recursos naturais abundantes, têm o potencial de se tornar um importante centro de produção e distribuição Halal na região. A adoção de normas de certificação de classe mundial, alinhadas com as práticas da JAKIM, pode facilitar o comércio intra-regional de produtos Halal e fortalecer a posição das Filipinas dentro da cadeia de suprimentos Halal regional.

O mercado Halal global é avaliado em trilhões de dólares americanos e está projetado para um crescimento robusto contínuo nos próximos anos. Estima-se que a economia Halal global esteja crescendo a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 7,5%, podendo atingir US$ 2,8 trilhões até 2025. Este crescimento é impulsionado pelo aumento da população muçulmana global, maior consciência e demanda por produtos éticos e em conformidade com a Sharia, e o reconhecimento das normas Halal como marca de qualidade e segurança. Para as Filipinas, este mercado em expansão representa uma oportunidade econômica significativa, que pode ser melhor aproveitada através de um sistema de certificação Halal credível e internacionalmente reconhecido.

A parceria com a JAKIM também poderia ter implicações políticas e diplomáticas mais amplas, fortalecendo os laços entre as Filipinas e a Malásia e potencialmente abrindo portas para maior cooperação em outras áreas econômicas. A Malásia tem sido um líder no desenvolvimento da economia Halal global, e sua disposição em compartilhar expertise com as Filipinas indica um espírito de colaboração regional. Esta parceria poderia servir como um modelo para futuras iniciativas de cooperação na região ASEAN, promovendo a integração econômica e o desenvolvimento mútuo. Em um nível mais amplo, poderia contribuir para o posicionamento da ASEAN como um centro global para produtos e serviços Halal.

Conclusão: Uma Nova Era para a Indústria Halal Filipina

A potencial colaboração entre as Filipinas e a JAKIM para estabelecer um órgão certificador Halal de classe mundial representa um passo significativo no desenvolvimento da indústria Halal do país. Esta parceria estratégica promete trazer múltiplos benefícios, incluindo maior acesso a mercados globais para produtos filipinos, processos de certificação aprimorados, transferência de conhecimento e expertise, e fortalecimento dos laços comerciais com a Malásia. Para empresas filipinas nos setores de alimentos, farmacêuticos e cosméticos, isto representa uma oportunidade de acessar o lucrativo mercado Halal global, que está projetado para crescimento contínuo nos próximos anos.

O compromisso do governo filipino com o desenvolvimento do setor Halal é evidente em seu Plano Estratégico de Desenvolvimento da Indústria Halal e no apoio ativo do presidente Marcos à indústria. A parceria com a JAKIM complementa estes esforços, trazendo credibilidade internacional e expertise para o sistema de certificação Halal do país. Embora a colaboração ainda esteja em fase exploratória, o senso de urgência expresso pela secretária Roque reflete a importância estratégica desta iniciativa e a determinação em fazer avanços significativos dentro do prazo relativamente curto do atual mandato presidencial.

À medida que a economia global Halal continua a expandir, as Filipinas estão bem posicionadas para capitalizar esta oportunidade, com sua localização estratégica, recursos naturais abundantes e significativa população muçulmana. O estabelecimento de um órgão certificador Halal de classe mundial, potencialmente com a orientação da JAKIM, pode ser um catalisador para transformar as Filipinas em um hub Halal de destaque na região Ásia-Pacífico. Se bem-sucedida, esta iniciativa não apenas gerará benefícios econômicos substanciais em termos de comércio, investimento e criação de empregos, mas também elevará o perfil das Filipinas no cenário Halal global, abrindo novas avenidas para crescimento e desenvolvimento.

Referências

  1. Malaysia-accredited Halal certifying body expected to start operating
  2. Malaysia’s JAKIM eyes setting up world-class Halal certifier in Philippines
  3. Halal compliance behaviors of food and accommodation businesses in the Zamboanga Peninsula, Philippines
  4. Transforming Halal Training Through Gamification and Immersive Technology to Empower Talents
  5. DTI urges Malaysia’s JAKIM to establish Halal certification in PH
  6. Halal industry roundup: Kumamoto firm expands exports to Muslim countries
ETFs Islâmicos, Halal, Sharia, ESG, Sukuk, Investimentos Éticos

ETFs Islâmicos: Expansão do Mercado e Desafios para Crescimento Futuro

Os fundos de índice negociados em bolsa (ETFs) islâmicos vêm ganhando popularidade significativa entre investidores globais, representando uma combinação estratégica entre diversificação de portfólio e princípios éticos da finança islâmica. Apesar desse crescimento constante, especialmente em regiões como Oriente Médio, Norte da África e Sudeste Asiático, diversos desafios persistem e limitam sua expansão mais acelerada. Os ativos sob gestão de ETFs vinculados a índices islâmicos registraram um aumento expressivo, saltando de $326 milhões em 2018 para $2,33 bilhões até setembro de 2023, segundo relatório da S&P, demonstrando o potencial deste segmento para investimentos que buscam conformidade com os princípios da Sharia.

Fundamentos dos ETFs Islâmicos

Os ETFs tornaram-se elementos fundamentais no cenário global de investimentos, oferecendo aos investidores uma maneira flexível e custo-efetiva de diversificar seus portfólios. Esses instrumentos frequentemente acompanham importantes índices como o S&P 500 ou o Índice MSCI, proporcionando liquidez e exposição a várias classes de ativos. Para investidores que buscam conformidade com a Sharia, os ETFs islâmicos combinam diversidade de portfólio com os princípios éticos da finança islâmica.

Um fundo negociado em bolsa é uma cesta de títulos, como ações, commodities ou títulos de dívida, que é listada e negociada em uma bolsa de valores. Os ETFs compatíveis com a Sharia são submetidos a triagens para garantir conformidade com a lei islâmica, excluindo empresas envolvidas em atividades proibidas. Essa característica fundamental diferencia os ETFs islâmicos dos convencionais, estabelecendo um critério de seleção de ativos baseado em preceitos religiosos e éticos.

Hadeel AbuShoumar, responsável por produtos na Alkhair Capital, sediada em Dubai, acredita que os ETFs islâmicos estão bem posicionados graças ao seu apelo a uma ampla gama de investidores. “Eles estão perfeitamente posicionados para se tornarem uma opção preferencial para fundos de aposentadoria e pensão no MENA e Sudeste Asiático”, afirmou. “Estas regiões têm enormes populações de expatriados e riqueza local significativa que poderia ser canalizada para fundos compatíveis com a Sharia.”

Alinhamento com Princípios ESG

Considerando que as finanças islâmicas se alinham com os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) mais amplos, o crescimento do mercado de ETFs islâmicos também tem sido impulsionado por uma demanda crescente por investimentos éticos. Esta convergência entre os valores islâmicos tradicionais e as preocupações contemporâneas com sustentabilidade e responsabilidade social representa um diferencial importante para atrair investidores de diferentes backgrounds religiosos e culturais.

Acesso a Ativos Halal

Uma das principais vantagens dos ETFs islâmicos é sua capacidade de proporcionar acesso a ativos Halal que, de outra forma, seriam difíceis ou caros para investidores individuais comprarem diretamente. Por exemplo, o Sukuk, um instrumento compatível com a Sharia com características semelhantes a um título de dívida, está se tornando amplamente disponível. No entanto, altos custos de transação e opções limitadas de mercado frequentemente dificultam o acesso independente para investidores de varejo.

Sefian Kasem, chefe de especialistas em investimentos, Estratégia de ETF na HSBC Asset Management, vê potencial significativo para crescimento nesta área. “À medida que os mercados de Sukuk continuam a crescer rapidamente, acreditamos que provavelmente haverá uma gama mais rica de fundos e ETFs cobrindo diferentes segmentos do mercado de Sukuk, ampliando a gama de perfis de risco de renda fixa disponíveis para investidores compatíveis com a Sharia globalmente”, explicou.

Os ETFs islâmicos também podem ser estruturados para visar setores específicos, dando aos investidores opções mais focadas. AbuShoumar afirma que há oportunidade para desenvolver ETFs temáticos. “Há espaço para inovação aqui – imagine ETFs islâmicos temáticos que se concentrem em setores como energia limpa ou tecnologia”, disse ela. “Além disso, à medida que mais pessoas veem a sobreposição entre finanças islâmicas e princípios ESG, há uma oportunidade para atrair investidores socialmente conscientes, muçulmanos e não-muçulmanos.”

Concentração em Ouro e Limitações

Apesar do potencial de diversidade para ETFs islâmicos, o mercado permanece fortemente concentrado em poucas classes de ativos, sendo o ouro a dominante. ETFs lastreados em ouro compatíveis com a Sharia tornaram-se o produto mais popular neste segmento, devido ao status do metal como um ativo de “porto seguro”, particularmente em tempos econômicos precários.

Essa concentração pode potencialmente dificultar o crescimento e a inovação, dizem alguns profissionais do mercado. “O universo de ETFs islâmicos em termos de capitalização de mercado é dominado por um produto massivo lastreado fisicamente em ouro”, disse Akber Khan, CEO interino da Al Rayan Investment. “Os emissores de ETFs estabelecidos não se preocuparam realmente em oferecer uma gama de produtos islâmicos multi-ativos, enquanto a maioria dos gestores islâmicos tem sido lenta para avançar.”

Entretanto, Kassem, da HSBC, acredita que há um enorme escopo para criar uma gama mais ampla de ETFs compatíveis com a Sharia que possam fazer um trabalho melhor de abranger classes de ativos convencionais, incluindo ações públicas e renda fixa. Esta diversificação representa um passo crucial para o amadurecimento do mercado de ETFs islâmicos.

Barreiras para o Crescimento

Para criar uma gama completa de ETFs compatíveis com a Sharia, desafios-chave que corroem o crescimento dos ativos devem ser abordados. A liquidez permanece um dos obstáculos mais significativos. Enquanto os ETFs convencionais se beneficiam de bolsos profundos devido ao tamanho e maturidade dos mercados subjacentes, os ETFs islâmicos frequentemente lutam com escalas menores e fundos limitados.

“Para ETFs islâmicos, há uma falta de negociabilidade e liquidez, e a oferta de mercado ainda é pequena quando comparada a ETFs convencionais. Isso ocorre porque, principalmente em muitas nações da OIC (Organização para Cooperação Islâmica), o desenvolvimento de ETFs não recebeu muita atenção, já que existem prioridades mais urgentes como bancarização, e menos ainda disponibilidade de produtos de investimento compatíveis com a Sharia”, disse Bashar AlNatoor, chefe de finanças islâmicas na Fitch Ratings.

A situação difere para ETFs focados em Sukuk. “Com os mercados de Sukuk, o perfil de liquidez é um pouco diferente e mais próximo da renda fixa de mercados emergentes do que da renda fixa de mercados desenvolvidos”, acrescentou Kassem.

Além disso, muitos ETFs islâmicos são listados em mercados emergentes, onde os marcos regulatórios e a infraestrutura financeira ainda estão sendo desenvolvidos. Isso impede a atividade de negociação diária, spreads de compra e venda, liquidez e, em última análise, preços, acrescentou Khan, da Al Rayan Investment.

Desafios de Custos e Conscientização

A estrutura de custos dos ETFs islâmicos também apresenta uma enorme barreira para sua adoção. A triagem e o monitoramento regulares da Sharia são essenciais para garantir a conformidade do fundo, o que muitas vezes pode levar a custos operacionais mais altos em comparação com ETFs convencionais.

“Pode ser difícil para investidores de varejo acessar ETFs Halal. Existem dificuldades com relação aos custos de negociação em diferentes geografias”, explicou Monem Salam, vice-presidente executivo da Saturna Capital, com sede nos EUA. “Isso está amplamente relacionado à legislação tributária e outros custos relacionados em diferentes mercados.”

No entanto, garantir que a gestão, administração, operações e outras práticas sejam compatíveis com a Sharia é igualmente importante, acrescentou Sefian Kasem. Processos adicionais requerem monitoramento por um conselho de Sharia credível e acarretam custos associados.

“Eles são essenciais para garantir a conformidade com a Sharia, mas tendo dito isso, acreditamos que é importante para gestores de ativos como nós garantir que esses custos sejam corretamente e justamente equilibrados versus requisitos adicionais associados a fundos de investimento compatíveis com a Sharia”, explicou.

A falta geral de conscientização sobre esses ativos também reduz seu crescimento, dado que informações relevantes sobre o que separa um ETF islâmico de seu par convencional são amplamente ausentes. AbuShoumar acredita que educar o público sobre ETFs islâmicos será fundamental para aumentar a adoção.

“Instituições financeiras precisam facilitar para as pessoas entenderem o que são esses fundos e por que eles importam”, disse ela. “Trabalhar com plataformas de fintech ou mesmo influenciadores de mídias sociais poderia fazer uma enorme diferença para alcançar públicos mais jovens.”

Tendências Futuras e Expansão Global

Os índices islâmicos fornecem aos participantes do mercado um conjunto abrangente de benchmarks compatíveis com a Sharia para ações e sukuk, oferecendo uma variedade diversificada de estratégias adaptadas a vários objetivos de investimento. Historicamente, o investimento islâmico tem sido predominantemente gerido ativamente; no entanto, uma mudança recente em direção ao investimento passivo é evidente, especialmente à medida que os investidores de Sharia veem os benefícios dos ETFs — incluindo transparência e eficiência de custo — sobre fundos ativos.

Na região predominantemente muçulmana do Oriente Médio e Norte da África (MENA), os benefícios dos investimentos passivos são especialmente pronunciados. De acordo com o S&P Indices Versus Active (SPIVA) MENA Mid-Year 2023 Scorecard, 85%-88% dos fundos de ações na região tiveram desempenho inferior aos seus benchmarks e apenas 42% sobreviveram na última década.

Conclusão

Os ETFs islâmicos representam uma evolução significativa no cenário de investimentos éticos, oferecendo aos investidores muçulmanos e àqueles preocupados com princípios éticos uma alternativa viável aos produtos financeiros convencionais. Apesar dos desafios relacionados à liquidez, custos operacionais e conscientização do mercado, o crescimento constante dos ativos sob gestão indica uma demanda sustentada por esses produtos.

À medida que o mercado amadurece, espera-se maior diversificação além dos ETFs lastreados em ouro, com desenvolvimento de produtos temáticos que atraiam tanto investidores muçulmanos quanto não-muçulmanos interessados em investimentos éticos. A educação financeira e o desenvolvimento de infraestruturas de mercado mais robustas em regiões emergentes serão cruciais para sustentar esse crescimento.

O alinhamento natural entre os princípios da finança islâmica e os critérios ESG posiciona estrategicamente os ETFs islâmicos para capitalizar sobre a crescente tendência global de investimentos responsáveis, potencialmente ampliando seu apelo para além dos mercados tradicionais. No entanto, a capacidade da indústria de superar os desafios estruturais de custos e liquidez determinará seu sucesso de longo prazo e a competitividade frente às alternativas convencionais.

Referências

  1. Islamic ETFs find favour among investors, though growth challenges persist. Salaam Gateway – Global Islamic Economy Gateway.
  2. Solving the Dynamics of Shariah in ETFs & ETNs. Shariyah Review Bureau.
  3. The Growth of Passive Investments in Islamic Finance: Trends and Implications. S&P Global.
  4. Halal ETFs Compared: The Ultimate Guide. Amal Invest.
  5. Best Halal ETFs to Invest in 2025. Musaffa Academy.
A Indústria de Alimentos Halal no Canadá: Crescimento, Desafios e Oportunidades

A Indústria de Alimentos Halal no Canadá: Crescimento, Desafios e Oportunidades

A indústria global de alimentos Halal está em constante ascensão, com estimativas atuais avaliando o mercado em aproximadamente 3,3 trilhões de dólares. Projeções indicam que este setor deve alcançar 5,96 trilhões de dólares até 2033, refletindo uma taxa composta de crescimento anual de 9,33% no período entre 2025 e 2033. O Canadá emerge como um importante participante neste mercado, impulsionado por uma população muçulmana em crescimento e por um interesse crescente entre consumidores não-muçulmanos que buscam alternativas alimentares éticas. No entanto, apesar deste potencial promissor, a indústria enfrenta desafios significativos, principalmente relacionados à fragmentação do sistema de certificação Halal no país, criando um cenário complexo para produtores, varejistas e consumidores.

O Mercado Halal em Crescimento no Canadá

O setor de alimentos Halal no Canadá representa um mercado substancial, fortemente vinculado ao influxo de imigrantes que o país recebe anualmente. Segundo dados do governo canadense, o país acolhe aproximadamente meio milhão de novos imigrantes a cada ano, sendo que uma porcentagem significativa destes novos residentes consome produtos Halal, gerando um gasto anual superior a 1 bilhão de dólares. De acordo com estimativas do The Globe and Mail, apenas o setor de carne Halal canadense deverá atingir 300 milhões de dólares até 2031, crescendo a uma taxa anual entre 10% e 15%. Analistas projetam que o mercado canadense de alimentos e bebidas Halal—já avaliado entre 1 bilhão e 2,6 bilhões de dólares, dependendo da previsão—deverá crescer a taxas de dois dígitos nos próximos anos.

Este crescimento local reflete tendências globais mais amplas. Segundo dados da Statista (2021), o gasto global dos consumidores muçulmanos com alimentos foi de aproximadamente 1,3 trilhão de dólares em 2021, com projeção de alcançar quase 1,7 trilhão de dólares até 2025, indicando que a demanda por produtos Halal se estende muito além das regiões de maioria muçulmana. A posição do Canadá no comércio global de carne, que forma a espinha dorsal de seu mercado Halal interno, é particularmente relevante neste contexto.

Demografia e Demanda por Produtos Halal

A população muçulmana do Canadá representa um elemento crucial para a expansão do mercado Halal. Nas últimas duas décadas, esta população praticamente dobrou e continua em trajetória ascendente. Segundo a Statistics Canada, até 2021, os muçulmanos constituíam quase 5% da população total do país, um número significativo que justifica o crescente interesse das empresas em oferecer produtos Halal. Este crescimento demográfico, combinado com o aumento da renda disponível e a globalização crescente, impulsiona a demanda por uma gama cada vez mais diversificada de produtos Halal.

Um aspecto interessante deste mercado é o interesse crescente entre consumidores não-muçulmanos, que frequentemente reconhecem a certificação Halal como um indicador adicional de qualidade alimentar. Como observa Salima Jivraj, diretora de contas e líder multicultural na Nourish Food Marketing, o crescimento no setor Halal não é impulsionado apenas pelo aumento populacional, mas também pelo interesse cada vez maior de canadenses não-muçulmanos. Este fenômeno amplia consideravelmente o potencial de mercado para produtos certificados Halal, transcendendo seu público-alvo tradicional.

O Desafio da Certificação Fragmentada

Apesar do otimismo do setor, a indústria Halal canadense enfrenta um dilema crítico: a ausência de um padrão nacional unificado de certificação. Atualmente, a Agência Canadense de Inspeção de Alimentos (CFIA) exige que produtos rotulados como Halal sejam certificados, mas não regula os próprios certificadores. A supervisão atual depende de entidades independentes como o Conselho Islâmico de Alimentação e Nutrição do Canadá (IFANCC), a Autoridade de Monitoramento Halal (HMA) e o Grupo Consultivo Halal (HAG).

Omar Subedar, da HMA, enfatiza que sem um processo de certificação abrangente e uniforme, a confiança do consumidor pode ser comprometida. Para receber certificação Halal, os produtos devem passar por uma avaliação minuciosa por uma organização certificadora Halal credenciada. Isto envolve uma revisão detalhada de toda a cadeia de suprimentos e do processo de fabricação para garantir que nenhum elemento ou prática comprometa a integridade Halal através de contaminação cruzada.

As nuances vão além dos protocolos de abate; contaminação cruzada, alimentação permitida para frutos do mar de criação e inclusão de ingredientes não-Halal, como gelatina à base de porco, podem invalidar o status Halal de um produto se não forem cuidadosamente gerenciados. Em 2004, Subedar e outros membros do Conselho Canadense de Teólogos Muçulmanos corroboraram isso ao realizar uma avaliação abrangente do setor de carne Halal, afirmando que cerca de 90% da carne disponível para os consumidores não adere realmente aos requisitos Halal.

Distribuição Regional e Principais Marcas

A distribuição geográfica da indústria Halal no Canadá apresenta padrões distintos, com Ontário e Quebec tradicionalmente liderando o cenário alimentar Halal no país. Estas províncias abrigam comunidades muçulmanas significativas que sustentam um robusto ecossistema de varejistas, restaurantes e mercearias especializadas com certificação Halal. No entanto, províncias como Alberta e Colúmbia Britânica estão rapidamente se equiparando, impulsionadas por níveis mais altos de imigração e crescente curiosidade dos consumidores por alimentos especializados.

O mercado canadense de alimentos Halal é representado por diversas marcas líderes que demonstram o interesse crescente neste segmento. Empresas como Mina Halal Foods, Zabiha Halal (Maple Lodge Farms), Sufra Halal, Iqbal Food Inc., Solmaz, Crescent e Sargent Farms têm estabelecido uma presença significativa no mercado. Além disso, o advento de plataformas de comércio eletrônico e serviços de entrega como Uber Eats e Instacart tem aumentado o alcance e a escala dos itens Halal, facilitando o acesso a estes produtos para uma base de consumidores mais ampla.

Grandes Cadeias e a Adoção do Halal

O potencial do setor alimentar Halal tem levado grandes marcas a entrar neste mercado, com resultados variados. Um caso particular que exemplifica essa tendência ocorreu em maio de 2023, quando o Kentucky Fried Chicken (KFC) Canadá se viu no centro de uma polêmica nas redes sociais após relatos sugerirem que certas localizações em Ontário poderiam mudar para servir apenas frango Halal. Esta decisão provocou acusações de “privilegiar uma minoria” e gerou debate público sobre inclusividade e preferências alimentares.

Mais recentemente, em 2024, o KFC Canadá anunciou que estava servindo carne Halal em todas as suas lojas de Ontário (exceto Thunder Bay e Ottawa), uma mudança que passou relativamente despercebida por muitos consumidores. A empresa também decidiu descontinuar produtos de porco em todos os locais, exceto aqueles co-marcados com o Taco Bell, como parte de sua iniciativa para oferecer opções de menu mais inclusivas. Esta decisão gerou reações mistas, com alguns consumidores apoiando a mudança por permitir que “mais pessoas jantem confortavelmente no KFC”, enquanto outros a criticaram como “totalmente inaceitável”.

Outras grandes marcas como Popeyes, Mary Brown, Boston Pizza e Osmow’s também introduziram itens Halal em estabelecimentos selecionados. No entanto, estas empresas nem sempre divulgam todas as medidas tomadas para prevenir a contaminação cruzada, frequentemente gerando ceticismo entre consumidores observantes. No nível do consumidor, a pressão por ofertas Halal autênticas está se manifestando em percepções mutáveis das marcas, ceticismo mais profundo em relação a alegações incompletas e renovados apelos por uma estrutura regulatória mais credível.

Inovação e Perspectivas Futuras

O futuro da indústria de alimentos Halal no Canadá parece promissor, com líderes do setor mantendo-se otimistas apesar dos desafios. Impulsionado por uma geração mais jovem de muçulmanos que buscam alimentos Halal convenientes e prontos para consumo que se adequem a estilos de vida modernos, a Agriculture and Agri-Food Canada projeta que o setor canadense de alimentos Halal está preparado para empreendedorismo e inovação.

Uma área promissora de inovação envolve o uso de tecnologia de blockchain para aprimorar a rastreabilidade dos alimentos Halal. Segundo Sayarun Nessa, Diretora da Halal Commerce Canada Inc., investimentos em soluções blockchain e Internet das Coisas (IoT) podem otimizar a cadeia de suprimentos Halal. “Sem um sistema confiável para rastrear um produto Halal do campo à mesa, a confusão persistirá”, afirma ela, destacando o potencial da transparência impulsionada pela tecnologia para abordar fraudes e unificar protocolos.

A aplicação de blockchain pode ser um divisor de águas para a rastreabilidade de produtos alimentares Halal, embora mal-entendidos em torno da tecnologia, estudos de caso limitados e falta de endosso regulatório permaneçam como obstáculos significativos. A tecnologia blockchain pode verificar toda a jornada de um produto, do campo à mesa, reduzindo o risco de fraude na certificação Halal e ajudando fabricantes de alimentos e varejistas a evitar recalls dispendiosos de produtos.

Considerações Culturais e Religiosas

A expansão do mercado Halal no Canadá também suscita questões culturais e religiosas importantes. Por exemplo, membros da comunidade Sikh têm manifestado preocupações com a disseminação de carne Halal, pois sua religião proíbe o consumo de carne ritualística. Segundo relatos de comunidades Sikh, tanto a carne Halal quanto a kosher utilizam processos nos quais o animal morre sob grande dor ao ter seu pescoço lentamente cortado e sendo deixado para morrer enquanto todo o sangue é drenado.

Essa diversidade de perspectivas religiosas sobre práticas alimentares ilustra a complexidade de se criar um sistema alimentar que respeite todas as tradições religiosas em uma sociedade multicultural como o Canadá. Enquanto algumas comunidades celebram a maior disponibilidade de opções Halal, outras podem se sentir excluídas ou preocupadas com a redução de alternativas que atendam às suas próprias necessidades dietéticas baseadas em fé.

Além disso, existem debates sobre o bem-estar animal relacionados aos métodos de abate Halal. Enquanto muçulmanos afirmam que o processo é humanitário quando realizado corretamente, críticos argumentam que o abate sem atordoamento prévio irreversível pode causar sofrimento desnecessário ao animal. Estas preocupações com o bem-estar animal acrescentam outra dimensão ao debate sobre a expansão do mercado Halal no Canadá.

Conclusão

A indústria de alimentos Halal no Canadá representa um setor vibrante e em rápido crescimento, impulsionado por uma demografia muçulmana em expansão e um interesse crescente de consumidores não-muçulmanos. Com projeções de crescimento significativo nos próximos anos, o mercado oferece oportunidades substanciais para empresas canadenses expandirem sua presença tanto no mercado interno quanto em exportações para países de maioria muçulmana.

No entanto, para realizar plenamente este potencial, o setor precisa superar desafios significativos, principalmente a fragmentação do sistema de certificação. A implementação de normas mais consistentes, potencialmente apoiadas por tecnologias inovadoras como blockchain, poderia aumentar a confiança do consumidor e facilitar o comércio internacional. À medida que a indústria evolui, também deverá considerar e respeitar as diversas perspectivas religiosas e culturais que existem em relação aos alimentos Halal no mosaico multicultural canadense.

O futuro da indústria Halal no Canadá dependerá da capacidade dos diversos participantes – certificadores, órgãos governamentais, produtores e varejistas – de colaborarem efetivamente para criar um sistema que seja transparente, confiável e respeitoso da diversidade de perspectivas que existem dentro da sociedade canadense. Com o crescimento contínuo da demanda global por produtos Halal, o Canadá está bem posicionado para se tornar um importante centro global para a produção e distribuição de alimentos Halal, desde que aborde proativamente os desafios existentes.

Referências

  1. The State of Halal Food Industry in Canada – Salaam Gateway
  2. Halal meat is big business both within and beyond Muslim communities – CBC
  3. Insights | Salaam Gateway – Global Islamic Economy
Illinois é o Primeiro Estado dos EUA a Exigir Refeições Halal e Kosher em Instituições Públicas

Illinois Torna-se o Primeiro Estado dos EUA a Exigir Refeições Halal e Kosher em Instituições Públicas

Em um marco histórico para a inclusão religiosa na alimentação pública, Illinois tornou-se o primeiro estado americano a exigir legalmente que escolas públicas, hospitais e outras instalações operadas pelo estado ofereçam opções de refeições Halal e kosher mediante solicitação. Esta medida pioneira representa um avanço significativo no reconhecimento das necessidades dietéticas religiosas e estabelece um precedente que poderá influenciar políticas alimentares em outros estados americanos nos próximos anos.

A Lei “Faith by Plate Act” e Sua Importância

O governador de Illinois, JB Pritzker, assinou o Projeto de Lei do Senado 457, também conhecido como “Faith by Plate Act” (Lei da Fé no Prato), transformando Illinois no estado pioneiro a estabelecer tal exigência. A legislação determina que instituições públicas como escolas, hospitais e instalações correcionais administradas pelo estado disponibilizem opções de refeições que atendam às diretrizes dietéticas islâmicas e judaicas quando solicitadas. Esta iniciativa legislativa busca garantir que todos os cidadãos, independentemente de suas crenças religiosas, tenham acesso igualitário à alimentação em instituições públicas.

O senador estadual Ram Villivalam, um dos principais patrocinadores do projeto, destacou a importância da nova lei: “Nenhum estudante deveria ter que assistir seus colegas comerem uma refeição fornecida pela escola e ficar de fora porque não há uma opção que atenda às suas necessidades. Esta nova lei garante que todos tenham acesso a alimentos que respeitem e dignifiquem suas restrições alimentares”. Esta declaração enfatiza o aspecto humanitário da legislação, focando na inclusão e respeito às diversas tradições religiosas presentes no estado.

Implementação e Investimentos Necessários

A nova norma concede a estas instituições um período de 12 meses para estabelecer a infraestrutura necessária e treinar adequadamente sua equipe. Os custos de implementação, sujeitos à apropriação orçamentária, estão estimados entre 10 e 20 milhões de dólares no primeiro ano. Este investimento substancial reflete o compromisso do estado em fornecer opções alimentares inclusivas e demonstra reconhecimento da complexidade envolvida na preparação de alimentos que atendam aos requisitos religiosos específicos.

Os funcionários dos serviços de alimentação receberão treinamento especializado para abordar preocupações relacionadas à contaminação cruzada e garantir a conformidade com as diretrizes dietéticas islâmicas e judaicas. Este aspecto da implementação é crucial, pois tanto a certificação Halal quanto kosher exigem não apenas ingredientes permitidos, mas também métodos de preparação específicos e medidas rigorosas para evitar a contaminação com alimentos não permitidos.

O Programa Piloto de Chicago e Expansão Estadual

A nova lei estadual se baseia nas experiências positivas de um programa piloto já em funcionamento nas Escolas Públicas de Chicago, onde 14 escolas já oferecem refeições kosher e nove disponibilizam opções Halal. Este programa demonstrou a viabilidade prática da oferta de refeições religiosamente apropriadas em instituições públicas e forneceu lições valiosas para a implementação em maior escala.

Autoridades estaduais afirmam que a legislação ajudará a expandir esses serviços para distritos rurais e outras partes do estado com necessidades semelhantes. Illinois possui uma das maiores populações judaicas e muçulmanas per capita do país, o que justifica a necessidade de tal política inclusiva em todo o território estadual, não apenas nos centros urbanos onde estas comunidades tradicionalmente se concentram em maior número.

Benefícios para Comunidades Religiosas e Impacto Social

Para as comunidades muçulmana e judaica de Illinois, esta lei representa um importante reconhecimento de suas necessidades dietéticas e práticas religiosas. O Rabino Shlomo Soroka, diretor de relações governamentais da Agudath Israel de Illinois, expressou orgulho pelo papel desempenhado nesta legislação histórica, destacando como ela garantirá que todos os estudantes tenham acesso a refeições nutritivas que respeitam suas tradições religiosas.

A legislação também serve como um modelo de inclusão para outros estados. Amina Barhumi, líder de advocacia e políticas da Muslim Civic Coalition, destacou: “Continuamos a ver Illinois ser um modelo para outros estados, um modelo de inclusão, equidade e dignidade para todos os habitantes de Illinois e todas as pessoas.” Este comentário ressalta o potencial da legislação de Illinois para inspirar iniciativas semelhantes em outros estados americanos.

Crescimento da Disponibilidade de Alimentos Halal nos EUA

O crescente poder dos consumidores muçulmanos em todo o país tem incentivado autoridades a emitir várias diretrizes para manter a integridade e promover a disponibilidade de alimentos Halal. Em junho do ano passado, o estado de Washington colocou em vigor uma legislação para salvaguardar a integridade dos alimentos Halal através do projeto de lei Wilson. Esta tendência reflete não apenas o crescimento demográfico das comunidades muçulmanas nos Estados Unidos, mas também uma maior conscientização sobre as necessidades alimentares baseadas em crenças religiosas.

A lei Wilson protege os consumidores muçulmanos contra a compra de alimentos falsamente anunciados como Halal, com violações puníveis sob a nova Lei de Proteção ao Consumidor de Alimentos Halal. Esta proteção legal complementa a iniciativa de Illinois, demonstrando uma tendência crescente nos Estados Unidos de reconhecer e proteger as necessidades alimentares de comunidades religiosas diversas.

Desafios na Implementação e Segurança de Alimentos

Um aspecto crítico da implementação desta lei será garantir a segurança de alimentos e evitar a contaminação cruzada. As certificações Halal e kosher possuem requisitos rigorosos não apenas quanto aos ingredientes permitidos, mas também quanto aos métodos de preparação, utensílios utilizados e separação de alimentos não permitidos.

Para instituições públicas que anteriormente não ofereciam estas opções, será necessário investir em infraestrutura adequada, como áreas de preparação separadas, utensílios dedicados e treinamento especializado da equipe. Estes requisitos representam desafios logísticos e operacionais significativos, especialmente para instalações menores ou em áreas rurais com recursos limitados.

Conclusão: Um Modelo para Inclusão Alimentar nos EUA

A aprovação da “Faith by Plate Act” em Illinois marca um momento significativo na evolução das políticas alimentares públicas nos Estados Unidos. Ao exigir legalmente a disponibilidade de opções Halal e kosher em instituições estatais, Illinois estabelece um precedente de respeito e acomodação às necessidades dietéticas religiosas que poderá influenciar políticas similares em outros estados.

Esta legislação demonstra como as políticas públicas podem evoluir para refletir a diversidade crescente da população americana e promover maior inclusão para grupos religiosos tradicionalmente sub-representados. O sucesso da implementação desta lei em Illinois será observado atentamente por formuladores de políticas em todo o país, potencialmente inaugurando uma nova era de acessibilidade a alimentos religiosamente apropriados em instituições públicas americanas.

Referências

  1. Salaam Gateway – Illinois mandates halal, kosher meals in public institutions
    https://salaamgateway.com/story/illinois-becomes-first-us-state-to-mandate-halal-kosher-meals-in-public-institutions
  2. Halal Times – Illinois to Mandate Halal/Kosher Food in Public Facilities
    https://www.halaltimes.com/illinois-to-mandate-halal-kosher-food-in-public-facilities/
  3. Fox32 Chicago – New Illinois law mandates halal, kosher meals be available at state schools, hospitals
    https://www.fox32chicago.com/news/illinois-law-halal-kosher-food
  4. Yahoo News – New Illinois law mandates halal, kosher meals be available at state institutions
    https://www.yahoo.com/news/illinois-law-mandates-halal-kosher-173319239.html
  5. Senador Ram Villivalam – Villivalam, Olickal law brings halal and kosher food options to schools
    http://www.senatorram.com/news/press-releases/364-villivalam-olickal-law-brings-halal-and-kosher-food-options-to-schools
  6. ISBA – Illinois becomes first state to mandate halal, kosher meals be available in public institutions such as schools
    https://www.isba.org/dailylegalnews/2025/04/02/illinoisbecomesfirststatetomandatehalalkoshermeals

AGROINSIGHT Vol 3 Origem Animal

Relatório AGRO INSIGHT: Oportunidades Globais para Produtos de Origem Animal Brasileiros

O Volume 3 do relatório AGRO INSIGHT, produzido pelos adidos agrícolas do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, apresenta uma abrangente análise de mercados internacionais para produtos de origem animal. Este documento estratégico mapeia oportunidades, tendências e desafios em diversos países, fornecendo informações valiosas para exportadores brasileiros que buscam diversificar seus mercados-alvo e compreender as particularidades regulatórias de cada região.

Panorama Global da Demanda por Proteína Animal

O mapeamento apresentado no relatório evidencia um cenário global de crescente demanda por proteína animal, especialmente em mercados emergentes e economistas em desenvolvimento. Este fenômeno é impulsionado principalmente pela urbanização acelerada, aumento da renda média da população e transformações nas preferências alimentares, que têm favorecido o consumo de carnes, laticínios e outros produtos de origem animal.

Na África do Sul, por exemplo, o mercado de alimentos para animais de companhia foi estimado em aproximadamente US$ 450 milhões anuais em 2022, com crescimento médio de 5% ao ano na última década. Este crescimento está diretamente relacionado à urbanização e ao desenvolvimento social, resultando em aumento na população de animais de companhia. As exportações brasileiras para este mercado cresceram 40% em 2024, atingindo US$ 3,7 milhões, demonstrando o potencial de expansão para produtos brasileiros.

Em Bangladesh, o setor de produção de proteína animal apresenta crescimento contínuo, impulsionado pelo desenvolvimento econômico e melhores condições de consumo para a população. A indústria de rações do país conta com mais de 200 empresas que produzem cerca de 8 milhões de toneladas anualmente, com forte dependência de importações, o que representa oportunidade significativa para exportadores brasileiros de farinhas e gorduras de origem animal.

Mercados Estratégicos e Oportunidades Regionais

Oriente Médio e Ásia

A Arábia Saudita configura-se como um dos principais mercados para carne de aves brasileira. Em 2023, o país importou US$ 1,3 bilhão em carne de aves, com o Brasil liderando as exportações com 67% de participação no mercado. Apesar da queda de 26% em relação a 2022, o Brasil manteve sua posição de destaque, seguido pela Ucrânia (12%), França (10%) e Rússia (9%). É importante observar que o Reino Saudita busca aumentar sua autossuficiência em produção de carne de frango para 80% até 2025, mas continuará dependendo de importações, especialmente de cortes de frango, representando oportunidade contínua para exportadores brasileiros.

Na China, o relatório destaca o comércio eletrônico como ferramenta estratégica para posicionamento de produtos brasileiros. O mercado chinês de e-commerce de alimentos foi avaliado em US$ 150 bilhões em 2023, com previsão de crescimento anual de 10-15% até 2025. Plataformas como JD.com, Tmall, Pinduoduo e Freshippo oferecem oportunidades únicas para alcançar o mercado consumidor chinês, possibilitando a construção de marcas e adaptação às preferências locais.

Europa e América do Norte

Na Alemanha, o mercado de ovos apresenta dinâmica interessante. O país é o quinto maior em receita no mercado de ovos global, com faturamento estimado em 4,7 bilhões de dólares em 2024. Apesar das mudanças regulatórias significativas, como a proibição de gaiolas convencionais e do abate de pintinhos, o consumo de ovos continua crescendo, atingindo 236 unidades per capita em 2023. Com uma taxa de autossuficiência de aproximadamente 70%, a Alemanha depende de importações para suprir sua demanda interna, criando oportunidades para fornecedores internacionais que atendam aos requisitos regulatórios da União Europeia.

No Canadá, a recente elevação de tarifas de importação nos EUA criou oportunidades para produtos brasileiros como carne de frango, mel e camarões. A imposição de tarifas de 25% sobre produtos canadenses por parte dos EUA, seguida de retaliação semelhante do Canadá, aumentou a competitividade de produtos brasileiros no mercado canadense, especialmente em setores como carne de aves e mel, onde o Brasil já possui presença estabelecida.

América Latina

Na América Latina, o Chile apresenta-se como um mercado promissor para exportação de tilápia brasileira. Desde 2017, o país tem adotado políticas para ampliar o consumo de pescado, como o programa “Del Mar a Mi Mesa”, que visa elevar o consumo per capita de 13 kg para 20 kg até 2027. O consumo per capita já aumentou para 16,8 kg em 2024, demonstrando crescimento contínuo. A competitividade da tilápia brasileira no mercado chileno é significativa, com preços aproximadamente quatro vezes inferiores aos de espécies mais acessíveis no mercado local, representando uma alternativa viável para diversificação da dieta chilena.

África e Oceania

Na África, Angola representa um mercado potencial para alimentos destinados a animais de companhia. Em 2024, o país importou US$ 19,3 milhões em alimentos preparados para animais, sendo US$ 7,6 milhões destinados a alimentos para cães ou gatos. Atualmente, Portugal domina este mercado com 85% de participação, enquanto o Brasil aparece em segundo lugar com apenas 4%. Esta baixa participação indica potencial significativo para ampliação das exportações brasileiras.

Na Austrália, o mercado de produtos de reciclagem animal oferece oportunidades para exportadores brasileiros, especialmente em farinhas de peixe, gorduras de origem animal e produtos não destinados ao consumo humano. A Austrália importou US$ 1,468 bilhão destes produtos em 2024, com o Brasil já figurando como principal fornecedor de produtos de origem animal não destinados ao consumo humano, com 25% do total importado pelo país.

Desafios Regulatórios e Exigências de Mercado

O relatório identifica diversos desafios regulatórios que exportadores brasileiros precisam superar para acessar mercados internacionais. Na União Europeia, por exemplo, produtos como ovos e ovoprodutos devem atender a rigorosos requisitos sanitários, incluindo planos de controle de resíduos aprovados e habilitação de estabelecimentos exportadores. A partir de setembro de 2026, será obrigatório o cumprimento do Regulamento (UE) 2023/905, que restringe o uso de antimicrobianos.

Na Argélia, o mercado de leite e derivados está aberto para o Brasil, com Certificado Sanitário Internacional acordado há mais de 15 anos. Contudo, exigências como análises de isótopos radioativos no leite exportado têm desencorajado a exploração deste mercado, levando o Ministério da Agricultura e Pecuária a negociar com autoridades argelinas a revisão destes parâmetros.

Em mercados islâmicos como Arábia Saudita e Argélia, produtos de origem animal devem atender às especificações Halal no quesito de certificação e rotulagem. Este requisito representa um desafio adicional, mas também uma oportunidade para exportadores brasileiros que já possuem sistemas de certificação Halal estabelecidos.

Tendências de Consumo e Inovação no Setor

O relatório identifica diversas tendências de consumo que estão moldando o mercado global de produtos de origem animal. Na Alemanha, por exemplo, há crescente valorização de ovos provenientes de sistemas alternativos de criação, como criação ao ar livre e orgânica. Esta tendência reflete preocupações com bem-estar animal e sustentabilidade, que estão influenciando os hábitos de consumo em diversos mercados desenvolvidos.

Na China, a digitalização do comércio de alimentos representa uma transformação significativa, com plataformas de e-commerce facilitando o acesso a produtos importados e oferecendo novas possibilidades de marketing e distribuição. O uso de tecnologias como blockchain para rastreabilidade e inteligência artificial para personalização de ofertas está redefinindo a experiência de compra e ampliando o alcance de produtos importados.

Em mercados emergentes como Bangladesh, o crescimento econômico está impulsionando a demanda por proteína animal, criando oportunidades para exportadores de insumos para produção animal, como farinhas e gorduras. Este cenário reflete uma tendência global de aumento no consumo de proteína animal em economias em desenvolvimento, à medida que a renda média da população cresce.

Conclusão

O Volume 3 do relatório AGRO INSIGHT fornece uma visão abrangente das oportunidades globais para produtos de origem animal brasileiros, destacando mercados estratégicos, tendências de consumo e desafios regulatórios. As análises apresentadas pelos adidos agrícolas brasileiros em diversos países confirmam o potencial significativo para expansão das exportações brasileiras, especialmente em mercados emergentes e em desenvolvimento.

Para aproveitar estas oportunidades, exportadores brasileiros precisarão desenvolver estratégias específicas para cada mercado, considerando particularidades culturais, regulatórias e logísticas. A adequação às exigências sanitárias, a certificação Halal para mercados islâmicos, e a utilização de plataformas digitais para mercados como a China serão elementos-chave para o sucesso nestes mercados.

A diversificação de destinos de exportação e a adaptação às tendências globais de consumo, como bem-estar animal, sustentabilidade e digitalização, serão essenciais para garantir a competitividade dos produtos brasileiros no cenário internacional cada vez mais complexo e exigente.

Referências

Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil. AGRO INSIGHT – Volume 3: Origem Animal. 2025. https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/relacoes-internacionais/adidos-agricolas/seja-um-exportador/agroinsight/AGROINSIGHTS03ANIMAL.pdf

AGROINSIGHT Vol 3 Origem Vegetal

Oportunidades Globais para Produtos Vegetais Brasileiros: Análise dos Relatórios dos Adidos Agrícolas

O mercado internacional de produtos agrícolas vegetais apresenta diversas oportunidades para os exportadores brasileiros, conforme análise detalhada do relatório AgroInsights. Este documento compilado pelos Adidos Agrícolas do Brasil no exterior oferece perspectivas valiosas sobre nichos de mercado, tendências de consumo e barreiras comerciais em diversos países, funcionando como um guia estratégico para o setor exportador.

Panorama dos Mercados Emergentes e Consolidados

África do Sul e o Potencial para Pulses Brasileiros

O mercado sul-africano de feijões apresenta características particulares que merecem atenção dos exportadores brasileiros. A produção anual média de feijões na África do Sul é de 70.400 toneladas, enquanto o consumo atinge 114.828 toneladas, evidenciando uma dependência significativa de importações. Embora o Brasil ocupe atualmente a nona posição entre os fornecedores, em 2024 houve um salto expressivo nas exportações brasileiras de feijões comuns para este destino, atingindo 25 milhões de dólares. Este crescimento foi impulsionado pela redução de estoques regionais e frustrações nas safras dos principais fornecedores da região sul da África.

As tarifas aplicadas aos pulses brasileiros variam de 0% a 15%, com o feijão comum sujeito a uma tarifa de 10% ad valorem. Esta estrutura tarifária, associada ao papel da África do Sul como hub logístico regional, abre perspectivas para o aumento das exportações brasileiras, especialmente em períodos de desabastecimento regional.

Angola e a Demanda por Óleo de Soja

O mercado angolano para óleos vegetais apresenta expressivo potencial, tendo importado 187,6 mil toneladas (US$ 271,3 milhões) em 2024. Dessas importações, 36% correspondem ao óleo de soja, majoritariamente suprido por Argentina, Portugal e Malásia. Apesar de o Brasil ter exportado apenas 1.696 toneladas de óleo de soja para Angola em 2023 (US$ 2,5 milhões), a possibilidade de aumento da participação brasileira é tangível.

Angola conta com refinarias de óleos vegetais que dependem de matéria-prima importada, uma vez que a produção local de soja ainda é incipiente, com apenas 20.000 hectares cultivados na safra 2024/2025. Esta configuração do mercado, somada a uma tarifa de importação de 10% para óleo bruto e 40% para óleo refinado, representa uma clara oportunidade para o produto brasileiro.

Arábia Saudita e o Crescimento do Consumo de Café

O mercado de café na Arábia Saudita tem experimentado crescimento significativo, com aumento anual de aproximadamente 4% entre 2016 e 2021, projetando-se um crescimento de 5% ao ano até 2026. O Brasil desponta como um dos principais fornecedores de café para este mercado, com exportações que atingiram aproximadamente US$ 73 milhões em 2024.

O aumento no consumo está associado a mudanças nos hábitos da população, especialmente entre os jovens, e à popularização de cafeterias “ocidentais” e cafés especiais. O sistema ITC Export Potential Map aponta que o Brasil tem potencial para crescimento adicional de US$ 38 milhões nas exportações de café em grãos à Arábia Saudita, representando uma variação potencial de 65% sobre os valores atuais.

Argélia e o Mercado de Banana

Uma oportunidade emergente para o Brasil surge no mercado argelino de bananas, em consequência do estremecimento das relações diplomáticas e comerciais entre a Argélia e o Equador. Em 2023, a Argélia importou cerca de US$ 135 milhões em bananas, quase integralmente provenientes do Equador. Contudo, a decisão de suspender as relações comerciais com este país trouxe dificuldades imediatas para os importadores argelinos.

O consumo de banana é expressivo na Argélia, com preço atual em torno de 250 dinares argelinos por quilo (US$ 1,85). As cargas de importação estão sujeitas a taxas ad-valorem, incluindo 30% de direitos alfandegários, além de outras taxas que totalizam cerca de 24% adicionais. A adidância agrícola brasileira já iniciou contatos com as autoridades argelinas para estabelecer os requisitos fitossanitários necessários para o acesso do produto brasileiro a este mercado.

Tendências em Mercados Asiáticos

China e a Expansão do Mercado de Café

O mercado chinês de café tem crescido expressivamente, movimentando aproximadamente US$ 23,6 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual de 15%. O consumo de café subiu 150% na última década, podendo chegar a 6,3 milhões de sacas na safra 2024/25. Em 2023, as exportações brasileiras para o mercado chinês ultrapassaram pela primeira vez a marca de 1 milhão de sacas, tornando a China o sexto maior importador de café do Brasil.

O Brasil é o principal fornecedor de café não torrado (variedade arábica) para a China, com 36% de participação, mas enfrenta desafios nos segmentos de café torrado e solúvel, onde países asiáticos dominam graças a acordos preferenciais. As tarifas aplicadas ao café brasileiro variam de 8% para café não torrado a 15% para café torrado, enquanto países da ASEAN se beneficiam de tarifas reduzidas. Esta situação exige que o Brasil adote estratégias focadas em qualidade, sustentabilidade e certificação de origem para manter sua competitividade.

Austrália e as Oportunidades para o Açaí

O mercado australiano de açaí tem se expandido ao longo das últimas duas décadas, impulsionado pelo crescente interesse em produtos saudáveis e pelo alto poder aquisitivo local. O produto já é amplamente encontrado em supermercados, lojas de produtos naturais e plataformas de e-commerce, nas formas de pó, polpa congelada, suplementos e cosméticos premium.

O público tradicional do açaí na Austrália é composto por consumidores preocupados com a saúde, incluindo profissionais ativos e aposentados, mas recentemente o produto passou a atrair também jovens e usuários de redes sociais. O mercado tem sido impulsionado pelo crescimento das “Acai Bowls Shops”, que movimentaram cerca de US$ 665,4 milhões em 2024. Embora não haja tarifas aplicáveis à importação, as exigências sanitárias australianas são rigorosas, demandando certificados sanitários emitidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Bangladesh e o Mercado de Castanhas e Nozes

O mercado de castanhas e nozes em Bangladesh apresenta potencial significativo, especialmente durante o Ramadã, quando o consumo desses produtos aumenta consideravelmente. Em 2024, o país importou cerca de US$ 40 milhões em castanhas e nozes, sendo o Brasil um fornecedor com potencial de expansão.

As exportações brasileiras de castanhas e nozes totalizaram R$ 89,5 milhões em 2024, incluindo castanha de caju, castanha-do-Pará e nozes macadâmia. Entretanto, as elevadas tarifas aplicadas por Bangladesh (entre 48% e 94,32%, dependendo do produto) representam um desafio inicial. A adidância agrícola em Daca destaca que, apesar dessas barreiras, o potencial do mercado merece ser mais bem explorado, especialmente considerando a população de aproximadamente 180 milhões de habitantes.

Mercados das Américas

Canadá e as Novas Oportunidades Criadas por Barreiras Comerciais

Um cenário peculiar se desenha no Canadá após a recente imposição de tarifas retaliatórias de 25% sobre US$ 30 bilhões em mercadorias importadas dos EUA, em resposta às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Esta situação cria oportunidades para produtos brasileiros como café, chás, açúcar, suco de laranja, arroz, temperos, frutas, legumes, chocolates, óleos e cereais, entre outros.

O Canadá é o segundo mercado para as exportações agrícolas dos EUA, com vendas de US$ 28,4 bilhões em 2023. A estratégia canadense visa reduzir as importações de produtos americanos com o menor impacto inflacionário possível, abrindo espaço para fornecedores alternativos como o Brasil. Produtos como açúcar de cana (US$ 751,8 milhões exportados pelo Brasil em 2024) e suco de laranja congelado (US$ 68 milhões) já demonstram forte presença brasileira neste mercado.

Costa Rica e o Sucesso do Arroz Brasileiro

O comércio bilateral entre Brasil e Costa Rica atingiu o valor recorde de 722 milhões de dólares em 2024. O arroz foi o principal produto exportado pelo Brasil, contribuindo com 16,74% das exportações totais brasileiras para aquele país e atingindo o valor de 97 milhões de dólares. Em 2023, 70% do arroz importado pela Costa Rica era de origem brasileira.

O arroz é um alimento fundamental na dieta costarriquenha, presente em pratos tradicionais como “Gallo Pinto” e “Casado”. A recente redução da tarifa de importação de 35% para 4% no caso do arroz beneficiado e 3,5% para o arroz em casca, conhecida como “rota do arroz”, beneficia o produto brasileiro e apresenta uma excelente oportunidade para manter ou aumentar a participação no mercado local.

Oportunidades em Mercados Específicos

Coreia do Sul e o Mercado de Etanol

Em 2024, a Coreia do Sul importou US$ 286 milhões (346.456 toneladas) de etanol, sendo Brasil e EUA os principais fornecedores, com participação combinada de 72% do volume total. A competitividade brasileira varia conforme o tipo de etanol e as tarifas aplicadas: o Brasil domina o mercado de etanol dos códigos tarifários 2207.10.1000 (97,5% de participação) e 2207.10.9010 (82,5%), enquanto os EUA lideram nos códigos 2207.10.9090 e 2207.20 (ambos com 88% de participação).

Para 2025, o governo sul-coreano estabeleceu uma quota tarifária emergencial de 160.000 kl para o etanol do código HS 2207.10.1000, com tarifa zero para quantidades dentro desse limite, representando uma oportunidade adicional para exportadores brasileiros.

Egito e o Gergelim Brasileiro

O mercado egípcio de gergelim oferece oportunidades para o Brasil, considerando que o país foi o nono maior importador mundial em 2023, com importações de US$ 100 milhões. Tradicionalmente, o Sudão dominava esse mercado com 77% de participação, mas a guerra civil que assola o país desde 2023 reduziu significativamente sua capacidade de fornecimento.

As exportações de gergelim do Brasil ao Egito vêm registrando crescimento consistente nos últimos anos (2022 a 2024). Uma vantagem competitiva importante é que o Egito aplica tarifa zero ao gergelim de todas as origens, tornando fatores como qualidade e preço os principais determinantes da competitividade. O produto é amplamente utilizado na produção de alimentos típicos da cultura árabe, como o “tahine” e o “halawa spread”.

Emirados Árabes Unidos e os Produtos Orgânicos

O mercado de alimentos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos foi avaliado em US$ 44,67 milhões em 2024 e deve crescer para US$ 51,23 milhões até 2030, com uma taxa composta de crescimento anual de 4,62%. Esta demanda crescente é impulsionada por fatores como maior conscientização do consumidor, aumento da população expatriada e preferência por produtos alimentícios saudáveis e sustentáveis.

O Brasil, como importante produtor de alimentos orgânicos, possui oportunidade estratégica para expandir sua presença nesse mercado, particularmente em segmentos premium como frutas tropicais orgânicas. As recomendações incluem investir em certificações internacionalmente reconhecidas, estabelecer parcerias com distribuidores locais e desenvolver estratégias logísticas eficientes para preservar a qualidade dos produtos.

Considerações para Exportadores Brasileiros

O panorama global apresenta diversas oportunidades para produtos vegetais brasileiros, mas também exige estratégias específicas para cada mercado. A qualidade e a capacidade de atender às exigências sanitárias e de certificação são fatores determinantes para o sucesso em mercados mais exigentes, como Austrália, União Europeia e países asiáticos.

Para mercados emergentes, como Bangladesh e países africanos, o desenvolvimento de parcerias comerciais e o entendimento das especificidades culturais locais podem ser diferenciais importantes. Já em mercados onde o Brasil já possui presença consolidada, como Costa Rica (arroz) e Arábia Saudita (café), o foco deve ser em manter e ampliar a participação através de inovação e diferenciação de produtos.

As barreiras tarifárias e não-tarifárias continuam sendo desafios importantes em diversos mercados, mas situações geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e Canadá ou o rompimento de relações entre Argélia e Equador, podem criar janelas de oportunidade para produtos brasileiros.

Conclusão

As análises dos adidos agrícolas brasileiros revelam um cenário de múltiplas oportunidades para a expansão das exportações de produtos vegetais brasileiros. Os mercados apresentam diferentes graus de maturidade e exigências específicas, demandando abordagens customizadas por parte dos exportadores.

Particularmente promissores são os mercados de café na China e Arábia Saudita, açaí na Austrália, etanol na Coreia do Sul, banana na Argélia e arroz na Costa Rica. A crescente demanda por produtos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos e a abertura de oportunidades no Canadá devido a questões geopolíticas também merecem atenção especial dos exportadores brasileiros.

Para aproveitar plenamente estas oportunidades, é fundamental o acompanhamento contínuo das tendências de mercado, requisitos regulatórios e preferências de consumo em cada país, além do estabelecimento de parcerias estratégicas com importadores e distribuidores locais.

Fontes:

  1. AGROINSIGHTS03VEGETAL20251.pdf
  2. AgroInsight — Ministério da Agricultura e Pecuária
Ayan Capital obtém £25 milhões para democratizar o financiamento Halal no Reino Unido

Ayan Capital obtém £25 milhões para democratizar o financiamento Halal no Reino Unido

A Ayan Capital, empresa britânica de financiamento de veículos Halal, acaba de assegurar £25 milhões em forma de financiamento em conformidade com a Sharia, representando um importante avanço para o setor de finanças islâmicas no Reino Unido. Este aporte, obtido da Partners for Growth (PFG), uma empresa global de crédito privado com histórico de 20 anos apoiando empresas de tecnologia e fintech, será utilizado para acelerar o crescimento, expandir capacidades de subscrição baseadas em tecnologia e democratizar o acesso a produtos financeiros Halal no mercado britânico. O financiamento baseia-se nos princípios de Ijara wa Iqtina (arrendamento e propriedade), demonstrando o compromisso da empresa com os valores islâmicos em suas operações financeiras.

O cenário das finanças islâmicas no Reino Unido

O mercado de finanças islâmicas no Reino Unido vem apresentando crescimento significativo, embora ainda represente apenas uma pequena fração do sistema financeiro total do país. Os ativos bancários islâmicos no Reino Unido aumentaram 26% em 2023, chegando a $8,2 bilhões, com a Fitch Ratings projetando um crescimento para $15 bilhões no médio prazo. Este potencial de expansão está diretamente relacionado às mudanças demográficas, uma vez que a população muçulmana britânica deve alcançar 10 milhões até 2050, segundo algumas estimativas.

Apesar da demanda crescente, o setor bancário islâmico permanece significativamente subatendido, representando apenas 0,1% do total de ativos bancários do país, mesmo com 82% dos muçulmanos britânicos buscando produtos em conformidade com a Sharia. Esta disparidade evidencia a oportunidade de mercado que a Ayan Capital está buscando explorar, oferecendo alternativas financeiras éticas e acessíveis para um segmento populacional em crescimento que frequentemente enfrenta limitações no acesso a produtos financeiros tradicionais.

Modelo de negócios inovador com foco tecnológico

A Ayan Capital opera no mercado de financiamento de veículos de £21,7 bilhões no Reino Unido, setor ainda dominado por empresas tradicionais que estão sob crescente escrutínio regulatório. Diferentemente das instituições financeiras convencionais, a empresa fornece financiamento Halal para veículos comerciais, atendendo principalmente motoristas de aplicativos como Uber e Bolt, além de empresários que procuram alternativas em conformidade com a Sharia para adquirir carros com baixa emissão de carbono.

O diferencial competitivo da Ayan Capital está no seu modelo baseado em tecnologia e livre de comissões, que coloca o cliente em primeiro lugar. A empresa financia diretamente os usuários, independentemente de onde decidam comprar seus veículos, eliminando intermediários e potencialmente reduzindo custos. Este enfoque tecnológico não apenas simplifica o processo para os clientes, mas também permite que a empresa mantenha controles rigorosos de qualidade de crédito, como evidenciado pela taxa de 0% de empréstimos inadimplentes, mesmo durante um período de rápida expansão.

Expansão além do financiamento de veículos

Recentemente, a Ayan Capital ampliou seu portfólio com o lançamento do Ayan Pay, um serviço de financiamento sem juros com prazo de 12 meses, abrangendo reparos domésticos, renovações, reparos de automóveis e compras de móveis. Esta diversificação representa um passo estratégico para a empresa, permitindo atender mais amplamente às necessidades financeiras dos consumidores muçulmanos britânicos, que frequentemente enfrentam dificuldades para encontrar produtos financeiros compatíveis com seus princípios religiosos.

A expansão para o financiamento de estilo de vida através do Ayan Pay, oferecendo planos flexíveis de pagamento para reparos de carros e melhorias domésticas de até £20.000 ao longo de 12 meses, demonstra o compromisso da empresa em criar um ecossistema financeiro Halal abrangente. Esta abordagem holística às necessidades financeiras dos consumidores posiciona a Ayan Capital não apenas como um financiador de veículos, mas como um potencial provedor de soluções financeiras Halal em múltiplos aspectos da vida cotidiana.

Metas ambiciosas e visão de longo prazo

O crescimento recente da Ayan Capital tem sido notável, tendo mais que dobrado sua emissão de financiamentos no último trimestre, com um crescimento de 2,2 vezes enquanto mantinha uma taxa de inadimplência de 0%. Este desempenho impressionante demonstra a eficácia de suas tecnologias de subscrição e expertise no mercado. O novo aporte de £25 milhões segue uma rodada Pré-Série A de £3,4 milhões obtida recentemente, evidenciando a confiança dos investidores no modelo de negócios da empresa.

Com o novo financiamento, a Ayan Capital estabeleceu metas agressivas de crescimento, visando atingir £25 milhões em financiamentos em 2025 e quadruplicar esse valor para £100 milhões em 2026. A longo prazo, a empresa planeja solicitar uma licença bancária no Reino Unido, com o objetivo de se tornar uma referência no setor bancário islâmico do país. Esta ambição de se tornar um banco digital islâmico representa o próximo passo lógico na evolução da empresa, permitindo oferecer uma gama mais ampla de serviços financeiros em conformidade com a Sharia.

Experiência comprovada da liderança

A Ayan Capital está sendo construída sobre uma base de experiência comprovada. Seu co-fundador e CEO, Abdullo Kurbanov, também co-fundou o Alif Bank na Ásia Central, instituição que testemunhou um crescimento impressionante em suas transações digitais, aumentando 30 vezes em apenas três anos e meio, atendendo mais de quatro milhões de clientes. Esta trajetória de sucesso anterior confere credibilidade aos ambiciosos planos de crescimento da Ayan Capital.

“Nossa missão é tornar o financiamento Halal mais acessível em todos os aspectos – custo, tecnologia e experiência do cliente. Escolher uma opção Halal não deveria significar pagar mais”, afirma Kurbanov. “Embora ainda estejamos no início de nossa jornada, estamos sinceramente comprometidos em construir um sistema financeiro aberto a todos – um que não seja apenas Halal, mas também mais competitivo, conveniente e inovativo que as alternativas convencionais.”

Conclusão

O financiamento de £25 milhões obtido pela Ayan Capital representa mais que apenas capital para expansão; sinaliza o crescente reconhecimento do potencial do mercado de finanças islâmicas no Reino Unido. Ao combinar princípios financeiros islâmicos com tecnologia avançada e foco no cliente, a empresa está redefinindo o que o financiamento Halal pode significar no ecossistema financeiro moderno.

Em um setor financeiro cada vez mais diversificado, a Ayan Capital exemplifica como instituições especializadas podem atender às necessidades específicas de segmentos populacionais tradicionalmente subatendidos, preenchendo lacunas deixadas pelos grandes bancos convencionais. Se a empresa conseguir executar sua visão com sucesso, poderá não apenas crescer substancialmente, mas também contribuir significativamente para a maior inclusão financeira da comunidade muçulmana britânica, democratizando o acesso a produtos financeiros Halal acessíveis e tecnologicamente avançados.

Referências e fontes

  1. UK’s Ayan Capital secures £25m to democratize halal financing
  2. Ayan Capital secures financing, aims to become UK leader in Islamic banking
  3. Fresh funding brings UK Islamic fintech start-up one step closer to banking dream
  4. Ayan Capital secures Shariah-compliant financing of up to £25M
  5. News | Salaam Gateway – Global Islamic Economy Gateway
  6. Ayan Capital Secures £25 Million in Shariah-Compliant Funding to Expand Halal Finance Offerings
Muçulmanos realizando oração em praça de Londres

O Ramadã Impulsiona a Economia do Reino Unido em £1,3 Bilhão

O Impacto Econômico do Ramadã na Economia Britânica

O Ramadã, além de seu profundo significado espiritual para milhões de muçulmanos, emerge como um poderoso catalisador econômico no Reino Unido, gerando entre £800 milhões e £1,3 bilhão anualmente para a economia britânica. Este fenômeno, revelado por um estudo recente do think tank Equi, demonstra como o mês sagrado transcende seu caráter religioso para se tornar um período de intensa atividade econômica, impulsionando diversos setores e fortalecendo a coesão social. Com aproximadamente 2,6 milhões de muçulmanos britânicos adultos observando o jejum em todo o país, o Ramadã provoca transformações significativas nos padrões de consumo, nas tendências de varejo e nas doações beneficentes, consolidando-se como uma força econômica que merece atenção tanto do setor privado quanto dos formuladores de políticas públicas.

A Dimensão Econômica do Ramadã no Reino Unido

O relatório elaborado pelo Dr. Mamnun Khan identifica quatro pilares fundamentais que sustentam a economia do Ramadã: gastos no varejo, investimentos em marketing, aprimoramentos na cadeia de valor dos negócios e contribuições caritativas. O impacto econômico do Ramadã manifesta-se através de múltiplas atividades, incluindo compras no varejo, doações beneficentes, vendas em supermercados, compras para o Eid, voluntariado e outras iniciativas que, em conjunto, não apenas impulsionam o crescimento econômico, mas também fortalecem o tecido social britânico. Esse fenômeno representa um exemplo impressionante de como práticas religiosas podem transcender a esfera espiritual para gerar consequências econômicas tangíveis e mensuráveis.

A magnitude desse impacto torna-se ainda mais evidente quando comparada com outros setores da economia britânica. Com valores estimados entre £800 milhões e £1,3 bilhão, a economia do Ramadã pode agora superar indústrias tradicionais como a de pesca marítima do Reino Unido, que gerou aproximadamente £1,1 bilhão em 2023. Mais impressionante ainda é observar que a taxa de crescimento da economia do Ramadã provavelmente supera o crescimento geral da economia britânica, que registrou apenas 0,1% no último trimestre de 2024 e um total de 1,1% ao longo do ano, segundo dados do Escritório de Responsabilidade Orçamentária.

Transformações nos Padrões de Consumo Durante o Mês Sagrado

O Ramadã provoca uma transformação profunda nos hábitos de consumo da comunidade muçulmana britânica, o que, por sua vez, impacta significativamente o setor de varejo. Os consumidores muçulmanos gastam entre £428 milhões e £642 milhões em alimentos, vestuário, presentes e viagens durante este período. Apenas os supermercados registram vendas estimadas entre £228 milhões e £342 milhões, um aumento notável de duas a três vezes em comparação com a década anterior. Este crescimento extraordinário pode ser atribuído a três fatores principais: o aumento da população muçulmana no Reino Unido, a crescente mobilidade socioeconômica desta comunidade e a evolução das preferências de consumo entre os muçulmanos mais jovens.

O crescimento exponencial da economia do Ramadã contrasta nitidamente com a expansão mais modesta do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido, que cresceu aproximadamente 11,8% desde 2015, segundo pesquisas da Câmara dos Comuns. Esta disparidade evidencia o dinamismo e a importância crescente dos gastos relacionados ao Ramadã no contexto econômico britânico mais amplo, transformando o que antes era considerado um nicho de mercado em um momento de varejo significativo no calendário comercial do país.

Expansão do Mercado de Produtos Halal e Adaptação das Cadeias de Suprimentos

O Ramadã atua como um catalisador importante no estímulo aos supermercados para aumentarem seu estoque de produtos com certificação Halal, desde carnes e aves frescas até refeições prontas e lanches ao longo de todo o ano. Esta expansão exige que as cadeias de suprimentos se adaptem adequadamente, necessitando investimentos significativos por parte dos supermercados em abastecimento, logística e infraestrutura. Os supermercados e varejistas independentes de alimentos investem uma soma estimada entre £159 milhões e £274 milhões na cadeia de valor do Ramadã, demonstrando o reconhecimento crescente do poder de compra da comunidade muçulmana.

Grandes redes de supermercados e varejistas convencionais no Reino Unido têm aprimorado suas ofertas para o Ramadã ao longo da última década. Ao lado da extensa rede de 47.000 lojas de conveniência do país, esses varejistas geram entre £228 milhões e £342 milhões em vendas diretas durante o Ramadã, enquanto investem substancialmente em suas cadeias de suprimentos para atender às demandas específicas dos consumidores muçulmanos neste período. O relatório da Equi também destaca o impacto positivo do desenvolvimento de marcas mais “inclusivas” por alguns varejistas, que se tornam mais propensos a se beneficiar do substancial “poder de compra muçulmano” durante este período.

Vestuário, Presentes e Hospitalidade Durante o Ramadã e o Eid

Os gastos da comunidade muçulmana britânica se estendem muito além dos alimentos. Estima-se que os muçulmanos britânicos despendam entre £200 milhões e £300 milhões em roupas, presentes e viagens durante o Ramadã e o Eid (Celebração do fim do Ramadã), representando uma contribuição significativa para setores como o de moda e turismo. Varejistas de vestuário como H&M e Asos aderiram a esta tendência, lançando coleções de moda modesta especificamente para o Ramadã e o Eid em 2025, enquanto a IKEA introduziu sua primeira coleção de decoração temática para o Ramadã, GOKVÄLLÄ, apresentando peças de decoração e utensílios adaptados para o iftar (quebra de jejum).

Paralelamente, as mesquitas em toda a Grã-Bretanha cumprem um papel social e econômico vital durante o Ramadã, servindo refeições gratuitas para quebrar o jejum (iftar) cujo valor é estimado em £15 milhões durante o mês sagrado. Este aspecto da economia do Ramadã ilustra como as práticas religiosas podem gerar não apenas atividade econômica, mas também promover inclusão social e apoio comunitário. Em algumas regiões, como Bradford, os impactos econômicos são ainda mais pronunciados, com estimativas de que uma família média de cinco ou seis pessoas possa gastar mais de £3.000 ao longo de um fim de semana de Eid, incluindo £1.200 em roupas novas e até £500 em compras de alimentos.

Contribuições Caritativas e Impacto Social do Ramadã

O espírito de generosidade inerente ao mês sagrado direciona uma quantia estimada de £359 milhões para doações caritativas. Este aspecto da economia do Ramadã transcende o valor monetário, promovendo coesão social e solidariedade. O Business Secretary Jonathan Reynolds, em uma celebração especial de iftar, reconheceu o “notável aumento nas doações das comunidades muçulmanas a cada ano” durante o Ramadã, sinalizando uma crescente conscientização governamental sobre as significativas contribuições filantrópicas associadas ao mês sagrado.

Além do impacto económico direto, o Ramadã desempenha um papel crucial no fortalecimento do tecido social das comunidades britânicas. Eventos públicos, como iftars em larga escala, contribuem para aproximar pessoas, promovendo a inclusividade e o diálogo entre diversos contextos culturais. Esta dimensão social, embora difícil de quantificar em termos monetários, representa um valor substancial para a sociedade britânica como um todo, facilitando a integração e o entendimento intercultural.

O Potencial Inexplorado da Economia do Ramadã

O estudo enfatiza que a economia do Ramadã permanece uma área subexplorada na discussão de políticas, representando uma oportunidade não realizada para canalizar essas mudanças em cadeias de suprimentos locais fortalecidas, impulsionar pequenas empresas e incentivar hábitos de consumo mais sustentáveis. O Professor Javed Khan OBE, diretor administrativo da Equi, defende que o governo e as empresas ajudem a aproveitar os benefícios econômicos e sociais do mês sagrado, e que campanhas como “Compre Britânico” também incluam produtos Halal britânicos.

O relatório da Equi faz diversas recomendações importantes, instando o governo a reconhecer formalmente e integrar a economia do Ramadã em seu planejamento econômico, fornecer apoio direcionado para o crescimento de empresas muçulmanas britânicas e emitir orientações claras aos empregadores sobre as melhores práticas para apoiar seus funcionários muçulmanos durante o Ramadã. Estas recomendações sublinham o potencial para benefícios econômicos e sociais ainda maiores se os gastos relacionados ao Ramadã e as necessidades da comunidade muçulmana forem estrategicamente considerados dentro de estruturas nacionais mais amplas.

Sustentabilidade e Desafios Futuros

Apesar dos benefícios econômicos significativos, o Ramadã também apresenta desafios que precisam ser abordados para maximizar seu impacto positivo. As estatísticas sobre o desperdício de alimentos durante o período são alarmantes: o desperdício alimentar na Grã-Bretanha aumenta de uma média de 2,7 kg por pessoa para 4,5 kg por pessoa durante o Ramadã, com 66% dos muçulmanos britânicos descartando sobras de iftar no dia seguinte. Esta realidade contradiz os princípios islâmicos de gratidão (shukr) e o reconhecimento das bênçãos (barakah) concedidas ao mundo.

Felizmente, iniciativas sustentáveis estão ganhando força. A organização londrina Green Deen Tribe, por exemplo, realiza uma série de iftars em Londres centrados em três temas principais: redução de resíduos plásticos não reutilizáveis, diminuição do consumo de carne e redução do desperdício de alimentos. Estas iniciativas exemplificam como os princípios islâmicos podem ser harmonizados com práticas sustentáveis contemporâneas, oferecendo um modelo para a evolução futura da economia do Ramadã.

O Futuro da Economia do Ramadã no Reino Unido

A economia do Ramadã no Reino Unido representa uma força dinâmica e em crescimento, com potencial para expandir ainda mais sua influência nos próximos anos. Com o aumento da população muçulmana e o crescente reconhecimento do poder de compra desta comunidade, espera-se que mais empresas se adaptem para atender às necessidades específicas dos consumidores durante este período sagrado, criando novas oportunidades de mercado e inovação.

O crescimento desta economia também tem o potencial de influenciar positivamente as relações interculturais, à medida que práticas e tradições associadas ao Ramadã se tornam mais visíveis e integradas na sociedade britânica mais ampla. Ao mesmo tempo, o aumento da conscientização sobre questões de sustentabilidade e responsabilidade social dentro da comunidade muçulmana pode levar a uma evolução da economia do Ramadã em direção a práticas mais sustentáveis e eticamente conscientes.

Em um contexto econômico mais amplo, enquanto o Reino Unido enfrenta desafios de crescimento, a robusta economia do Ramadã oferece um exemplo inspirador de como tradições culturais e religiosas podem gerar valor econômico tangível, beneficiando não apenas as comunidades diretamente envolvidas, mas a sociedade como um todo. O reconhecimento e o apoio adequados a esta dimensão econômica podem transformar o Ramadã em um modelo de crescimento inclusivo que beneficia todos os setores da sociedade.

Referências

  1. Relatório: Ramadã contribui com £1,3 bilhão para a economia do Reino Unido – 5Pillars https://5pillarsuk.com/2025/03/28/report-ramadan-contributes-1-3-billion-to-uk-economy/
  2. Ramadã impulsiona a economia do Reino Unido em até £1,3 bilhão, revela relatório – Mustaqbal Media https://mustaqbalmedia.net/en/ramadan-boosts-uk-economy-by-up-to-1-3-billion-report-finds/
  3. Ramadã vale até £1,3 bilhões para a economia do Reino Unido — e cresce rapidamente – Hyphen Online https://hyphenonline.com/2025/03/31/ramadan-economy-growth-uk-1-3bn-equi/
  4. Gastos do Ramadã no Reino Unido aumentam para £1,3 bilhão anualmente – Halal Times https://www.halaltimes.com/uk-ramadan-spending-surges-to-1-3-billion-annually/
  5. Muçulmanos do Reino Unido combatem o desperdício de alimentos do Ramadã com iftars éticos – Muslim Climate Watch https://muslimclimatewatch.com/uk-muslims-ramadan-food-waste-ethical-iftars/
  6. Ramadã contribui com até £1,3 bilhão para a economia do Reino Unido – Shamsi Design https://www.shamsidesign.co.uk/blogs/ramadan-contributes-ps1-3-billion-to-uk-economy

vietnam-expansao-mercado-halal-2025

Vietnam Intensifica Reformas para Expandir sua Presença no Mercado Halal

O Vietnã está adotando medidas estratégicas para fortalecer sua inserção no mercado global Halal, avaliado em aproximadamente US$ 3 trilhões. Especialistas e autoridades locais têm destacado a necessidade de desenvolver um ecossistema robusto de produtos Halal, alinhado às normas internacionais de qualidade e certificação. Este movimento busca aproveitar o vasto potencial do país em matérias-primas e sua crescente relevância como destino turístico internacional.

Potencial Econômico e Recursos Naturais

Matérias-Primas para Produção Halal

O Vietnã possui uma rica diversidade de matérias-primas adequadas para a produção Halal, incluindo café, arroz, frutos do mar, produtos de aquicultura, especiarias, nozes, vegetais e frutas. Estes recursos oferecem uma base sólida para a fabricação de produtos certificados, especialmente em setores como alimentos e bebidas. Apesar disso, atualmente o país atende apenas 10% da demanda global por produtos Halal, evidenciando uma lacuna significativa que pode ser explorada por produtores locais.

Crescimento Econômico Sustentado

Com uma taxa média de crescimento do PIB entre 6% e 7% ao ano, o Vietnã apresenta um cenário econômico favorável para o desenvolvimento de produtos Halal. Além disso, sua posição como um dos principais destinos turísticos internacionais desde 2018 tem impulsionado os setores de hospitalidade e serviços alimentares, com aumento na demanda por restaurantes e serviços de catering Halal.

Desafios Estruturais e Certificação

Necessidade de Diretrizes Claras

Embora o país possua grande potencial no mercado Halal, desafios relacionados à certificação ainda persistem. Muitos mercados exigem certificação por terceiros reconhecidos internacionalmente, em vez de aceitar declarações diretas das empresas vietnamitas. Isso tem gerado barreiras comerciais que limitam o alcance dos produtos locais em mercados estratégicos como o Oriente Médio e a Europa.

Investimentos Estrangeiros

Autoridades vietnamitas têm incentivado investidores estrangeiros a estabelecerem instalações compatíveis com normas Halal no país. A recente assinatura do Acordo de Parceria Econômica Abrangente (CEPA) entre Vietnã e Emirados Árabes Unidos promete facilitar a exportação de produtos certificados para a região do Golfo, ampliando as oportunidades comerciais para empresas vietnamitas.

Estratégias para Expansão

Desenvolvimento de Marcas Fortes

A criação de marcas Halal reconhecidas globalmente é vista como uma prioridade estratégica para o Vietnã. Diversificar mercados-alvo e estabelecer redes promocionais claras são ações recomendadas por especialistas para aumentar a competitividade dos produtos vietnamitas no cenário internacional.

Reformas na Estrutura Legal

Melhorias na estrutura legal relacionada à certificação Halal estão sendo discutidas como forma de simplificar os procedimentos e aumentar a transparência no processo regulatório. Estas reformas são essenciais para atrair mais investimentos e consolidar o país como um importante player no mercado global Halal.

Perspectivas Futuras

Com reformas estruturais em andamento e um foco crescente na qualidade e certificação, o Vietnã está bem posicionado para expandir sua presença no mercado Halal nos próximos anos. O aproveitamento pleno de suas matérias-primas e a construção de um ecossistema eficiente podem transformar o país em um líder regional neste segmento estratégico.