O mercado de alimentos halal está em crescimento global, impulsionado pela demanda de consumidores muçulmanos e pela busca por alimentos que seguem padrões éticos e seguros. A certificação halal, que assegura que os produtos são conformes com os princípios islâmicos, depende de uma avaliação rigorosa de todos os ingredientes utilizados no processamento dos alimentos. Este artigo resume os requisitos gerais para ingredientes halal, com base nas normas internacionais OIC/SMIIC 24:2020, GSO 2055-1, GSO 2500 e SMIIC 1.
1. Definição de Ingredientes Halal
De acordo com a GSO 2055-1:2015 e SMIIC 1, os ingredientes halal são aqueles permitidos para consumo de acordo com os princípios da Sharia. Isso significa que todos os ingredientes devem ser provenientes de fontes permitidas, como plantas e animais abatidos de acordo com os preceitos islâmicos. Ingredientes de origem animal, como carne, gordura e enzimas, só podem ser utilizados se sua origem e método de abate estiverem em conformidade com a lei islâmica.
Os ingredientes halal não devem conter impurezas ou substâncias proibidas (haram), como álcool ou derivados de suínos, conforme as diretrizes da GSO 2500. Esses ingredientes também devem ser processados, armazenados e transportados de maneira que evite a contaminação cruzada com produtos não halal, assegurando a integridade do produto durante toda a cadeia de suprimentos.
2. Substâncias Proibidas (Haram)
As substâncias proibidas, ou haram, são rigorosamente excluídas de qualquer produto halal. Conforme as normas GSO 2055-1 e SMIIC 1, os seguintes ingredientes são os mais comuns que devem ser evitados:
Carne de Porco e Derivados: A carne suína e qualquer ingrediente derivado de suínos, como gelatina suína ou enzimas, são considerados haram e não podem ser utilizados em alimentos halal.
Álcool: O álcool, em todas as suas formas, é proibido quando utilizado como ingrediente principal. No entanto, a OIC/SMIIC 24:2020 permite pequenas quantidades de álcool residual em alimentos quando usado como solvente, desde que sua concentração no produto final não exceda 0,5% e que o álcool não seja proveniente de fontes proibidas, como uvas ou tâmaras (ou de qualquer outra fonte usada para consumo de bebidas alcoólicas).
Animais Não Abatidos de Acordo com a Sharia: De acordo com a SMIIC 1, a carne de animais que não foram abatidos segundo os preceitos islâmicos é considerada haram, incluindo o uso de quaisquer derivados desses animais.
Além disso, ingredientes que contenham sangue, aditivos que imitem produtos proibidos (como aromas que imitam o sabor de carne de porco), ou produtos que foram contaminados com substâncias haram durante o transporte ou processamento também são excluídos.
3. Substâncias Duvidosas (Mashbooh)
Substâncias duvidosas, conhecidas como mashbooh, são ingredientes cuja conformidade com os preceitos islâmicos é incerta. Normas como a GSO 2055-1 e SMIIC 1 recomendam que esses ingredientes sejam evitados até que sua conformidade possa ser confirmada.
A GSO 2500 exige que os fabricantes verifiquem a origem e o método de produção de qualquer ingrediente que possa ser classificado como mashbooh. Um exemplo clássico seria a gelatina, que pode ser derivada tanto de bovinos (halal) quanto de suínos (haram). Se a fonte de um ingrediente não puder ser confirmada como halal, ele deve ser considerado mashbooh e evitado.
Essa prática está alinhada ao princípio de precaução islâmica, que visa evitar que os consumidores muçulmanos ingiram substâncias proibidas por engano. Para confirmar a conformidade, os fabricantes podem recorrer a certificações halal, auditorias de fornecedores, ou testes laboratoriais, como análises de DNA para verificar a origem animal de um ingrediente.
4. Verificação e Certificação de Ingredientes
As normas SMIIC 1 e GSO 2055-1 exigem que todos os ingredientes utilizados em produtos halal sejam verificados quanto à sua conformidade com os preceitos islâmicos. Essa verificação deve ser feita por meio de certificação halal e, quando necessário, testes laboratoriais.
Certificação Halal
Os fornecedores de ingredientes devem apresentar certificados halal válidos, emitidos por uma entidade reconhecida, como estipulado nas normas GSO 2500 e SMIIC 1. Esses certificados garantem que os ingredientes atendem aos critérios estabelecidos pela Sharia e que foram produzidos, processados e transportados em conformidade com os requisitos halal. A certificação também deve ser renovada periodicamente, com auditorias regulares realizadas nos fornecedores para verificar a conformidade contínua.
Testes Laboratoriais
Quando a certificação halal não estiver disponível ou houver dúvidas sobre a origem de um ingrediente, a OIC/SMIIC 24:2020 recomenda a realização de testes laboratoriais para confirmar a conformidade. Esses testes podem incluir análises de DNA para identificar a presença de derivados de suínos ou testes químicos para detectar a presença de álcool em solventes.
Esses procedimentos garantem que os produtos finais atendam aos requisitos halal e são seguros para consumo.
5. Processamento e Segregação
Para manter a conformidade halal, o processamento e manuseio de ingredientes devem ser cuidadosamente gerenciados para evitar qualquer risco de contaminação cruzada com produtos não halal. As normas GSO 2055-1 e SMIIC 1 fornecem diretrizes claras sobre como essas operações devem ser conduzidas.
Segregação Física
Os ingredientes halal devem ser processados e armazenados separadamente de ingredientes não halal. Se a produção for realizada em instalações onde também são processados produtos não halal, como estipula a GSO 2055-1, os equipamentos e superfícies devem ser completamente limpos e higienizados antes do processamento dos alimentos halal.
A segregação também se aplica ao transporte e armazenamento. Ingredientes halal devem ser mantidos em compartimentos distintos durante o transporte para evitar a contaminação cruzada.
Boas Práticas de Higiene (GHP)
A aplicação de Boas Práticas de Higiene (GHP), conforme recomendado pela GSO 2055-1 e SMIIC 1, é essencial para garantir que os ingredientes halal sejam manuseados em condições seguras e limpas. Isso inclui a manutenção de equipamentos e superfícies de contato com alimentos, bem como a capacitação contínua de funcionários para evitar a contaminação cruzada com ingredientes não halal.
Além disso, os processos de auditoria e verificação devem ser realizados regularmente para garantir que os padrões de higiene estejam sendo mantidos.
6. Aditivos Alimentares
Os aditivos alimentares são amplamente utilizados na produção de alimentos processados e desempenham um papel importante na conformidade halal. Normas como a OIC/SMIIC 24:2020, GSO 2500 e GSO 2055-1 fornecem diretrizes específicas para garantir que os aditivos sejam compatíveis com os requisitos halal.
Aromatizantes
Aromatizantes utilizados em produtos halal devem ser provenientes de fontes halal e não conter álcool ou derivados de substâncias proibidas. Além disso, os aromatizantes sintéticos que imitam sabores proibidos, como carne de porco, são considerados não halal, mesmo que seus componentes sejam tecnicamente aceitáveis. Essa regra garante que os consumidores muçulmanos não sejam induzidos a erro sobre a natureza do produto.
Emulsificantes e Gelatinas
Emulsificantes e gelatinas são aditivos comumente usados em alimentos processados, e sua conformidade halal depende de sua origem. Como exigido pela GSO 2055-1 e SMIIC 1, esses aditivos devem ser provenientes de animais abatidos de acordo com os preceitos islâmicos ou de fontes vegetais. Gelatinas de origem suína são completamente proibidas, enquanto emulsificantes derivados de óleos animais devem ser verificados quanto à sua conformidade com os princípios halal.
Conclusão
Os requisitos para ingredientes halal, como descritos nas normas OIC/SMIIC 24:2020, GSO 2055-1, GSO 2500 e SMIIC 1, são rigorosos e abrangem desde a seleção de matérias-primas até o processamento e transporte. Garantir a conformidade halal envolve a verificação detalhada dos ingredientes, certificação adequada, auditorias periódicas e a aplicação de boas práticas de higiene. Esses procedimentos visam proporcionar segurança e confiança aos consumidores muçulmanos e promover transparência na produção de alimentos.
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